Juca Kfouri
Nestes tempos de mudança, o futebol, gota d'água com seus estádios faraônicos que ajudou a transbordar o copo da insatisfação popular, não pode deixar de ser meta, objetivo, gol!, da necessária ruptura.
Por incrível que pareça, em 15 dias, a seleção, que não agradava ninguém, está melhor que o país, que aparentemente vivia feliz --embora não pudesse nem devesse.
Se Dilma Rousseff é uma presidente democrática e legalmente eleita, quem manda no futebol não é.
Convivemos há anos com a excrescência da tal bancada da bola no Congresso, um time de pilantras que a CBF alimentou nas campanhas eleitorais.
Gente que contraria abertamente os desejos da torcida e que se reelege sistematicamente porque as regras eleitorais são como são.
Precisou que mais de 1 milhão de cidadãos fossem às ruas para que a reforma política ganhasse a urgência que merece desde a redemocratização. Não serão os pilantras que a farão por mais que agora temam perder, além dos anéis, os dedos.
Por isso é rica a ideia de uma mini-Constituinte para tratar dela imediatamente, assim como é rico o que propõe o mesmo grupo que articulou a Lei da Ficha Limpa, que sugere uma nova campanha para colher 1, 5 milhão de assinaturas que redundem na mudança da legislação eleitoral já para o ano que vem.
O impacto também no futebol será inevitável.
Nunca mais teremos de conviver com cartolas biônicos como o atual presidente da CBF e do COL.
Nem com o que preside a FPF e caititua com 26 cartolas como ele, os das capitanias hereditárias estaduais, sua eleição para reinar na CBF.
Este, lembremos, no primeiro dia de protestos, disse que os brasileiros deveriam curtir a seleção e gritar Brasil. Agora, como tantos, está feito avestruz.
Feito avestruz como são feitos os conchavos e financiamentos de campanhas eleitorais neste país, sem transparência, sem decência, o que permite que os presidentes do Senado e da Câmara sejam o que são. Sem que se possa dizer que careçam de legalidade, apenas de legitimidade.
Liquidar os partidos é coisa de fascista, já foi exaustivamente dito. Implodir o sistema que os criou deformados não.
Dizem que ninguém sabe o que as ruas querem e estão dizendo. Não é bem assim.
As ruas querem e estão dizendo que querem tudo. Do bom e do melhor, em todas as áreas.
E podem e têm todo o direito de querer e dizer.
Resta saber fazer.
Mãos à obra!
Sugestão de Miguel A. de Freitas Jr.