segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Crônica da Semana


Futebol brasileiro: modernizar ou organizar?

Daniel Ferreira
 
 
A palavra modernização, talvez seja uma das que mais se ouça nos círculos que engendra o futebol brasileiro atualmente, mas também já há muito tempo. Vez por outra se escuta o “decreto” recorrente de algum cronista: “O futebol brasileiro precisa se modernizar!”. Há também especialistas de gestão, provenientes de instituições renomadas que desenvolvem estudos nesse sentido, significando aqui uma maior incorporação de paradigmas empresariais aos clubes. Mas o que me chama atenção é o que seria essa tal “modernização” do futebol brasileiro numa acepção geral, política. E afinal seria ela importante mais importante do que, por exemplo, uma tentativa de organização da configuração social, política e econômica mais sustentável do futebol brasileiro.

Na academia, o termo ‘modernização’ numa perspectiva histórica experimentada pelo futebol brasileiro (à partir da década de 1980) da vazão a sentidos e conceitos díspares, mas de uma forma geral ver-se-á que pelo menos em grande parte das leituras, o conceito está envolvido de alguma forma com a idéia de mercantilização do desporto.

Por outro lado, no que poderíamos chamar de senso comum, o conceito absorve atualmente ainda a perspectiva mercantilista, e vem acompanhado invariavelmente de interpretações (míticas, ou passionais) “porque temos os melhor futebol porém a pior administração”. E que logicamente podem se desdobrar no ufanismo : “logo quando nos modernizarmos, seremos naturalmente o melhor futebol do planeta!”.
 
Minha opinião é que se consideramos o futebol como parte integrante de toda a sociedade - ou como dá a entender a “Lei Pelé” é patrimônio nacional – e considerando ainda a sua repercussão, de um ponto de vista político não se pode perder de vista realmente o que se quer numa perspectiva de fomentar o desenvolvimento do desporto no país. Portanto antes da modernização – seja lá o que isso signifique - caberia melhor pensar em como organizar nossa sociedade no futebol também, comprovadamente uma das mais desarmônicas em termos econômicos, educacionais e de cultura política por exemplo – o que se reflete no campo esportivo. E isso vai muito, mas muito além de um discurso etnocêntrico e regional, com os pés no Rio-São Paulo, com os olhos na Europa, e com um discurso burguês que incorpora um ufanismo de brasilidade, e que muitas vezes acaba legitimando a manutenção subdesenvolvida do futebol brasileiro de uma forma geral.