segunda-feira, 28 de março de 2011

Crônica da semana:

Algumas ponderações sobre futebol e racismo
por Ernesto Sobocinski Marczal

Na última semana novos casos de racismo foram relatados no futebol do Velho Continente. Dois laterais brasileiros, o já consagrado Roberto Carlos recém-chegado à Rússia, e Marcelo do espanhol Real Madrid, relataram episódios recentes em partidas válidas pelos respectivos campeonatos locais. Neste domingo, ao final do amistoso disputado contra a Escócia, em Londres, alguns jogadores da Seleção Brasileira também teriam sido alvo de supostas atitudes racista por parte dos torcedores rivais, com uma banana sendo atirada no gramado. O portal Terra reproduziria a declaração do jovem meia-atacante Lucas sobre o ocorrido: “Acredito que o racismo no mundo em que vivemos hoje não tem mais espaço. E na Europa, que dizem ser de primeiro mundo, é onde acontecem mais essas coisas. Hoje, cor e raça não querem dizer nada. Nós só pedimos respeito”.

Paralelamente, campanhas de combate ao racismo tem sido implementadas por entidade esportivas e clubes de futebol. Entre as ações publicitárias mais recentes, a tradicional equipe catalã do Barcelona veiculou um vídeo promocional com alguns de seus principais atletas dizendo “deixe o racismo fora de campo” em diferentes idiomas.

Simultaneamente, visualizamos faces distintas de um mesmo problema. De um lado manifestações racistas em estádios e campeonatos considerados como exemplo de organização desportiva. De outro o esforço das entidades responsáveis pelo espetáculo em coibir tais manifestações. Contudo oque estes eventos recentes simbolizam? A preocupação com uma situação incompatível com atual posição do futebol no cenário mundial enquanto espetáculo midiático? O reconhecimento da representatividade e reponsabilidade social do esporte? Os reflexos de situações sociais mais amplos? Difícil definir uma única resposta, ou mesmo uma pergunta precisa sobre uma temática tão complexa e multifacetada como esta. As variadas possibilidades exigem uma investigação empírica pormenorizada. De forma que, por enquanto, tomamos liberdade de realizar apenas algumas insinuações sobre o assunto.

Embora louvável, as iniciativas de combate ao racismo não se debruçam definitivamente sobre a questão. As campanhas defendem a conscientização dos torcedores e atletas evocando o espirito desportivo, porém pouco se aprofundam nos fatores socioculturais que embasam tais acontecimentos. Ao desenvolver mecanismos que coíbam o racismo no futebol, com a punição a atletas, clubes e torcedores, trabalham para que ações deste tipo se tornem menos visíveis.

Um comentário:

  1. André Alexandre Guimarães Couto28 de março de 2011 às 13:28

    Caro Ernesto:

    Parabéns pelo post. Acho que a questão do racismo em jogos de futebol representa um microcosmos da própria sociedade em que vivemos. O racismo no esporte, mesmo que utilizado para provocar o adversário, expressa um sentimento de não pertencimento, de exclusão, de uma relação de posição superior/inferior.

    Ocorrer na Europa, então, mesmo que possamos criticar o eurocentrismo, demonstra que a crítica à eugenia e os resultados da II Guerra Mundial não foram sufientes para apagar esta demonstração de ignorância e desrespeito ao ser humano.

    No entanto, é um fenômeno que tem aumentado, por meio da xenofobia e do avanço de ideias e políticas da direita europeia e norte-americana.

    Como em vários outros processos históricos, vamos esperar que esta onda xenófoba não atinja o continente americano, alimentando ainda mais o sentimento racista que infelizemnte também temos.

    Um abraço,

    André Alexandre Guimarães Couto

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