O SENTIMENTALISMO NO FUTEBOL E A INVASÃO CORINTIANA NO JAPÃO
Everton de Albuquerque Cavalcanti
Como pesquisador que tenta extrair da fonte impressa
os seus mais sórdidos interesses, busco
entender as relações estabelecidas entre a mídia e o subcampo futebolístico no
que concerne o chamado tempo presente. Noto que a elaboração de discursos
voltados ao apelo comercial emaranham-se com a necessidade em manter o esporte
como produto da indústria cultural de entretenimento.
Tais estratégias utilizam-se constantemente da
formação identitária voltada culturalmente para o que o senso comum denomina de
paixão nacional. Neste sentido, construção jornalística atual permeia suas
análises através de uma relação entre história e memória, buscando fragmentos
do passado que venham reafirmar o que pretende ser dito sobre um determinado
tema do presente.
Com o encerrar do Campeonato Brasileiro – e título
merecido do Fluminense – os olhares da mídia voltam-se novamente para o Sport
Club Corinthians Paulista, que desde às 23h53 de 4 de julho deste ano, aguarda
ansiosamente pela Copa do Mundo de Clubes da Fifa a ser realizada no Japão em dezembro. Ansiedade
compartilhada também pelos torcedores do clube, historicamente reconhecidos
pelo senso comum por sua fidelidade incondicional.
Esta alcunha atrelada ao Corinthians e seus torcedores
por vezes já tentou ser desvendada por pesquisadores interessados em entender
esta relação sentimental no futebol. Porém, nossa discussão procura desvendar
os interesses obscuros que a mídia nacional resguarda no tratamento da paixão
corintiana em consonância com a cultura esportiva espetacularizada que vem
sendo cultivada em nossa realidade.
A constante prática de comparações das “invasões
corintianas” passadas com a expectativa por uma grande quantidade de “fiéis” no
Japão é um dos pontos que merecem destaque pelos pesquisadores de fontes jornalísticas.
Vejo vídeos, notícias, depoimentos e comentários relembrando da histórica e
maciça presença de torcedores corintianos na semifinal do Campeonato Brasileiro
de 1976 onde mais de 70 mil torcedores alvinegros compareceram ao maracanã para
apoiar um time que vivia jejum de 22 anos sem títulos importantes.
Outras comparações com os mesmos recursos relembram o
primeiro título mundial do clube paulista em 2000, no qual mais de 20 mil
corintianos compareceram ao maracanã para acompanhar a conquista contra o Vasco
da Gama. Há veículos de comunicação que lembram ainda a conquista do tetra
campeonato brasileiro corintiano quando a mídia presenciou a “invasão” de mais
de 25 mil torcedores alvinegros no Serra Dourada.
A expectativa para a disputa do mundial no Japão é de
que mais de 20 mil “fiéis” embarquem para o Oriente e atento para que os
colegas reflitam acerca da rotatividade econômica que este sentimentalismo
corintiano causa no futebol de uma maneira geral. A constante exposição da
imagem do torcedor corintiano através da paixão pelo clube, favorece todos os
setores interessados nesta relação entre cultura midiática e campo esportivo. O
Corinthians terá seus torcedores apoiando no Japão, além de lucrar com a venda
de pacotes que chegam a custar até 100% do valor real se cotados
individualmente por cada torcedor. A agência de viagens CVC – parceira do clube
– também lucra com a comercialização de pacotes fechados que garantem ingressos
para os torcedores nas partidas. Os meios de comunicação lucram com a constante
construção de uma identidade corintiana consumida nas páginas de jornais e
programas de televisão. A publicidade alavanca parcerias entre empresas
privadas e o clube, elevando os ganhos
financeiros e a aderência das marcas pelo público.
Tais análises demonstram como a cultura esportiva de
entretenimento consolida-se no contexto do espetáculo futebolístico
contemporâneo, emaranhando relações que favoreçam o interesse da mídia e do
campo esportivo.