sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Apresentação de A Rainha de Chuteiras




Caricatura de Marcos Alvito - Arquivo Pessoal
Até hoje me lembro dela. Era uma caixinha de papelão branco. Na tampa, eu havia recortado e colado uma foto da seleção inglesa pisando o solo sagrado de Wembley. Lá dentro, meus craques de galalite, o material com que eram feitos os times de botão naquela época. Muita atenção para o número 7, o diabólico ponta-direita Kevin Keegan. Eu devia ter uns doze anos e sonhava com o futebol inglês. Claro que gostava do futebol brasileiro e também tinha outro time com a seleção de 70. Destaque para Tostão, um botão amarelado e mais alto do que os outros mas que gostava de fazer gols de longe. Mas o futebol da terra da rainha não me saía da cabeça.

O tempo passou, os botões ficaram guardados na caixinha. Eu me formei em História, tornei-me professor universitário e doutor em Antropologia. Em 2005 comecei uma pesquisa chamada "A paixão vigiada". Seu objetivo era comparar o policiamento de torcedores no Brasil e... adivinhem? Na Inglaterra. Afinal os ingleses tinham enfrentado e aparentemente resolvido o problema dos "hooligans". Fiz dois anos de pesquisa no Brasil e em julho de 2007 fui para a Inglaterra passar um ano. A pesquisa me "obrigou" a assistir jogos de todo o tipo, desde Liverpool x Arsenal até partidas da 8a. ou 9a. divisões. Assisti a jogos da Champions League, da FA Cup e do Campeonato Escocês. Acompanhei até mesmo as aventuras de um time de futebol feminino. Entrevistei policiais e torcedores, fui com ambos a jogos no frio, na chuva e até na neve.

Este livro é um relato daquele ano maravilhoso na forma de pequenas crônicas, sobre os hooligans, sobre os fanzines, sobre os clubes semi-profissionais, sobre projetos educacionais utilizando o futebol, sobre a atuação da polícia, as grandes rivalidades e por aí vai. Enfim, é um livro sobre a cultura do futebol inglês. Há também uma ou duas crônicas sobre outras paixões inglesas: as apostas, o rugby, o cricket... Sempre em um enfoque antropológico e bem humorado.

O leitor também vai ganhar oito "faixas bônus" com uma breve história do futebol inglês, das batalhas campais da Idade Média até a Premier League. É por aqui que começamos o nosso A Rainha de Chuteiras - um ano de futebol na Inglaterra.

Marcos é carioca de Botafogo, Flamengo até morrer, ganha a vida como professor de História na UFF, embora tenha o doutorado em antropologia. Adora ensinar, mas gosta mais ainda de aprender. Suas três paixões intelectuais (e não somente) são o samba, a literatura e o futebol. Em uma encarnação distante foi professor de História Antiga e em uma mais recente pesquisou o tema das favelas no Rio de Janeiro, tendo publicado livros e artigos sobre estes assuntos. Mas agora é só samba e futebol (artigo na Revista Piauí sobre o futebol inglês e o processo de comercialização) e (artigo na Revista de História da Biblioteca Nacional sobre João da Baiana). A literatura, por enquanto, espera sentadinha no banco, podendo entrar em campo a qualquer momento pois há boatos de que estaria escrevendo um romance. A Rainha de Chuteiras é o seu sexto livro. Em janeiro sairá o sétimo, pela editora Matrix: A cabrocha de Copacabana e outras histórias do samba. 


Sugestão e comentários de Natasha Santos

Iniciou-se a publicação folhetinesca do livro de Marcos Alvito, que traz as crônicas sobre o futebol inglês. A minha indicação da leitura não se deu no sentido de tecer qualquer tipo de argumentação crítica, mas apenas acredito que seja no mínimo interessante o acesso a uma parte, pequena que seja, do tal futebol "bretão".