segunda-feira, 25 de abril de 2011

"Jogo Sujo" expõe relação de Joseph Blatter com filho de Gaddafi

O nome de Andrew Jennings é dos primeiros na lista negra da Fifa. O jornalista britânico, repórter investigativo há mais de 30 anos, é até barrado nas coletivas de imprensa promovidas pela entidade. Parte da razão de tudo isso são as manobras duvidosas feitas por cartolas do futebol mundial narradas em "Jogo Sujo: O Mundo Secreto da Fifa", que a Panda Books lança no Brasil.

No livro, Jennings fala sobre a relação entre o atual presidente da Federação Joseph Blatter com o antecessor João Avelange e o mandatário da CBF Ricardo Teixeira, aborda as ligações suspeitas do suíço com os patrocinadores da entidade e de grandes clubes e seleções e revela esquemas de compras de votos e ingressos de Copas do Mundo, entre outras coisas.

No trecho abaixo, extraído do capítulo 26, intitulado "Sepp Blatter parte o coração de Mandela", o jornalista relata o imbróglio da escolha da África do Sul como sede da Copa de 2010. Em parte do texto, ele cita a relação do presidente da Fifa com Al-Saadi Gaddafi, filho do ditador líbio Muammar al-Gaddafi.

Al-Saadi, que na época também era jogador de futebol, defendia a candidatura da Líbia como sede da Copa de 2006 e, posteriormente, de 2010. Veja mais detalhes no trecho abaixo.

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Perugia, agosto de 2003. "Blatter sabe que fomos apenas eu e Bin Hammam que o ajudamos a assegurar a cadeira de presidente da Fifa", contou vantagem o meio-campista árabe, magro e com uma barba rala. Depois de uma sessão de treinamento do Perugia, seu time da série A do campeonato italiano e que leva o mesmo nome de uma cidade medieval a 170 quilômetro de Roma - percurso que ele fazia voando em seu Ferrari -, Al-Saadi Gaddafi declarou à imprensa: "Blatter me procurou e pediu ajuda contra Hayatou. Bin Hamman e eu devemos ganhar o crédito por sua vitória nas eleições presidenciais".

O bilionário de trinta anos, que aceitara jogar sem receber salários, uma vez que seu clube corria o risco de rebaixamento, estava promovendo a candidatura de seu país como sede da Copa do Mundo de 2010, a primeira a ser prometida exclusivamente a uma nação africana. Depois que a Alemanha fora escolhida para sediar o torneio de 2006, Blatter e seu Comitê Executivo tinham decidido que no futuro haveria um revezamento de continentes; para 2010, somente países africanos poderiam se candidatar.

Mas qual escolher? Líbia, Tunísia, Marrocos, Egito e África do Sul queriam sediar a Copa. E Blatter queria que todos pensassem que tinham chance.

Os críticos achavam risíveis as pretensões da Líbia, país que não possuía um único estádio de nível internacional. Gaddafi insistiu: "Não se trata de infraestrutura. Trata-se de relações, e as nossas relações com o pessoal da FIFA são muito fortes. Afinal de contas, eles nos devem muito. Tenho certeza de que a Líbia vai vencer".

Seu pai, o coronel Muammar Gaddafi, ditador da Líbia desde que tomou o poder em 1970, tinha prometido gastar 14 bilhões de dólares em novos estádios e tudo que fosse preciso para agradar a seu terceiro filho, que era presidente da federação de futebol do país. E, a despeito da opinião dos analistas sobre as chances da Líbia, Blatter e seus amigos sempre ficavam felizes de conversar com o garoto.

"Acredito piamente que as minhas relações pessoais com figuras proeminentes da Fifa serão um impulso à nossa candidatura", afirmou o jovem Gaddafi. "Temos relações fabulosas com o sr. Blatter, Julio Grondona e Franz Beckenbauer. Isso será fundamental para a nossa campanha". O presidente Blatter chegou a viajar a Trípoli como convidado de honra em agosto de 2003, quando a equipe Juventus, clube do qual Al-Saadi possuía 5% das ações, venceu o Parma por 2x1 na decisão da Supercopa da Itália, partida da pré-temporada do campeonato italiano.

O técnico Francesco Scoglio levou a Seleção Líbia a uma série de impressionantes vitórias. Mas, depois, "Fui demitido porque eu não o deixava jogar [AL-Saadi]", relatou Scoglio ao jornal Corriere dello Sport. "E eu jamais o colocaria em campo, nem por um minuto. Ele é imprestável como jogador. Com ele no time, só perdíamos. Quando ele não jogava, ganhávamos."

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"Jogo Sujo: O Mundo Secreto da Fifa"
Autor: Andrew Jennings
Editora: Panda Books

Texto sugerido por:José Carlos Mosko


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