Marcelo campos e juvenal Juvêncio
O diretor da Globo Esporte, Marcelo Campos Pinto, proferiu um
duro discurso durante o Prêmio Craque Brasileirão. Ele cobrou mais
profissionalismo nas transmissões do futebol brasileiro, citou a Premier League
da Inglaterra como exemplo e deixou claro que a emissora vai cobrar privilégios
dos clubes, como revelou o UOL Esporte
na semana passada.
“Estive na semana passada na Soccerex
e me perguntaram por que o Brasil não é tão organizado. E por que pessoas não
credenciadas entram no gramado. Temos a missão de ter melhores gramados, e
fazer um credenciamento que permita a locomoção dos detentores dos direitos de
TV de forma clara e transparente, para que todo mundo cumpra o seu papel”,
afirmou.
A declaração de Campos Pinto,
realizada dentro de um evento organizado pela CBF, é um recado a mais dado pela
Globo aos clubes de que vai cobrar privilégios a partir da próxima temporada.
O UOL Esporte teve acesso ao
e-mail enviado pelo diretor da Globo Esporte aos presidentes dos clubes de
futebol cobrando privilégios que a TV Globo e o Sportv entendem ter direito na
cobertura jornalística da rotina de treinos e jogos.
O protesto global encaminhado por
Campos Pinto é um consolidado das reclamações de produtores e editores da TV
Globo e do Sportv. A cúpula editorial da empresa não aceita que as equipes de
reportagem tenham tão somente o mesmo acesso concedido a empresas que não detêm
direitos de transmissão, ou então que os repórteres e produtores não possam
fazer mais perguntas a técnicos e jogadores que os jornalistas concorrentes.
Além do recado aos presidentes dos
clubes, os jogadores também foram alvo do ‘pito’ público do dirigente global.
“A Globo vai investir mais de R$ 1,5 bilhão em competições de futebol no ano
que vem. Por isso se sente no dever de promover as marcas. Jogadores que dão
entrevista sem camisa e campos que não possuem espaço para divulgação do
patrocinador, em nada contribui”, reclamou.
Campos Pinto não deixou claro,
entretanto, se a emissora irá falar os nomes dos patrocinadores dos estádios
dos clubes ou dos campeonatos na próxima temporada. Em transmissões de outras
modalidades a emissora recebe críticas por não divulgar os nomes das equipes
que estão atrelados a patrocinadores (na Fórmula 1 a Red Bull vira RBR e no
vôlei a Unilever se transforma em Rio de Janeiro, por exemplo).
Sugestão e comentários de Ernesto S. Marczal
A
crônica de Daniel Ferreira, que abriu as postagens do blog esta semana, colocou
em pauta a exigência permanente de uma modernização do futebol Brasileiro,
evidenciando o quanto este conceito estaria atrelado a um lugar comum que, não
raramente, relaciona-se ao reordenamento financeiro dos clubes e
instituições desportivas. Pois bem, a principal mantenedora do campeonato, a rede Globo,
inseriu uma nova variável na organização futebolística tupiniquim, com a
negociação individual das cotas televisivas com as agremiações, com evidentes
impactos ao principal esporte nacional. Partindo da definição concernente ao senso
comum, uma suposta forma de “modernização” econômica e liberal que levou a
derrocada final do Clube dos 13, único grupo de pressão relativamente
organizado que vislumbrava uma possibilidade de união política das equipes
nacionais. Agora, em plena festa de encerramento da principal campeonato do
país, o grupo de mídia evidencia a dimensão do impacto de sua ação financeira,
cobrando publicamente, em um evento organizado pela CBF, organização e profissionalismo
dos principais protagonistas do futebol nacional: clubes e jogadores. Se a ideia
de modernização está atrelada efetivamente a uma remodelação econômica com a
adequação da administração aos moldes empresariais, me parece quase
indissociável a imagem do discurso como um “puxão de orelha” do chefe em seus
novos e desleixados funcionários durante as comemorações de fim de ano da
firma.