Pode isso Arnaldo? Em
tempos de Copa quem pode mais chora menos!
Por Everton de Albuquerque Cavalcanti
As vésperas de
organizarmos nossa segunda Copa do Mundo em solo nacional, ainda nos deparamos
com cenas lamentáveis iguais as presenciadas na cidade de Joinville.
Em uma rodada onde
muito se valia, pensei bem em qual jogo colocar para dar aquela espiada na
esperança de muitos e no desespero de tantos outros. Por um momento até pensei
em contracenar as partidas através do mosaico multijogos, entretanto sabia que
enxergaria pouco em meio a tantas possibilidades.
Pois bem, fui logo naquela
disputa a qual acreditava definir muito de muito e certamente assim o foi, pois
o jogo finalizou-se tempo depois do restante de toda a rodada que se iniciara.
O Clube Atlético Paranaense jogando em Santa Catarina por perda de mando de
campo enfrentou em busca de uma vaga na famosa Copa Libertadores da América, o
quase rebaixado Vasco da Gama, em uma disputa que mais uma vez extrapolou o
limite das quatro linhas.
Certa vez questionaram
minhas habilidades reflexivas para tratar do futebol, afirmando que eu tinha
que expandir os horizontes analíticos de tal esporte, tamanha sua grandeza
cultural, social e política. Eu, um mero estudante de graduação me interessava
por menores discussões que tratavam objetivamente do jogo enquanto seus
aspectos biológicos e estratégicos.
Pensei a partir daquela
data que realmente o futebol se tratara de um fenômeno cultural que mexe com o
imaginário torcedor através da representação atrelada historicamente por todos
os agentes responsáveis pelo desenvolvimento desse esporte a nível mundial.
O futebol então envolve
vidas, como citado pelo presidente vascaíno após os incidentes no campo do JEC
e se envolve vidas, envolve emoção, comoção, agressividade, aversão, carinho,
tristeza, alegria, raiva, enfim, uma série de sentimentos que ocasionam o que
determino como irracionalidade.
Alguns vão dizer que o
campo é um lugar de tensões onde liberamos toda essa emoção e deixamos de lado
toda razão que permeia o cotidiano enquanto sujeitos componentes de uma
sociedade regrada. Mas na verdade o campo de futebol trata-se mais de um espaço
de entretenimento pelo prazer de acompanhar o esporte, do que de liberação de
frustração social permeada pela busca de um sentimento que sustente uma vida
emocional vazia.
A cultura futebolística
do brasileiro precisa mudar, porque o esporte é mais do que um argumento
ultrapassado de alienação e de liberação de tensão. O tensionamento está
presente nas relações sociais que os sujeitos estabelecem ao longo do seu dia-dia.
Essa descarga de energia que nos faz pulsar pelo esporte não pode ser a culpa
pelo que acontece enquanto atos de vandalismo e não pode ser pensada de maneira
isolada e opositora a participação dos sujeitos que ainda gostam de ir ao
estádio pelo simples prazer de torcer por seu clube de coração.
É a regra virando exceção,
entendem? É o mesmo erro que achar que a punição aos clubes vai resolver
completamente a mentalidade de alguns sujeitos que tem no caráter e na
personalidade a necessidade de deturpar o espetáculo futebolístico que foi a
vitória atleticana sobre o rebaixado Vasco.
Não da pra deixar de ir
ao estádio torcer porque algum mau-caráter utiliza o futebol para fins de
despejo de sua personalidade medíocre. O que deveria haver e não há, é uma
ordem imposta para essas barbáries que acontecem desde que eu me vejo por gente.
Ou será que alguém agora vai preso? Dificilmente! Vão é jogar a
responsabilidade no clube mandante e dizer aos nossos ouvidos o que o
digníssimo Milton Leite diria: “Seeeeeegue o jogo”!
Não estou aqui eximindo
a suposta culpa do mandante do jogo, até porque ainda estou tentando entender
porque não tinha UM policial dentro do estádio. Mas na verdade, particularmente
acho que nem culpa do clube é, até porque mesmo sendo um evento privado, a
partida necessitava de apoio do estado no que se refere ao policiamento, haja
vista a demanda de pessoas no local, a importância da partida para os dois
clubes e a quantidade de turistas que por motivos óbvios habitavam a cidade de
Joinville naquele momento.
Em tempos que sabemos
não ser possível a manutenção de relações cordiais entre torcidas adversárias,
como permitem a ausência da força policial em um evento desse porte? Como
permitem que seguranças privados façam sozinhos a proteção do local? Como acham
que a violência hostil de Elias e Dunning (1992) não seria capaz de ultrapassar
aquele simples cordão de isolamento? Como diria o lendário Chico Lang da Tv
Gazeta: “assim caminha a mediocridade”!
Façam o favor né? Mais
de três mil policiais no sorteio para a formação de chaves da Copa do Mundo e
nenhum na rodada final do Brasileirão onde os dois times disputavam posições
importantes na tabela. Isso é fazer a sociedade de boba, é tapar o sol com a
peneira, é não ter BOM SENSO, é pensar que vivemos em um país sem sujeitos
reflexivos e pensantes, mesmo que em nível de senso comum.
Percebemos então que
apesar do Penta campeonato mundial e de toda essa economia que transforma o
mundo a partir das tecnologias, o ser humano ainda caminha no que concerne ao domínio
de sua própria irracionalidade e a nação ainda engatinha no que se refere à
organização de um evento esportivo de gabarito.