domingo, 11 de dezembro de 2011

Crônica da Semana


Futebol, qual paixão?
Luiz Carlos Ribeiro

As últimas semanas aconteceram fatos que nos levam a refletir – sempre e sempre! – sobre o forte envolvimento emocional que o futebol exerce sobre todos nós.

Podemos começar pelas recentes investidas de marketing do desgastado Teixeira e de sua/nossa entidade, a CBF, lembrando-nos da nossa paixão pelo futebol. A conversa começou com a indicação pela Presidente Dilma, em julho último, de Pelé como embaixador honorário da Copa de 2014. Explicitamente foi uma forma da governante se distanciar da imagem de Ricardo Teixeira. Se associar o governo à imagem da seleção tem sido uma prática comum no Brasil (desde Vargas nos anos 1930/40, os militares nos anos 70, até Lula), explicar que CBF/Teixeira não é Neymar nem seleção brasileira, certamente não será tarefa fácil.

Até por que os políticos brasileiros e base política de Dilma – de Brasília e das capitais envolvidas na Copa – estão comprometidos não com futebol-arte de Neymar, mas com as oportunidades (que alguns mais puristas preferem chamar de legado) e investimentos que supostamente a realização da Copa irá proporcionar, em especial para os seus interesses políticos (ou das empresas que patrocinam suas candidaturas).
Foram diversos os momentos em que as divergências entre governo federal e Teixeira se explicitaram nos últimos anos. Um deles pode ter sido com a infeliz entrevista concedida por Teixeira ao jornal cultural Piauí, em junho deste ano. Nesta entrevista, o dirigente tornou pública a sua prepotência, desdenhando da imprensa e deixando claro que eventos esportivos – desde o campeonato brasileiro a Copa de 14 – são organizados conforme a sua vontade. Chegou a afirmar que as denúncias contra ele por alguns jornais e TV não tem repercussão, e que só se preocuparia quando as denúncias chegassem ao Jornal Nacional. Manifestação que repercutiu como uma declaração pública de que era um protegido da Globo.

Nessa entrevista, Teixeira dirigiu sua crítica em especial à reportagem que a Record levara ao ar com um dossiê sobre abuso de poder e malversação de recursos via CBF. Na verdade, a serie da Record só foi produzida após a derrota desta para a Rede Globo, na disputa pela transmissão dos jogos do brasileirão de 2012/13. O mesmo imbróglio que resultou no fim político do Clube dos 13. As denúncias da série televisa foram baseadas no livro do jornalista inglês Andrew Jennings e no relatório da CPI CBF-Nike, publicado em livro 2001 pelos então deputados Silvio Torres e Aldo Rebelo (atual Ministro dos Esportes).

Quase toda discussão na imprensa, nesse momento, afirmava que até 2014 o Brasil estará sendo governado em torno do poder político de Ricardo Teixeira. O governo brasileiro – leia-se Presidente Dilma – será mero coadjuvante dos interesses da FIFA e sua filiada, a CBF.

O problema é que – assim como vem acontecendo com vários ministros – ao se tornar figura central da política brasileira, Ricardo Teixeira perdeu o controle sobre as disputas em torno do evento de 2014.
Desde governadores, prefeitos, deputados, empresários, dirigentes de clubes, enfim todos os que de algum modo vêm perspectivas de ter ganhos com a realização da Copa passaram a pressionar o comandante da CBF. De tal maneira que a velha estratégia de acomodar os amigos começou a se tornar inviável. Em síntese, os descontentes, os que estavam ficando de fora do “legado” da Copa, tornaram-se inimigos de Teixeira e passaram a escancarar suas manobras.

E, o sinal temido por Teixeira, não demorou a acontecer. Em agosto desse ano o Jornal Nacional apresentou reportagem de 3 minutos destacando as irregularidades ocorridas no amistoso entre Brasil e Portugal, em 2008.
Segundo a denúncia, a empresa Ailanto Marketing, criada em cima da hora por Teixeira para promover o evento, sequer tinha telefone de contato e que os nove milhões de reais repassados pelo governo de Brasília eram irregulares. Veja a reportagem em: http://www.youtube.com/watch?v=byVLRy-fvaw Alguns meses após a denúncia o governador distrital, José Roberto Arruda, teve seu mandato cassado.

A partir daí foram diversas os manifestações da Rede Globo, expondo de forma clara as denúncias contra Teixeira. Ver mais em: http://www.youtube.com/watch?v=PvwubNjAvjE&feature=related
Nesse momento Dilma não mais recebia Teixeira e se recusava a sentar ao seu lado em ventos públicos. Aliás, o próprio Teixeira passou a evitar aparecer em público. O seu desgaste acelerou a demissão, por acusação de corrupção, de um seu aliado, o Ministro dos Esportes Orlando Silva.
Além do front nacional, Teixeira, pelo mesmo motivo de não conseguir conciliar amigos e inimigos, viu seu sonho de candidatar-se à presidência da FIFA em 2015 virar pesadelo. Na tentativa de enfraquecer Blatter, Teixeira apoiou o representante do Catar, Mohamed Bin Hamman. Não por acaso, estoura denúncias contra Teixeira e Hamman envolvendo negociatas que ultrapassavam a casa dos US$ 150 milhões. Como resultado Teixeira conquistou um adversário de peso, Joseph Blatter, presidente reeleito da FIFA.
De volta ao front nacional, de posse desse material o Ministério Público Federal pediu a abertura de inquérito policial contra Ricardo Teixeira por lavagem de dinheiro.

Nesse momento, enquanto o Deputado Federal Romário sugere ao governo um interventor na CBF, Teixeira dá ainda sinais de vida e nomeia Ronaldo Fenômeno como membro do Comitê Organizador da Copa de 2014. Triste fim para as imagens de Pelé e Ronaldo. Quando de sua apresentação como membro do Comitê, Ronaldo lê de forma reticente quais serão as suas tarefas, e afirma que assumia na perspectiva salvar a imagem da Copa do Mundo de Futebol no Brasil. Afirma que está pensando no povo e que perspectiva é a de “aproximar pessoas” acabar com as desconfianças, mesmo sabendo que pode estar “jogando pela janela” toda a história de sua vida. E conclui com uma frase lapidar: “copa do mundo não se faz com hospital, se faz com estádios “. (ver depoimento em: http://sportv.globo.com/videos/copa-2014/v/ronaldo-membro-do-comite-da-copa-2014fala-sobre-as-tarefas-do-novo-cargo/1715796/)

Somada a essa cartada de marketing, a CBF lançou a cerca de duas semanas um vídeo sobre as realizações da entidade – leia-se Ricardo Teixeira – em que, ao final do vídeo lê-se abaixo do emblema da CBF a seguinte frase: “CBF cuidando da nossa paixão.”

2 comentários:

  1. Arruda tem um processo porque não fez licitação para o jogo do Brasil com Portugal. Pois bem: e por que não processam Aécio Neves que fez a mesma coisa, com os mesmos personagens? Por que Arruda? Por que não Aécio? Quem duvidar basta ir para este endereço http://aecioneves.blogs.sapo.pt/2011/07/ e checar.

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  2. Olá, Prof. Ribeiro:

    Parabéns pelo post. Infelizmente, acredito que a Copa do Mundo vai ser um fiasco para quem acredita em realizar um megaevento honesto no Brasil.Pode ficar pior: as famílias próximas ao Estádio de Itaquera, por exemplo, já não dormem com os rumores de que serão tiradas de seus lares e que ganharão um aluguel social de 6 meses de duração.

    Estádios em Manaus, Natal e Cuiabá são piadas de péssimo gosto, já que estamos falando de dinheiro público.

    Para fechar: o discurso de Ronaldo sobre hospitais, é o mesmo de Mário Filho em 1950... Anacronismos a parte, a diferença é que lá não tinha uma figura do porte de Teixeira...

    Um abraço,

    André Alexandre

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