ANPUH 50 anos
São Paulo, 17 a 22 de julho de 2011.
Universidade de São Paulo (USP)
Cidade Universitária
Para Nelson Rodrigues torcer pelo Fluminense não era uma questão de escolha. Era uma obsessão, ou muito mais do que isso: um destino.
Para conhecer mais sobre este caso de amor, consulte: RODRIGUES FILHO, Nelson (org.). O profeta tricolor: cem anos do Fluminense - crônicas. São Paulo: Companhia das Letras, 2002.
They don`t really care about us
Natasha Santos
Sangue, suor e poucas lágrimas. Foi esse o foco de todos os noticiários, na semana passada, com a histórica invasão da polícia a um dos maiores complexos de favelas do Rio de Janeiro. Pois bem, como todos devem lembrar, a missão pacificadora se deu após uma onda de violência nunca dantes por mim vista. Uma espécie de guerra civil que não acabava nunca e preocupava a opinião pública, afinal, o Brasil – entenda-se Rio de Janeiro – será nada mais, nada menos do que sede da Copa do Mundo, além das Olimpíadas, é claro.
O diagnóstico quase profético de um velho e batido complexo de vira-latas parece latente ao brasileiro: é constante a necessidade de mostrar algo aos estrangeiros ocidentais, cujo fio condutor parece estruturado por uma politicagem infindável! Talvez eu nunca esqueça o Sérgio Cabral acenando para a população e para os repórteres, com um sorriso político no rosto, enquanto carros pegavam fogo e crianças eram atingidas na perna por não obedecerem aos traficantes. Mas essa é uma outra discussão...
Todavia, ainda falando em politicagem, opinião pública e tudo o mais, Ricardo Teixeira precisou acalmar os ‘opinadores’ públicos quanto à realização da Copa em 2014. Depois de ratificar a confiança no poder de planejamento, Teixeira assegurou que a “cidade-sede do Rio de Janeiro terá o clima de normalidade necessário para a disputa da Copa das Confederações”, em 2013.
Dito e feito. Em menos de uma semana a polícia e todas as forças do bem invadiram o Complexo do Alemão e a situação foi controlada.
É certo que se tratava de uma situação insustentável e era preciso agir rápido. Entretanto, a minha dúvida é por que não fizeram isso antes? Será mesmo que o ‘Tropa de Elite’ teve um efeito tão grande, a ponto de modificar parte da realidade? Algo deu errado no esquema... Mas é difícil saber se determinadas decisões são de fato tomadas em prol do povo.
Ah, se o Brasil fosse sede da Copa antes...
Vendo algumas notícias do mundo esportivo, duas relacionadas ao futebol me chamaram a atenção:
A primeira refere-se a saída do atleta Richarlyson, que após ficar 5 anos e meio despede-se do São Paulo e isto ocorre em tom de melancolia. Após várias críticas relacionadas a sua vida pessoal o resultado foi em um grande desgaste com uma parcela significativa de torcedores do clube. Para estas pessoas o futebol é um espaço eminentemente masculino e qualquer atitude que contrarie este princípio é veementemente negado.
A segunda reportagem refere-se a contratação do jogador Adriano (o Imperador), conhecido no mundo esportivo pelas suas grandes jogadas dentro de campo e também pelos indícios de envolvimento ilegais ocorridos fora de campo (drogas, vida boemia, álcool...). Contudo, a única preocupação com este atleta é como conseguir um pouco mais de trezentos mil reais para pagar METADE do seu salário, pois a sua atual equipe italiana (Roma) pagará a outra metade (porque será?) e liberará o atleta caso o Palmeiras consiga a sua parte dos recursos financeiros.
Nestas duas reportagens o que mais me chamou a atenção não foi a qualidade dos atletas, mas a forma com que os valores morais tem sido tratado na nossa sociedade. Isto é preocupante porque estes ídolos são referências para uma série de meninos que sonham ser como eles. Mas a partir destes indícios é possível afirmar que no futebol você pode ser o que quiser desde que seja MACHO!
CONFIRA NA ÍNTEGRA AS MATÉRIAS
Imprecisão, incerteza e paixão
Ernesto S. Marczal
Núcleo de Estudos Futebol e Sociedade
As últimas rodadas do Campeonato Brasileiro vêm sendo marcadas pela polêmica própria da mobilização passional característica do futebol. Com a competição aproximando-se da definição, lances, comentários e posturas dentro e fora dos gramados adquirem conotação diferenciada. Analistas, comentaristas, jogadores e torcedores tomam a palavra, desfrutando da liberdade de opinião fomentada pela própria regra do esporte: sua iminência interpretativa. Entre a multiplicidade de comentários, de posturas e pontos de vista (complementares ou controversos), os indivíduos buscam (nem sempre) a argumentação racional como forma de legitimação da opinião emitida. Em um esporte cuja regra resguarda lacunas de imprecisão e incerteza, no qual o resultado flerta permanentemente com a imprevisibilidade (“nem sempre o melhor time vence”), propiciando a manifestação irregular e repentina de emoções, sua medição, utopicamente, recai sobre a assertiva da razão.
Entretanto, a exigência de uma leitura racional, neutra, imparcial, objetiva do campo de jogo recai sumariamente sobre poucos indivíduos. Embora a mobilização proporcionada por uma partida de futebol de grande porte chegue mesmo à casa dos milhões, somente os responsáveis pela arbitragem possuem o compromisso irrestrito com a clareza da razão e da objetividade. A figura do arbitro, sobretudo, incorpora o pretenso ideal de justiça, neutra, imparcial, lógica e racional. Com tamanha responsabilidade o arbitro se torna a antítese da deliberação livre que permeia as manifestações correlatas ao jogo da bola. Se nos estádios existe uma relativa liberdade de manifestação dos indivíduos, somente a palavra do arbitro tem a força de se impor como “verdade” objetiva. Inconteste ou não, suas decisões assumem caráter imperativo, indiferente aos demais murmúrios, protestos e comentários. Contrariando a perspectiva do futebol como representação democrática e popular, o arbitro desempenha papel despótico. Mais do que a primazia sobre o desenrolar do jogo (marcação de faltas, validações dos gols, punições aos jogadores, etc.) também é o único que detém a autonomia diante da imprecisão da norma. Afinal a interpretação válida não se dá aos olhos de qualquer um, mas a partir do julgamento imediato do arbitro. Desta forma, sua decisão, supostamente pautada na capacidade de racionalização da regra, é eminentemente autoritária.
Ao contrario do que possa parecer, a posição desempenhada por estes personagens não é necessariamente privilegiada. A complexidade da função e a responsabilidade que acarreta fazem da função extremante impopular. Em um campo onde afloram paixões, os árbitros devem ser os únicos a se manter sobre o crivo irrestrito da razão. Mais do que mediar o jogo, exigi-se que estes se mantenham imunes a eclosão dos sentimentos despertos pelo esporte. Para isso cobra-se destes sujeitos o preparo necessário. Afinal, tarefa tão complexa não deve pode ser desempenhada por qualquer pessoa. O sinônimo deste preparo diferenciado muitas vezes é sintetizado sob o signo do “profissionalismo”. Porém, diferentemente dos atletas e comissão técnica, o árbitro ainda mantém a configuração do “amadorismo marrom”. Embora receba para trabalhar nos jogos sua categorização institucional ainda não existe. Poucos são os casos em que a dedicação à função é exclusiva. Esta, contudo, é apenas parte da questão. Mesmo o profissionalismo não suprime a manifestação das paixões e erros inerentes a posição humana do árbitro.
Neste sentido, como solução para as mazelas da incerteza humana crescem os defensores da tecnologia no esporte. Comunicação via rádio entre os integrantes, bandeira eletrônica, chip na bola para sinalizar se bola entrou ou não. Algumas destas medidas já devidamente experimentadas. Entre as medidas mais polemicas discute-se a utilização da imagem. O “replay” durante as partidas é por vezes sinalizado como medida definitiva para retirar as dúvidas nos lances mais difíceis. Partido do pressuposto de que as lentes das câmeras disporiam de uma perspectiva estritamente objetiva e imparcial, sua utilização continuaria marcada pela incerteza. Como o resto do jogo a leitura da imagem continuaria submetida a múltiplas interpretações. Ainda assim, a decisão final continuaria sob opinião autoritária, muitas vezes parcial e não consensual.
Não pretendo questionar a necessidade do árbitro ou me colocar contra a introdução da tecnologia no esporte. Longe disso. Mas diante de tamanha carga emotiva, é ao menos sintomático a busca da razão como mediadora das paixões humanas num campo de futebol. Inclusive por parte do “juiz”.
Assistindo o jogo de hoje envolvendo as equipes do Corinthians e do Cruzeiro, não pude deixar de me lembrar do filme “Boleiros”, onde um dos personagens centrais foi o árbitro “Virgílio Penalty”. É claro que naquele episódio a ficção acabou escancarando algo que todos imaginavam existir no futebol brasileiro.
Entretanto, com a onda de moralização criada em nosso país (me permitam abrir um parênteses, pois se não houveram muitos políticos caçados, no futebol o tapetão deixou de ocorrer, ou seja, os piores times caíram e os melhores subiram, conforme previa o regulamento da competição). Neste contexto, vender um jogo, ou ter o resultado influenciado intencionalmente por um árbitro tornou-se algo quase impensável, principalmente porque a presença da televisão e a busca incessante pelo furo de reportagem tem auxiliado para que as falcatruas deixem de ocorrer (pelo menos de forma explícita) no mundo futebolístico.
O gol de Ronaldo que sofrerá um penalty duvidoso, aos 43 minutos do segundo tempo, digo duvidoso porque se os árbitros fossem marcar este tipo de lance, cada jogo do campeonato brasileiro teria no mínimo 5 ou 6. Porém esta atitude do rei dos penaltys, nos gera algumas indagações: Porque os jogadores quase arrancam a camisa do adversário durante a cobrança do escanteio e ninguém apita nada? Porque durante esta mesma partida o árbitro chamou a atenção dos jogadores antes das cobranças de escanteio? Porque em um lance bisonho no final do jogo resolveu-se marcar algo que não fora marcado até então? Será mero acaso? Será que o campeonato está encomendado? Não, não quero acreditar nisto. Prefiro realmente continuar acreditando que isto só acontece nos filmes de ficção.
Mas acompanhe a matéria e tire você mesmo as suas conclusões. http://www.futebolinterior.com.br/news.php?id_news=158752
Texto escrito e reportagem sugerida por: Miguel A. de Freitas Jr.