quinta-feira, 18 de julho de 2013

Protestos deixam Blatter em dúvida sobre acerto ao levar Copa ao Brasil

Protestos sociais fizeram Blatter questionar se a Fifa fez a escolha certa Foto: Daniel Ramalho / Terra

Presidente da Fifa, Joseph Blatter declarou nesta quarta-feira que escolher o Brasil para sediar a Copa do Mundo de 2014 pode ter sido um erro. As palavras do dirigente foram motivadas depois dele presenciar os protestos sociais que aconteceram no País ao longo de junho, durante a Copa das Confederações, com a população reclamando, inclusive, dos altos gastos para a realização do torneio em solo nacional.

"Se (os protestos) acontecerem de novo, teremos que nos perguntar se tomamos uma decisão errada de dar ao Brasil o direito de sediar a Copa", admitiu Blatter à agência alemã DPA. O mandatário da Fifa disse, aliás, que se reuniu com o governo brasileiro após a Copa das Confederações e que voltará a conversar com a presidente Dilma Rousseff em setembro.

"Na conversa, enfatizamos o fato de haver protestos sociais durante toda a realização das Confederações. O governo agora está ciente de que a Copa do Mundo não deve conviver com essas perturbações. Eles precisam trabalhar nisso para que não ocorram novamente. Apesar de as manifestações serem pacíficas e fazerem parte da democracia, acredito que a presidente encontrará uma maneira de impedir que se repitam. Eles têm um ano para isso", acrescentou.

As palavras de Blatter foram ditas durante uma conferência de esportes, mídia e economia organizada pelo ex-craque alemão Franz Beckenbauer na Áustria. O dirigente, aliás, eximiu a Fifa de responsabilidade pela inquietação social realizada durante junho no Brasil.

"Não é a Fifa quem tem que aprender com os protestos, mas sim os políticos brasileiros", afirmou Blatter, dizendo que "a Fifa não pode arcar com a responsabilidade" pelos problemas sociais no País.

O Brasil conquistou em outubro de 2007 o direito de receber a Copa do Mundo, seis meses depois de a Colômbia, única adversária do País, retirar a candidatura. "A escolha que tomamos na época foi a melhor que poderíamos ter tomado. Foi o correto, mantemos essa opinião”, amenizou o presidente da Fifa.


Sugestão e comentários de Ernesto Sobocinski Marczal.

A série de protestos que tomaram o Brasil durante a Copa das Confederações ainda reverberam na cabeça de Blatter. Entretanto, o mandatário da FIFA parece estar longe de conseguir digerir e, sobretudo, refletir sobre a inusitada situação. A cobrança implícita em seu discurso, ao menos da maneira como esta retratada na notícia, pouco ou nada mudou em relação às exigências ao país sede, bem como na insistência, já inútil, em despolitizar o futebol e manter a entidade alheia de qualquer responsabilidade / envolvimento social. Em certa medida, a dúvida colocada sobre a escolha do Brasil para receber o mundial incorre menos da capacidade em organizar o evento e mais do medo da instituição esportiva, e de seu atual dirigente, em se deparar com uma experiência política relativamente nova em sua longeva trajetória: a contestação popular, eminentemente massiva e midiatizada, nas ruas.