quinta-feira, 14 de julho de 2011

Classes sociais
Estádios não se adaptaram à realidade e ao nível de exigência das faixas A e B; bilhete é injustificável
Desde os tempos em que comecei a estudar marketing e gestão do esporte durante a faculdade (e lá se vão cerca de oito anos), começou um movimento de aproximação do futebol com as classes sociais de maior poder aquisitivo, que os clubes deveriam ter um padrão de gestão de seus negócios mais segmentado, com espaços na arena de jogos para atender as classes A e B, com acessos exclusivos e por aí vai.

Com tais medidas, uma série de consequências apareciam no rol de benefícios: as famílias voltariam aos estádios, pois acreditava-se que iria diminuir a violência; o faturamento dos clubes aumentaria, por trazer pessoas para próximo de si com mais e melhores recursos; as classes C, D e E passariam a acompanhar o futebol apenas pela televisão, aumentando a venda de pacotes Pay Per View – as pessoas iriam se juntar em grupos e assistir na casa de colegas aos jogos por não ter dinheiro para ir aos jogos – dentre outros desdobramentos aparentemente plausíveis.

O que se percebe hoje é que os estádios não se adaptaram à realidade e ao nível de exigência das classes A e B e, por outro lado, os preços dos ingressos simplesmente aumentaram a um patamar que só seria compatível se houvesse melhor prestação de serviços em dias de jogos.

Passado esse tempo, inúmeras transformações ocorreram. E agora estamos vivenciando a ascensão de classes, fruto do desenvolvimento econômico do país nesse período. Leio reportagens, estudos e análises, dia após dia, procurando entender quem é essa "nova classe C", como ela consome, quais são seus hábitos e como a indústria pode se adaptar a ela.

A mais recente que vi foi sobre as adaptações que a TV está promovendo para melhor interagir com essas pessoas, sem se tornar completamente popular (para não se afastar das classes com maior poder aquisitivo).

Enquanto isso, no futebol, identifico apenas iniciativas pontuais para se aproximar desse nicho de mercado, após uma aparente tentativa de se afastar deles. Os produtos licenciados, por exemplo, começam a ganhar corpo no leque de opções de faturamento dos clubes, mas carecem ainda de estratégias de segmentação por classes já que tendem a serem ofertados com preços incompatíveis para aqueles com orçamentos mais limitados.

Quando olhamos para os estádios e suas respectivas taxas de ocupação, percebemos o quanto que o futebol não conseguiu se aproximar efetivamente das pessoas com mais recursos e como se afastou daquelas com menor poder aquisitivo.

Essa incongruência é fruto da falta de gestão do conhecimento organizacional e de mercado.

O futebol no Brasil acaba ficando sempre para trás em relação àquilo que o ambiente externo emite de informação. O processamento desses dados acaba por ser lento, sendo que “o remédio só é aplicado quando o vírus já foi embora”.

Assim, resta saber: o que o futebol está preparando para efetivamente atender os interesses das novas classe C e D, se aproximando, inclusive, de investidores e do ambiente corporativo, completamente antenado a esses movimentos?

É crucial pensarmos em soluções antecipadas nesse e em outros sentidos, sob pena de a cada dia perder espaço para outros concorrentes da indústria do entretenimento

Fonte: http://www.universidadedofutebol.com.br/Jornal/Colunas/3,11453,CLASSES+SOCIAIS.aspx

Texto sugerido por Edson Hirata

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