Ontem assisti ao filme do Heleno de
Freitas, que infelizmente está saindo do circuito tão rapidamente. Só achei o
filme no Shopping da Gávea. Fiquei por algum tempo deprimido pela fraqueza dos
arrogantes e a falta de senso de realidade que transmite a vida do personagem.
Essa foi a opção da obra.
Heleno é um herói trágico que vive das
lembranças da glória e se transforma num pária em um sanatório. Desajustado,
adicto de álcool e lança perfume, intenso e tenso são as quase duas horas de
filme que trata das memórias de um doente aprisionado em fantasias e delírios
de suas lembranças.
O problema é que o filme trata a
arrogância como um pecado do ego, um pecado que o personagem parece não ter
tido nenhum momento de paz em sua curta e intensa vida na edição cinematográfica.
A subtração da memória de um personagem entre o glamour e o declínio faz a
conta pender para aquilo que é negativo.
Em síntese, a edição biográfica deixa
para as gerações que ouviram ou nunca ouviram falar de Heleno de Freitas apenas
a miséria ególatra de um homem viciado em sexo, drogas e acometido pela sífilis
(AIDS daquele tempo) que supostamente foi um craque.
Para os apaixonados por futebol o filme
não reconstrói uma série de gols ou façanhas do atleta em campo. Essa foi a
opção do cineasta, ao tomar esse ponto de vista psicológico da vida de Heleno
Freitas, que certamente será a memória mais disseminada em nosso tempo.
O autor ou cineasta sempre pode pegar a
vida de potentes personagens e editar apenas as memórias dos porres, dos vícios,
das fraquezas, das compulsões, dos ciúmes e dos momentos agressivos e violentos
ou apenas retratar memória heróica e inocente como em Pelé Eterno; bom para os
apaixonados em futebol e péssimo para o público mais amplo.
O filme Heleno é bom e bem feito, mas
deixa para nossas memórias a imagem de um gênio da bola solitário e
incompreendido por ser vítima de seu ego, ao estilo do jogador de beisebol Ty
Cobb (http://en.wikipedia.org/wiki/Ty_Cobb) ou da vida do Imperador Adriano,
retratada pela imprensa.
Por sinal, tanto o filme Cobb ou as
páginas das fotonovelas da vida de Adriano guardam alguma semelhança narrativa
com o filme Heleno. Heleno não é um filme sobre o futebol, é um filme sobre uma
possibilidade angustiada e delirante de estar no mundo.
Antonio Jorge Gonçalves Soares
Universidade Federal do Rio de Janeiro
Professor Associado da Fac. de Educação
Programa de Pós-graduação em Educação