Crônica da Semana
FUTEBOL NÃO TEM LÓGICA: NOTAS SOBRE A EFEMERIDADE DO
JOGO
Por Everton de
Albuquerque Cavalcanti
É consolidado no campo
esportivo que o futebol é uma prática extremamente ligada ao processo histórico
cultural do Brasil e de muitos outros países, caracterizando-se como um esporte
reconhecido pela paixão mundial. Isto pode ser observado durante o período de
Copa do Mundo, quando a disputa da competição futebolística mais importante do
planeta demonstra seu potencial em igualar-se aos jogos olímpicos. Muitas
pessoas não conseguem enxergar tal gosto pelo futebol como algo relevante na
vida da sociedade, porém, acredito que o sentimento implícito nos sujeitos que
revelam amor a esta prática vai além do que as palavras possam explicar.
Explico: é certo que no
processo histórico perpassado por muitos indivíduos, o futebol está incorporado
desde a gênese como uma prática de atividade física, de lazer, de espetáculo e
quem sabe, até mesmo de uma futura profissão. Apesar de toda a globalização e a
massificação do esporte como algo comercial, é notável como muitas crianças
vivenciam esse esporte como algo que simplesmente lhes atrai os olhos pelo
prazer. Mas de onde surge essa vontade de jogar? Porque essa paixão atinge o
coração de milhares de crianças que nem sabem o real significado social,
político e cultural dessa prática?
Se a psicologia pode
explicar como tais experiências proporcionadas na infância atingem essa
maturidade sentimental através do domínio motor, cognitivo e afetivo-social, a
história mostra que a paixão pelo futebol pode ser algo maior, advindo de um
dos domínios dos quais menos se espera, o afetivo-social. Sabem por quê? É através
da relação paterna, principalmente, que estabelecemos os primeiros contatos com
a prática futebolística, seja através da ludicidade proporcionada por uma
brincadeira de chutar a bola, seja pelo anseio do pai em levar o filho(a) ao
estádio para que este dê continuidade a tradição de família.
Ou seja, o sentimento
nasce de todo um processo de experiências que a criança viveu nas diversas
fases da infância. Não relegando a possibilidade da genética, haja vista ter
alguns meninos e meninas que segundo Giglio (2007) parecem ter nascido com o
dom de jogar futebol. Logo, é notório que algumas coisas ligadas a essa prática
são oriundas de um processo histórico-social extremamente importante e
interligado ao sentimentalismo implícito no jogo e no contexto em que o mesmo
se apresenta.
Toda essa paixão que
permeia não só o inconsciente do torcedor, mas o discurso da imprensa parte de
uma característica muito relativizada às vezes pela imprensa, porém, pouco
entendida no momento da crítica. Trata-se da LÓGICA: processo filosófico pelo qual
um raciocínio é válido, algo que me parece cada vez menos caber ao futebol, mas
que, no entanto é tão enfatizado pela imprensa esportiva. É simples dizer que o
campeão mundial Corinthians passaria por cima do Náutico no Pacaembu,
entretanto, é complexo entender porque esse mesmo campeão mundial apenas empata
em casa com o lanterna do campeonato.
Talvez seja essa a
graça do futebol, sua imprevisibilidade, sua capacidade de gerar o erro, de
provocar comoções sociais, de rememorar o histórico, de enaltecer o passado, de
reivindicar o presente, de tratar o processo biológico do jogo profissional,
para que o espetáculo seja de qualidade compatível com o que se investe
financeiramente. Vemos como esse esporte não só aglomera o senso comum, mas
interliga-se a “n” áreas de discussão que vão da filosofia à farmácia. Sem
supervalorização daquilo que em minha opinião tornou-se um campo de estudo, não
acredito que alguns sujeitos sem conhecimento de causa pensem que o futebol é
pleno e puro entretenimento.