por Prof. Dr. Miguel A. Freitas Jr (UEPG)
Hoje
vou fazer um exercício diferente, pois, estou me cansando de ver o que estão
fazendo com o nosso futebol. Nossas estrelas estão voltando, mas ao invés de
abrilhantarem o espetáculo, tornam-se manchetes por escândalos, falta de
profissionalismo, de ética, de responsabilidade e de respeito aos torcedores da
equipe as quais eles beijaram o escudo quando chegaram. Por isso, resolvi não
falar dos estádios da Copa do Mundo, das atitudes do Gaúcho, ou do chileno que
há muito tem deixado a desejar diante dos investimentos realizados pela sua
equipe.
Nesta
semana passada estive na “Paulicéia Desvairada” e isto me fez refletir sobre a
identidade do cidadão paulistano, não por acaso, mas devido a uma série de
acontecimentos que fizeram um “out sider” rever os seus conceitos paranaense.
Segundo
o dicionário Aurélio o termo IDENTIDADE serve para demonstrar os caracteres
próprios e exclusivos de uma pessoa: nome, idade, estado, profissão, sexo, etc.
Mas, é claro que isto não nos permite percebermos quem realmente são as pessoas
e por isso acabamos falando em identidades.
Identidades
porque o João é jogador de futebol, pai de família (ou famílias, pois no Brasil
jogador de futebol gosta de ter mais de uma família), torce para ... , não
gosta de ler... São inúmeras e infindáveis as características que podem ser atribuídas
para o nosso amigo João. Características estas que podem ser visualizadas de
diferentes formas.
Fruto
do Estado Moderno a identidade veio com a missão de definir, classificar,
segregar, separar e selecionar o agregado de tradições, leis e modos de vida
locais, que permitiram ao indivíduo sentir-se pertencente a uma nação, a um
estado, a uma cidade. Estas identidades são mais simples, pois se referem ao
sentir-se pertencente a partir do local onde nascemos.
Reflexões
teóricas a parte, a nossa experiência teve início em uma noite fria, véspera de
feriado, no qual às 22:30 horas eu e mais dois orientados da graduação
adentramos em um ônibus (executivo) confortável, rumo a cidade de São Paulo. O
ônibus estava lotado de pessoas das mais diferentes formas (identidades) as
quais não cabem retratar neste momento. Conversamos durante algum tempo sobre o
conceito de gênero, que coloca em xeque o conceito de identidade sustentado
pelas questões biológicas e pela ideologia cristã (católica).
Como
já era tarde e diante do ritmo alucinante que a sociedade atual tem nos
colocado, em pouco tempo todos haviam dormido. Por volta das 2 da manhã, o
ônibus parou por 20 minutos, descemos
para realizar um lanche e pude perceber a diversidade do nosso país, pois a
fala das pessoas que estavam na Lanchonete revelava a diversidade identitária
presente desse espaço geográfico chamado Brasil. Eram tantas falas e sotaques
diferentes que em alguns momentos era necessário prestar muita atenção para
entender o que se falava ao redor.
Chegamos
a São Paulo e fomos para a sala VIP da empresa. Quem diria que sairia do
interior do Paraná e seria um VIP numa das principais cidades do País. O que
será que as pessoas que estavam naquela localidade pensavam ao nosso respeito.
Neste local, tudo estava muito organizado, limpo e cuidadosamente planejado
para que o visitante pudesse se sentir em casa (havia televisão, ambiente com
internet, água, suco, café com leite...). Fiquei pensando nos meus amigos
cariocas que sempre me disseram que o Paulista não é um bom anfitrião.
Precisávamos
sair dali e ir para a Rodoviária, pois o evento era na cidade de Jundiaí.
Conversamos com encarregado que lamentou o fato de não procura-lo antes, pois poderíamos ter pego uma carona com
o ônibus que havia acabado de sair e passaria próximo do nosso destino, mas ele
prontamente se propôs a chamar um taxi (confesso que me sentia cada vez mais
VIP). O taxi chegou rapidamente,conversei algo com o motorista, do tipo – o
trânsito da cidade fica melhor com o feriado. Ele prontamente como um bom
paulistano defendeu: - no dia-a-dia o trânsito não é tão ruim, a gente acostuma
e é só saber por onde andar que as coisas fluem.
Chegamos
rapidamente ao nosso destino parcial, deixamos o taxi e pedimos informações
sobre as melhores opções para seguirmos viagem, novamente fomos muito bem
atendidos e fiquei me questionando: É muito interessante este lugar, pois são
oito horas da manhã, de um feriado, um dia frio e chuvoso e estas pessoas
miscigenadas mantém uma educação britânica e a alegria brasileira.
Adentramos
em outro ônibus, este mais simples, o que não tinha problema, pois o nosso
trajeto era curto e solicitamos ao motorista para nos deixar antes de chegarmos
a rodoviária, pois estaríamos a poucos metros do nosso destino final. O
desconhecimento da localidade, o sono, a distração e coisas do gênero não nos
permitiu perceber que ele havia esquecido de nos deixar onde solicitamos. Quando
perguntamos sobre o ocorrido, a sua reação foi interessantíssima. Aquele
indivíduo de aproximadamente 50 anos de idade, negro, com o porte físico típico
de motorista, disse para ficarmos
despreocupados; saltou rapidamente do ônibus e pediu para que nós o
acompanhássemos e pediu ao fiscal da empresa que nos colocasse no próximo
ônibus para nos deixar no local que ele deveria ter nos deixado e o seu colega
de empresa fez isto sem maiores questionamentos.
Estas
atitudes positivas me trouxeram alento, pois em um país que irá receber a Copa
do Mundo e só vemos notícias ruins, eu pude perceber um pouco da identidade de
um povo hospitaleiro, alegre, educado e preocupado com os Turistas. Fico na
torcida para que os nossos visitantes se encontrem com estas pessoas, pois esta
é minha identidade (re) construída sobre os paulistas.
Só
outra situação me chamou a atenção, a linha do metrô que nós utilizamos era
Corinthians – Itaquera e na volta pegamos Palmeiras – Barra Funda. Aí fiquei
sabendo que o Palmeiras havia entrado na justiça, uma vez que o seu rival tinha
o nome em uma das linhas, ele também reivindicou este direito. Mas este é outro
assunto, pois tratar da identidade clubística é uma tarefa que necessita muita
reflexão.