O governo da Suíça pretende cortar os privilégios legislativos e de impostos
da Fifa, caso a entidade sediada no país não tome medidas firmes contra a
corrupção, segundo informou nesta quinta-feira o jornal Folha de S.
Paulo. Na semana passada, a Suprema Corte do país divulgou documentos de uma
investigação do Tribunal de Zug que denuncia propinas recebidas pelos
brasileiros João Havelange, ex-presidente, e Ricardo Teixeira, ex-membro do
comitê executivo.
O parlamentar Rolando Buechel afirmou que o parlamento suíço quer "ver as coisas acontecerem, senão será muito difícil não tomar ações políticas". Ele sugere, por exemplo, que Havelange perca o título de presidente de honra da Fifa, opção que também foi levantada pelo atual presidente Joseph Blatter. As punições podem ser aplicadas em outras entidades com sede na Suíça, como o Comitê Olímpico Internacional.
Entenda o caso
Em 11 de julho de 2012, a Fifa divulgou texto
comprovando envolvimento de Ricardo Teixeira, ex-presidente da CBF, e João
Havelange, atual presidente de honra da própria Fifa, em caso de corrupção. O
documento, liberado pela Suprema Corte da Suíça, aponta pagamentos da agência de
marketing ISL a ambos em troca de facilidades na aquisição dos direitos de
televisão das competições.
Segundo o texto, Teixeira teria recebido pelo menos R$ 26 milhões em propina.
Havelange teria sido pago em 1,5 milhão de francos suíços, equivalente a R$ 3
milhões. Cerca de R$ 45 milhões cedidos pela empresa teriam como beneficiário os
dois dirigentes.
Eleito presidente da CBF em 1989, Ricardo Teixeira, 65 anos, chegou ao poder
do futebol brasileiro tutelado por Havelange, na época presidente da Fifa e
genro de Teixeira.
Desde então, Teixeira passou a homem mais poderoso do futebol brasileiro e
ficou por 23 anos no poder. Em 2012, o dirigente deixou o comando da CBF,
alegando problemas de saúde e familiares e abriu espaço para José Maria Marin
ocupar o cargo. Atualmente, o ex-dirigente vive na Flórida, nos Estados Unidos.
No ano passado, João Havelange, 96 anos, renunciou ao cargo no Comitê
Olímpico Internacional justamente para fugir de sanções que seriam impostas por
causa da relação com a ISL.
Fonte:http://esportes.terra.com.br/futebol/copa/2014/noticias/0,,OI6002567-EI18776,00-Jornal+Suica+ameaca+suspender+privilegios+da+Fifa+e+exige+punicoes.html
Sugestão e comentários de Ernesto S. Marczal.
O Parlamento suíço parece finalmente adotar uma postura que possa gerar
alguma manifestação concreta no círculo administrativo da FIFA contra a corrupção.
Ainda que sob um tom bastante reticente (o parlamento quer “ver as coisas
acontecerem, senão será muito difícil
não tomar ações políticas”) a
atitude de cortar os privilégios políticos e econômicos concedidos a instituição
desportiva podem ocasionar algum efeito. Afinal são justamente esses privilégios
alguns dos fatores centrais a manutenção da Entidade máxima do futebol em um país
conhecido por sua suposta neutralidade e rígido sigilo fiscal, mas sem
praticamente nenhuma expressão futebolística mais significativa (o grande chamariz
da Suíça na modalidade é justamente abrigar a FIFA). De qualquer modo a
preocupação do parlamento local evidencia um aspecto positivo com relação a
tantos casos de corrupção no esporte: a força combativa da opinião pública. Enquanto
parece haver um esforço para resolver tais querelas sem a imposição de sanções
(abafando o caso com punições efêmeras e pontuais) é precisamente a mobilização
pública contra os recorrentes escândalos que obriga a tomada de posições mais
firmes por parte das organizações políticas. Embora a opinião pública ainda não
consiga interferir absolutamente em uma estrutura esportiva majoritariamente
exclusivista, oligárquica e interpessoal é inegável que a pressão que exerce consegue
abalar um dos elementos essenciais a manutenção de posições de poder em uma instituição
cujas relações políticas se estendem de modo tão abrangente em uma sociedade
que se pretende democrática e transparente: a credibilidade.