terça-feira, 17 de abril de 2012

Corinthians está próximo de ser um dos clubes que mais faturam no mundo

Clube quadruplicou receitas do futebol em cinco anos e em breve estará no seleto grupo dos vinte mais ricos do mundo na Deloitte Football Money League
Thiago De Rose*
No último mês de fevereiro, a consultoria inglesa Deloitte divulgou, através do seu Sports Business Group, o tradicional estudo de faturamento dos clubes de futebol: o Deloitte Football Money League. Nele, a empresa lista os 20 clubes com maiores faturamentos na temporada anterior, neste caso a de 2010/2011, e divide estas receitas em três grandes blocos: Broadcasting (transmissão dos jogos), Commercial (patrocínios, licenciamentos, ações comerciais, etc.) e Matchday (literalmente, “dia de jogo”, ingressos, alimentação, estacionamento, etc.).


A lista não traz nenhuma surpresa e novamente os 20 primeiros são clubes europeus. Porém, o interessante é que neste ano a Deloitte incluiu em um texto adicional uma menção a clubes de outras ligas. No Brasil, o destaque foi para Corinthians e São Paulo, que estariam entre os 50 mais ricos do mundo segundo a consultoria.

Na mesma época, o Corinthians divulgou pelo quarto ano seguido o seu Relatório de Sustentabilidade. Este importante documento traz, entre outras coisas, diversas demonstrações financeiras que nos permitem identificar os mesmos grupos de receitas que temos no relatório da Deloitte.

Desta maneira, podemos descobrir com maior precisão onde se situa o Corinthians em relação aos clubes europeus e até fazer uma previsão de quando o clube brasileiro passará a frequentar a lista da Deloitte.

A escalada do faturamento
Devido a diversas ações tomadas durante os últimos quatro anos, o Corinthians tornou-se o time que mais fatura no Brasil. A profissionalização da gestão, evolução do marketing, contratação do Ronaldo, programa Fiel Torcedor, entre outros fatores, são os responsáveis por esta escalada.

Hoje em dia, o clube apresenta receitas que o credenciam a estar próximo de entrar na lista da Deloitte. De 2007 até 2011 a receita somente com futebol, e excluindo as transferências de jogadores, quadruplicou. Em 2007, o Corinthians somou R$ 51 milhões de receita, e agora em 2011 fechou com R$ 213 milhões, ou 94 milhões de euros.

Enquanto isso, o faturamento do vigésimo colocado na lista variou pouco. Na temporada de 2006-2007, o Werder Bremen-ALE ocupava a posição, em 07-08 o Manchester City-ING, em 08-09 o Newcastle-ING, em 09-10 o Aston Villa-ING e finalmente o Napoli-ITA em 10-11. O valor subiu de 97,3 milhões de euros em 2006-2007 para 114,9 milhões de euros em 2010-2011, um aumento de apenas 18%.

A diferença do Corinthians para o vigésimo, que estava em 77% ao final de 2007, caiu para 18% agora ao final de 2011. A seguir podemos ver a evolução da receita total do Corinthians em relação ao vigésimo colocado de cada ano na Deloitte Football Money League e a linha da porcentagem que representa a diferença:

Quando o Corinthians entrará na lista?
Para responder a esta pergunta deve-se analisar separadamente os três blocos de receitas para avaliar onde há potencial de crescimento: Matchday, Transmissão e Comercial. Apesar da distância encurtada, a diferença ainda é de 20,8 milhões de euros, ou R$ 47 milhões. Este valor representa 22% da receita corintiana com futebol em 2011; então, ainda há um belo degrau a ser suplantado.

Matchday
As receitas de Matchday do Corinthians não devem sofrer grandes variações nos próximos dois anos. Devido às limitações do Pacaembu, estes valores continuarão sendo gerados apenas pela venda de ingressos. A menos que haja um grande aumento nos preços, até 2014 esta receita deve continuar estável e variar de acordo com o desempenho do time. Como exemplo, o ano de 2010 foi o mais rentável do período, pois contou com quatro jogos da Libertadores no Pacaembu.

Neste bloco, os clubes brasileiros têm grandes desvantagens em relação aos europeus. Além de ingressos, na Europa se fatura muito com camarotes, season tickets, estacionamento, alimentação, entre outros. Aqui, enquanto os novos estádios que vão suportar a exploração intensa destas atividades não são inaugurados, a diferença continuará sendo grande.

Portanto, a construção do estádio traz um grande potencial de crescimento em receitas de Matchday. Em 2015, com a utilização da Arena Corinthians, o bloco de receitas deve crescer exponencialmente devido à exploração de outras fontes como as citadas anteriormente.

A diferença de receita de Matchday do Corinthians para o Napoli é de quase 50% e evidencia a impossibilidade de aproximação sem a exploração do novo estádio, como mostra o gráfico:

Transmissão
As receitas com os chamados direitos de TV sofreram um grande aumento já em 2011 por causa do novo acordo com a Globo para a transmissão do Campeonato Brasileiro pelos próximos três anos (2012, 2013, 2014). Este contrato aproximou bastante as receitas dos clubes brasileiros com os clubes europeus de nível intermediário.

Ainda estamos muito longe dos clubes que mais recebem em ligas, como a Premier League, a Italiana e a Espanhola. Porém, os direitos de TV no Brasil já valem mais do que os da Bundesliga, da Alemanha, por exemplo. No entanto, isto também significa que estas receitas estão “engessadas” até 2014 e não há grande potencial de crescimento.

Outro “calcanhar de Aquiles” dos times brasileiros é a Copa Santander Libertadores, que paga valores ridículos se comparados à Champions League. A menos que ocorra um movimento para a valorização deste produto, o Corinthians e os demais clubes brasileiros continuarão dependendo única e exclusivamente do Campeonato Brasileiro para aumentarem significativamente suas receitas de transmissão.

Como podemos ver no gráfico, a chegada do novo contrato deu um upgrade considerável à receita de transmissão do Corinthians:

Comercial
Esta é a área onde o Corinthians já consegue se equiparar e até superar os times europeus de nível intermediário. Contando com um dos maiores patrocínios de camisa do mundo, a evolução deste bloco de receitas desde 2007 é elogiável.

Os novos valores de patrocínio de camisa pretendidos para 2012, após o final do contrato da Neo Química, podem representar um aumento de até R$ 20 milhões neste valor. O constante desenvolvimento de outras fontes de receita, como o Licenciamento de Produtos, as Franquias de Lojas e o programa Fiel Torcedor também podem ajudar na evolução das receitas comerciais. Outro fator que pode impulsionar definitivamente esta receita é a venda dos naming rights do novo estádio, com valor estimado pela diretoria em
aproximadamente R$ 20 milhões por ano.

Abaixo, podemos ver como o Corinthians evoluiu a partir de 2009 com a chegada de Ronaldo. O “Fenômeno” levou o Corinthians a obter valores expressivos que o credenciam como um dos times que mais arrecada com patrocínio de camisa no mundo. E, mais uma vez, temos a comparação com o vigésimo time da Deloitte Money League.



Conclusão
Relembrando, hoje a diferença do Corinthians para o Napoli (vigésimo da Deloitte Football Money League 2012) é de aproximadamente R$ 47 milhões, o que representa 22% da receita do clube com futebol em 2011. Para o ano de 2012, o Corinthians tem algumas possibilidades de diminuir esta diferença significativamente e estas chances se concentram nas receitas comerciais.

O novo contrato de patrocínio de camisa, seguindo a estimativa da diretoria, pode cortar em R$ 20 milhões esta diferença. Caso também seja efetuado o contrato de naming rights da Arena Corinthians dentro da expectativa da cúpula, mais R$ 20 milhões devem ser arrecadados no ano.

Com eventuais pequenos aumentos nas outras fontes de receita comercial, nas receitas de transmissão e matchday, o Corinthians pode chegar a tirar esta diferença de R$ 47 milhões. Porém, a receita do clube que vier a ser o vigésimo da lista da Deloitte também deve ser superior à deste ano, situando-se entre 120 e 125 milhões de euros de acordo a evolução dos últimos anos. Apesar de provavelmente não estar entre os 20 na Deloitte Football Money League 2013, o Corinthians certamente está no caminho certo para obter tal feito.

Podemos contar com aumento na receita de transmissão para 2014, mas bem mais modesto que o deste ano, e que deve ser compensado por aumentos também nos contratos europeus.

Já ao final de 2015 deve vir o grande salto. A Arena Corinthians trará receita adicional de matchday e colocará o Corinthians entre os clubes mais ricos do mundo. E é possível que ele não esteja sozinho, pois há outros grandes clubes que estão construindo ou reformando seus estádios (como São Paulo, Palmeiras, Grêmio e Internacional), e poderão obter receitas pela mesma forma muito maiores que as que recebem atualmente.

Nota: Conversão do Euro para o Real baseada na cotação de 23/2/12 – 1 euro = R$ 2,26
Fontes: Deloitte Football Money League – 2008 a 2012 – www.deloitte.co.uk/sportsbusinessgroup

Relatório de Sustentabilidade – Sport Club Corinthians Paulista – 2008 a 2011 - http://www.corinthians.com.br/portal/clube/default.asp?categoria=Transpar%EAncia

*Thiago De Rose é pós-graduado em Gestão Esportiva pela EAE de Barcelona e trabalha na área de Tecnologia e Inteligência do Departamento de Futebol Profissional do Corinthians
fonte:http://www.universidadedofutebol.com.br/2012/04/1,15374,CORINTHIANS+ESTA+PROXIMO+DE+SER+UM+DOS+CLUBES+QUE+MAIS+FATURAM+NO+MUNDO.aspx?p=4

Texto sugerido e com comentários de Edson Hirata
Quem um dia sonhou com este dia? Um clube brasileiro conseguindo um lugar entre as equipes que mais faturam no mundo. 
Tal proeza está ligada à melhor organização dos clubes brasileiros, mas em grande medida está vinculada ao momento econômico do país. 
A análilse dos dados indica que o crescimento do faturamento do Corinthians continuará a acontecer e o principal mecanismo será a mercantilização do novo estádio, seja com a venda dos "naming rights", seja com a exploração do "match day".
Apesar do autor indicar que outros clubes também poderão, em breve, figurar nesta lista. Penso que essa nova maneira, individualista, de negociar os direitos de transmissão tendem a beneficiar apenas Coritnhians e Flamengo. E hoje, essa fonte de renda é disparada a que mais tem trazido retorno.