Jogadores do Bayern reverenciam sua torcida no Camp Nou
O Bayern Munique ficará marcado na história pelo que fez contra o Barcelona nas semifinais da Liga dos Campeões. Não apenas pela imposição dentro de campo, ao detonar os blaugranes tanto na Allianz Arena quanto no Camp Nou. Os bávaros também quebraram várias marcas que duravam décadas na Liga dos Campeões ou mesmo em competições europeias. Uma humilhação visível com a bola nos pés, mas que reverbera ainda mais pelo contexto.
Confira os recordes:
- O Bayern é o primeiro clube desde 1960 a ganhar duas partidas de semifinais de Copa dos Campeões por mais de três gols. O último foi o Eintracht Frankfurt, aplicando 6 a 1 e 6 a 3 sobre o Rangers.
- O placar agregado de 7 a 0 para o Bayern é o maior em uma semifinal de competição europeia desde 1964, quando o Real Madrid aplicou 8 a 1 sobre o Zürich na Copa dos Campeões (2 a 1 e 6 a 0 para os merengues).
- O Barcelona não sofria sete gols no placar agregado de uma eliminatória europeia desde 1963. Na decisão da Copa das Feiras, contra o Valencia, perdeu por 6 a 2 e empatou por 1 a 1.
- O Real Madrid tinha sido o último clube a vencer o Barcelona na ida e na volta de um jogo eliminatório de Copa dos Campeões. Foi em 1960, com dois triunfos por 3 a 1. Os resultados valeram a demissão do técnico Helenio Herrera.
- Desde 2002 o Barcelona não sofria uma derrota por três gols de diferença no Camp Nou, quando o Sevilla anotou 3 a 0 – foram 1400 partidas desde então. Já na Liga dos Campeões, isso não acontecia desde 1997, na vitória do Dynamo Kiev por 4 a 0.
- O Manchester United, em 2008, foi o último time que passou a ida e a volta de uma eliminatória europeia sem sofrer gols do Barcelona. Os Red Devils empataram por 0 a 0 no Camp Nou e venceram por 1 a 0 em Old Trafford para avançar à decisão da LC.
- A última derrota em casa do Barcelona na Liga dos Campeões aconteceu em 2009, 1 a 0 para o Rubin Kazan. Autor do gol da vitória, Sergey Semak batizou sua filha, nascida no mesmo dia, de ‘Barcelona’.
- Com o resultado desta quarta, o Bayern é o primeiro time a vencer o Barcelona três vezes no Camp Nou por competições europeias – 1996, 1998 e 2013.
Sugestão e comentários de Ernesto Sobocinski Marczal.
Confesso que meu intuito inicial não era
de destacar a noticia sobre eliminação do Barcelona pelo Bayern de Munique na
principal competição de clubes em nível mundial dos últimos anos. Minha ideia de
colaboração pendia, a princípio, para outras temáticas. De um lado, para o
debate a respeito do inusitado episódio envolvendo as peculiares caxirolas,
exemplo notório da imposição de uma mercantilização cultural de símbolos presunçosamente
nacionais em vias da exposição midiática de um evento como a Copa do Mundo. Ou,
em outra pegada, voltava-se para as respectivas retiradas, pela porta dos
fundos, de dois dos principias mandatários do futebol sul-americano, João Havelange
(já contemplada no post de Riqueldi Straub Lise) e Nicolás Leóz.
Porém, ao observar o desenlace das semifinais
da competição continental europeia, resolvi mudar o foco drasticamente. Ao invés
de destacar estas relações, não raramente desgostosas, entre o esporte e os
universos político, social e cultural, optei por enaltecer uma noticia própria dos
acontecimentos em campo. A eliminação do real Madrid e do Barcelona,
consideradas duas superpotências atuais do futebol (embora seus algozes também
não possam deixar de ser descritos como tais, mas detenham uma envergadura econômica
e midiática nitidamente menor), soa como um daqueles eventos surpreendentes que
nos remete justamente aos “porquês” do gosto pela modalidade esportiva.
Contra boa parte dos prognósticos (sobretudo
no que tange aos placares), Borussia Dortmund e Bayern não só conseguiram a
classificação à final da competição, como nos lembraram de duas das características
mais apaixonantes do futebol: sua imprevisibilidade e indeterminação. Afinal,
estas são precisamente algumas das variáveis que sustentam a ação mesma de
torcer. Recordar e invocar marcas, dados, feitos considerados como históricos faz
parte da brincadeira, enaltece o momento e, principalmente, alimenta uma
pretensa racionalidade que suportaria o ato de torcer. Se existe algum
antecedente, alguma coincidência, por mínima que seja, esta já se torna prova
automática mais do que suficiente para manter a crença do torcedor. Caso ainda
não exista, a ocorrência da façanha será recorrentemente rememorada como uma
nova confirmação da capacidade indubitável de sua amada equipe.
Mesmo diante da inegável espetacularização
do esporte, de sua controversa globalização e polarização econômica, das
mazelas de suas relações políticas duvidosas, perceber que a modalidade ainda mantém
parte de seu fascínio atrelado à imponderabilidade do “jogo jogado” dentro do
gramado, ainda é um alento digno de nota.