sexta-feira, 30 de agosto de 2013

MP quer o fim da Gaviões. Na prática é impossível acabar com uma torcida como a Gaviões

Brasileiro Vasco Corinthians Torcedores Briga Mané Garrincha 25/0813

Mauro Cezar Pereira, blogueiro do ESPN.com.br

O Ministério Público do Estado de São Paulo vai pedir a dissolução da organizada corintiana Gaviões da Fiel. Se for assim voltaremos no tempo, para que sejam cometidos os mesmos erros de antes e de sempre. 

É impossível acabar com uma torcida organizada, especialmente quando ela é gigantesca como a maior facção corintiana. Podem colocá-la na clandestinidade, como aconteceu com partidos de esquerda nos chamados "anos de chumbo". Mas eliminá-la? Não.

E qual a dificuldade para tal? As pessoas continuarão se encontrando, se reunindo, se organizando. Mesmo que não possam vestir camisas e exibir símbolos da torcida eventualmente proibida. Essa jamais foi a solução para a violência entre tais grupos.

O único antídoto é a punição aos indivíduos. Se um sujeito for punido, detido, julgado, e depois outro, e mais outro e mais um outro, então os demais recuarão. A sensação de impunidade desaparecerá. E as torcidas poderão ser apenas de gente pacífica.

Já proibiram as organizadas em São Paulo nos anos 1990. Mas elas jamais desapareceram. Eram clandestinas, mas estavam lá, nos estádios. A Mancha Verde virou Mancha "Alvi" Verde. O que pretendem? Que a Gaviões da Fiel vire "Gaviões Fiéis" ou apenas "Gaviões"?

Os estádios de futebol no Brasil não têm registrado brigas. Elas se tornaram raras, embora em diversos locais, inclusive a quilômetros de distância das canchas, jamais terem deixado de ocorrer. O fato registrado em Brasília no domingo foi isolado.

Se você discorda ou duvida, aí vai um desafio: cite 10 brigas entre torcidas de times diferentes, ocorridas dentro dos estádios, no último ano. Quando vascaínos e corintianos se enfrentaram no Mané Garrincha, vimos um retrocesso. 

Proibir organizadas significaria mais passos para trás. Um avanço seria a punição severa aos que protagonizarem atos violentos. A lei prevê. Está no artigo 129 do Código Penal: "lesão corporal, que pode ser grave, gravíssima ou seguida de morte. Pena: detenção, de três meses a um ano".

Ou ainda , segundo a Lei das Contravenções Penais, artigo 40, Capítulo IV: "Provocar tumulto ou portar-se de modo inconveniente ou desrespeitoso, em solenidade ou ato oficial, em assembléia ou espetáculo público (...) Provocar tumulto ou portar-se de modo inconveniente (...). Pena: prisão simples, de quinze dias a seis meses, ou multa".

E então? O que explica tantos brigões soltos por aí? Não adianta tirar o sofá da sala.


Sugestão e comentário de Jhonatan Souza.

Em decorrência dos conflitos entre torcedores do Vasco e do Corinthians no último domingo, o Ministério Público de São Paulo informou que pedirá a dissolução da torcida organizada Gaviões da Fiel (Corinthians) - aos moldes do que ocorreu em 1995 com a Mancha Verde (Palmeiras), e em 1998 com a Independente (São Paulo) - pelo descumprimento do termo de ajustamento de conduta assinado em 2011 por mais de cinquenta torcidas organizadas.

Apesar de reconhecer a complexidade do tema e compreender as motivações do MP - estar em posições das quais se espera iniciativas de ação, requer uma capacidade de responder às demandas da opinião pública que, os intelectuais, mormente os reclusos de gabinete, tem alguma dificuldade em compreender - tendo a me alinhar a Mauro Cezar Pereira.

De fato, existe no Brasil o que poderíamos chamar de uma certa utopia da solução pela negação. Diversos setores da sociedade creem que a melhor solução para um determinado problema é construir sua inexistência. Dessa maneira, como num passe de mágica, o problema em questão desaparece, ressurgindo logo em seguida sob formas normalmente mais complexas e de solução ainda mais difícil.

A opção política pela "construção da inexistência" tem gerado efeitos desastrosos em diversas outras áreas, como na política de drogas, aborto e prostituição. Mesmo em se tratando de problemas radicalmente diferentes, a solução - tanto a ideal quanto a real - são assustadoramente similares. A capacidade de regulamentação do Estado nesses setores é a saída mais eficiente - de fato, a única saída.

Sem dúvida, as iniciativas dos últimos anos junto às torcidas organizadas lograram algum êxito, embora não tenham resolvido completamente o problema. No que tange às torcidas, a volta ao óbvio da "construção da inexistência", colocando na ilegalidade instituições que existem para além da vontade do Estado, seria um grande passo a atrás e uma enorme perca de tempo. Desconstruindo a utopia da solução pela negação, poderíamos caminhar para a desconstrução de uma outra utopia, aquela que prega a possibilidade de uma sociedade sem violência. Utopia que, via de regra, nos torna ainda mais violentos. É preciso refletir...