TRABALHAR, ESTUDAR E
TORCER
por José Carlos Mosko
Doutorando em História (UFPR)
Eis que chega novamente minha vez de “dizer” algo. Nesse
tempo de grande turbulência pessoal/acadêmica, com os dias passando a “jato”, o
que falar, ou melhor, escrever?
Após embrenhar-se nesse mundo acadêmico, em que o objeto de
paixão se torna objeto de estudo, muitas são as contradições. A postura na
arquibancada muda, as esperanças diminuem, a magia do campo se esvazia aos
poucos. Não obstante a vontade de ir ao estádio permanece, mesmo sem cadeira,
com chuva e e frio.
Bem, não podemos esquecer que para a maioria de nós, o
interesse pelo futebol veio primeiro pela prática, depois por assistir. A
prática e o espetáculo permanecem, para alguns, como prioridades nos períodos
de não trabalho e de não estudo. Para outros, podem ser prioridades “zero”, ou
seja, não são canceladas sob nenhuma hipótese.
Esse futebol, que já foi só diversão, passa a ser
investigado cientificamente. E a ciência dá trabalho. Dá tanto trabalho que
parece, muitas vezes, impossível conciliá-la com o trabalho, aquele que paga as
contas. A necessidade de mudar o foco de dedicação conforme a hora do dia é
para poucos.
O objeto de estudo, que sempre deu tanto prazer como
diversão e que pareceu ser algo tão tranquilo de ser tratado sob à luz das
teorias sociais e humanas, começa a se tornar um fardo, pesado e difícil de ser
transportado.
Realmente o futebol muda de figura conforme o olhar que se
remete a ele. Deve ser assim com todos os objetos de estudo. Tentar observá-lo
com “as lentes” do pesquisador é um desafio interessante e que demanda tempo,
às vezes, muito tempo. Superar os primeiros obstáculos então, é tarefa dura.
E a grande paixão nacional? E a alegria do povo? E as
piadas de torcedor? Estão intrínsecas a todo esse campo que é investigado, o
mundo do futebol, mas não aparecem nos olhos do pesquisador, pelo menos quando
ele precisa entender e escrever cientificamente sobre o tema.
A esperança é que no final de tudo, o resultado seja, no
mínimo, algo diferente da queda, do fracasso. É o que esperam os torcedores, é
o que esperam os pesquisadores, mesmo aqueles que não são exclusivamente
pesquisadores.