segunda-feira, 17 de março de 2014

Carnaval realmente combina com Futebol?


André Alexandre Guimarães Couto
Olá, caros (as) leitores (as):
Fugindo um pouco da minha proposta de discutir a relação entre Imprensa e os Esportes, mas ainda assim utilizando a mídia como fonte para este post, resolvi pensar junto com vocês algo que vem tomando o meu tempo há alguns anos. Se o Carnaval é a nossa principal festa popular e se o futebol é o nosso principal esporte e ambos permeiam a nossa cultura nacional, por que, por vezes, a combinação entre eles nem sempre é reconhecida positivamente?
Para exemplificar, podemos utilizar três dos quatro grandes times de futebol do Rio de Janeiro. Em 1995, no ano comemorativo do centenário do Flamengo, a Escola de Samba Estácio de Sá lançava o enredo “Uma Vez Flamengo” (clara e óbvia alusão ao hino oficial do time rubro negro) e conseguia um modestíssimo sétimo lugar no Grupo Especial (principal).
Pior ainda foi o desempenho da Escola de Samba Unidos da Tijuca (hoje campeã na era Paulo Barros, o talentoso carnavalesco da agremiação do Morro do Borel) em 1998, quando a mesma resolvera homenagear o centenário do Vasco da Gama com o enredo “De Gama a Vasco, a Epopéia da Tijuca”. Resultado final: 13ª colocação no Grupo Especial e rebaixamento para o então Grupo de Acesso (hoje, Grupo A).
Em 2002, mais um centenário de um time grande e a Escola de Samba Acadêmicos da Rocinha homenageava o Fluminense com o enredo: “Nas Asas da Realização, Entre Glórias e Tradições, a Rocinha Faz a Festa dos 100 Anos de Campeão… Sou Tricolor de Coração!”. Porém, mais um vexame clubístico: 13ª colocação no Grupo de Acesso.
Estes três exemplos acima são importantes, mas também são parciais. Podemos concluir, apesar de sabermos da importância de um estudo bem mais aprofundado, que a relação entre clubes de futebol do Rio de Janeiro e o Carnaval exibido pelas principais escolas de samba desta cidade não geraram resultados expressivos na competição entre as mesmas. Vejam, esta é a realidade da cidade do Rio de Janeiro, pois em São Paulo, teríamos que levar em conta, por exemplo, a formação de escolas de samba a partir de torcidas organizadas como a Gaviões da Fiel e a Mancha Verde.
Mas, algumas hipóteses poderiam ser levadas em conta. A primeira é de que poderia haver uma certa resistência no universo carnavalesco em detrimento do futebol, que já dominaria a atenção dos cariocas e brasileiros durante todo o ano. Ou de que a paixão pelos clubes de futebol seria um elemento na hora do lançamento das notas pela Comissão Julgadora. Ou seja, o que acabaria sendo julgado seria o clube e não o desfile da escola de samba. Por fim, em alguns casos, a aproximação de determinados dirigentes dos clubes com as escolas, poderia gerar uma antipatia geral, entre os demais clubes, escolas de samba, torcedores, foliões, etc. Até hoje, a escola de samba Unidos da Tijuca tem uma forte relação com o Vasco da Gama. Era possível ver na comemoração deste ano (ao vencer o Grupo Especial) camisas e bandeiras do cruz-maltino.
Porém, este raciocínio não vale tanto quando tratamos da idolatria. Se os clubes sofrem para se destacar como enredos nas principais escolas de samba, os ídolos do futebol apresentam melhores resultados. Seja porque se destacaram em um contexto mais amplo (clube e seleção), seja pela carreira ilibada e responsável (sendo considerados, portanto, grandes profissionais, inclusive pelos torcedores de clubes rivais) ou mesmo pela simpatia e carisma pessoais.
Nestes casos, temos como fortes exemplos a homenagem a Nilton Santos pela Unidos de Vila Isabel em 2002 que, com o enredo “O Glorioso Nilton Santos… Sua Bola, Sua Vida, Nossa Vila…” conseguiu o vice-campeonato no Grupo de Acesso.
Neste ano de 2014, a Imperatriz Leopoldinense homenageou Zico com o enredo “Arthur X: O Reino do Galinho de Ouro na Corte da Imperatriz” e conquistou o 5º lugar no Grupo Especial.
Apesar de um certo destaque, ainda é pouco e modesto se comparado com os resultados das escolas de samba que homenagearam grandes ídolos da música, literatura e cultura de forma geral, como a Imperatriz Leopoldinense com Lamartine Babo (Campeã do Grupo 1-A em 1981), Beija-Flor com Bidu Sayão (3ª Colocada do Grupo Especial em 1995) e Roberto Carlos (Campeão do Grupo Especial em 2011) e a Estação Primeira de Mangueira com Dorival Caymmi (Campeã do Grupo 1-A, em 1986), Carlos Drummond de Andrade (Campeã do Grupo 1-A, em 1987) e Chico Buarque (Campeã do Grupo Especial em 1998).
Não poderíamos deixar de mencionar a grande vitória da Unidos da Tijuca em 2014, com o enredo “Acelera, Tijuca”, com ênfase na homenagem à Ayrton Senna. Um ídolo nacional do esporte. Pois é, esporte, não futebol. Mas, sobre isto comentaremos em um próximo post.
Referências:
CARNAVAL 2014. Disponível em: <http://liesa.globo.com/&gt;. Acesso em: 09/02/2014.
CARNAVAL E BOLA: relembre os desfiles que levaram o futebol para a Avenida. Disponível em: <http://m.globoesporte.globo.com/futebol/noticia/2014/03/carnaval-e-bola-relembre-os-desfiles-que-levaram-o-futebol-para-avenida.html&gt;. 02/03/2014. Acesso em: 09/02/2014.

Comentários de André Couto: Este texto foi publicado originalmente no blog do SPORT (Laboratório de História do Esporte e do Lazer/UFRJ): http://historiadoesporte.wordpress.com/ e republicado no site Ludopédio (mês de março/2014).