domingo, 10 de junho de 2012

Crônica da Semana

TRABALHAR, ESTUDAR E TORCER

por José Carlos Mosko
Doutorando em História (UFPR) 

 Eis que chega novamente minha vez de “dizer” algo. Nesse tempo de grande turbulência pessoal/acadêmica, com os dias passando a “jato”, o que falar, ou melhor, escrever?
Após embrenhar-se nesse mundo acadêmico, em que o objeto de paixão se torna objeto de estudo, muitas são as contradições. A postura na arquibancada muda, as esperanças diminuem, a magia do campo se esvazia aos poucos. Não obstante a vontade de ir ao estádio permanece, mesmo sem cadeira, com chuva e e frio.
           Ir ao estádio, por sinal, é só para distração mesmo. Em nada colabora com a reflexão dos estudos, ao contrário, traz um remorso por não utilizar esse tempo com aquilo que está atrasado e que precisa ser cumprido. E o time ainda não ajuda...
Bem, não podemos esquecer que para a maioria de nós, o interesse pelo futebol veio primeiro pela prática, depois por assistir. A prática e o espetáculo permanecem, para alguns, como prioridades nos períodos de não trabalho e de não estudo. Para outros, podem ser prioridades “zero”, ou seja, não são canceladas sob nenhuma hipótese.
Esse futebol, que já foi só diversão, passa a ser investigado cientificamente. E a ciência dá trabalho. Dá tanto trabalho que parece, muitas vezes, impossível conciliá-la com o trabalho, aquele que paga as contas. A necessidade de mudar o foco de dedicação conforme a hora do dia é para poucos.
O objeto de estudo, que sempre deu tanto prazer como diversão e que pareceu ser algo tão tranquilo de ser tratado sob à luz das teorias sociais e humanas, começa a se tornar um fardo, pesado e difícil de ser transportado.
Realmente o futebol muda de figura conforme o olhar que se remete a ele. Deve ser assim com todos os objetos de estudo. Tentar observá-lo com “as lentes” do pesquisador é um desafio interessante e que demanda tempo, às vezes, muito tempo. Superar os primeiros obstáculos então, é tarefa dura.
E a grande paixão nacional? E a alegria do povo? E as piadas de torcedor? Estão intrínsecas a todo esse campo que é investigado, o mundo do futebol, mas não aparecem nos olhos do pesquisador, pelo menos quando ele precisa entender e escrever cientificamente sobre o tema.
A esperança é que no final de tudo, o resultado seja, no mínimo, algo diferente da queda, do fracasso. É o que esperam os torcedores, é o que esperam os pesquisadores, mesmo aqueles que não são exclusivamente pesquisadores.