A euforia não poderia deixar de ser maior. O termômetro foi o
“Jornal Nacional” do sábado, mostrando a festa das torcidas de Botafogo e
Inter para as apresentações de Seedorf e Forlán (foto) em suas equipes,
respectivamente. O comentário também é de que o Brasil finalmente passou
a ter um dos melhores campeonatos de futebol do mundo. Mantém o talento
de jovens como Neymar, Ganso e Lucas e ainda traz para o país algumas
estrelas, entre elas o craque da Copa-2010.
Mas dá para confiar que, realmente, somos a bola da vez? É permitido
imaginar que o futebol brasileiro terá um produto de alto nível para o
seu público consumidor?
Sinceramente acredito que a euforia é muito maior do que a realidade.
As contratações de Seedorf e Forlán representam nada além do que a
realidade financeira do mundo. Os jogadores estão começando a vir para
cá porque, no Brasil, paga-se melhor do que na Europa. Não só no
futebol, mas em diversos setores da economia. Um time de porte
médio/grande, como são Bota e Inter, pagam melhor do que os clubes de
mesmo tamanho na Europa. Seedorf e Forlán dificilmente teriam o mesmo
mercado, além das benesses pessoais que encontraram por aqui.
Mas o caminho para que o Campeonato Brasileiro seja de fato uma
referência no mercado mundial ainda é muito difícil de ser percorrido. A
começar pelo absurdo fato de não termos uma entidade que represente o
interesse conjunto de nossos clubes. Como fazer um campeonato ser um
produto se não há alguém que responda por ele? Com quem uma empresa
precisa falar para poder comprar uma cota de patrocínio para todo o
evento?
Isso impede, por exemplo, acordos de mídia para explorar a imagem do
Campeonato Brasileiro para o exterior. Sem falar nas oportunidades
perdidas pelo fato de a empresa simplesmente não ter a mínima vontade de
negociar com 20 clubes separadamente para fechar um acordo único.
Outro fator importante e que está ligado a esse primeiro é para quem o
futebol brasileiro é feito. Por conta dos acordos de transmissão, o
Brasileirão é produzido para a TV. Não há preocupação em fazer jogos em
horários decentes com a realidade do país e de forma a privilegiar o dia
de jogo. A audiência televisiva tem mais importância do que a ida do
torcedor ao estádio. Isso, por mais craque que você tenha dentro de
campo, é um fator inibidor da presença de público e, consequentemente,
do embelezamento de uma partida pelo fato de contar com um estádio
lotado.
Além disso, continuamos a maltratar o torcedor que pretende ir a um
jogo com estádios velhos, sem estrutura e, para piorar, com um preço
abusivo no ingresso. Se formos comparar com o serviço que é oferecido ao
torcedor, o tíquete médio do Campeonato Brasileiro deve ser um dos de
pior custo-benefício do futebol mundial.
Como já disse aqui, contratações como as de Seedorf e, agora, Forlán,
tem muito mais um apelo técnico do que de marketing. Ainda mais por
diversas condições peculiares do futebol no Brasil. Enquanto não
melhorarmos o produto futebol, não adianta ter os melhores jogadores. Os
estádios continuarão sem preencher mais de 50 a 60% de sua capacidade,
salvo raras exceções. Além disso, o público do exterior não vai aumentar
o interesse no campeonato daqui por conta da falta de opções para
assistir ao campeonato além do fuso horário brasileiro, aquele de
interesse das emissoras de TV.
Temos uma oportunidade
muito grande de fazer o futebol brasileiro se fortalecer como produto.
Para isso, seria preciso montar um plano estratégico para o Campeonato
Brasileiro para os próximos cinco anos. Só tem um “detalhe”. Quem é a
instituição que seria a responsável por montar esse plano junto com os
clubes, aprovar com todos eles e colocar em prática?
Pois é… Dificilmente voltaremos a ter grandes nomes em atuação no
Brasil no médio/longo prazo. Do jeito que a coisa está, a farra vai
acabar tão logo a biruta da economia mude. Ou contra o país ou a favor
dos grandes centros da Europa. A única chance de mudar isso seria o
futebol abrir o olho para a necessidade de união entre os clubes.
Mas isso a ganância do dinheiro da TV do ano passado minou. Agora até
vai. Mas, daqui a pouco, a maré vai levar os peixes graúdos para outro
continente. E é bom já começar a olhar com carinho para a América do
Norte…
fonte:http://negociosdoesporte.blogosfera.uol.com.br/2012/07/09/seedorf-forlan-ronaldinho-neymar-sera-que-agora-vai/
Texto sugerido e com comentários abaixo do Doutorando em História (UFPR) Edson Hirata.
Juca Kfouri dizia que no Brasil em vez de vendermos o espetáculo, exportávamos os artistas.
A análise acima inicia tentando mostrar uma leve inversão desse pensamento, seja citando os casos de jogadores consagrados, ainda que a maioria em fim de carreira, repatriados, seja exaltando os êxitos, em alguns casos, em manter os jovens talentos no país.
O autor prossegue a reflexão apontando um possível culpado para o insucesso futuro do nosso campeonato brasileiro, a falta de união e visão empresarial dos nossos dirigentes.
Concordo com o Erich.
Não dá. Jogadores profissionais e dirigentes amadores, não dá.