segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Crônica da Semana


Existe Lógica no Futebol?
por Riqueldi Lise, mestrando em Educação Física, UFPR


Não pretendo aqui falar das coisas técnicas e táticas do futebol, ou sobre a imprevisibilidade dos resultados quando um time supostamente mais fraco vence outro. A “lógica” à qual me refiro é aquela utilizada por alguns dirigentes, no sentido de viabilizar a administração dos clubes. Especificamente nesta coluna, centrei as atenções nos quatro grandes times cariocas, nada contra eles, até porque outros clubes fora da cidade do Rio de Janeiro sofrem com problemas parecidos.

A dívida do Botafogo, segundo a Pluri Consultoria, supera a casa de meio bilhão de reais, para ser mais preciso, são 566 milhões, o que deixa o Botafogo, atualmente, com o título de clube mais endividado do Brasil. Porém, alheios a essa realidade, os diretores botafoguenses se empenharam na contratação do craque holandês Clarence Seedorf, de 36 anos, contratado pelo período de dois anos, com salário mensal de aproximadamente 625 mil reais por mês. O detalhe dessa contratação é que o Botafogo não estabeleceu nenhum tipo de parceria e não há sequer um patrocinador envolvido na transação, ou seja, o salário de Seedorf será pago, em tese, integralmente pelos cofres do clube da estrela solitária.

Já o Fluminense, cuja dívida é de aproximadamente 405 milhões de reais, está às voltas com outro tipo de problema: o clube teve penhorado pela Justiça o valor de 22 milhões de reais, por conta do não recolhimento de INSS e pagamento do FGTS. Embora o clube das laranjeiras tenha uma parceria com a Unimed, a gravidade da situação não pode ser desconsiderada, pois o clube tricolor está sem fluxo de caixa para o pagamento dos salários, e os funcionários, bem como todo o departamento de futebol estão sem receber. O próprio presidente do clube Peter Siemsen tenta tranquilizar funcionários e torcedores: “Estamos nos esforçando para que isso possa ser resolvido o quanto antes, mas não existe uma data, um prazo. Já entramos com recurso na Justiça. Tenho certeza de que isso não vai abalar o time”. 

Falando em penhora de bens, o Vasco da Gama vive uma situação mais ou menos parecida. O clube, que acumula dívidas de 387 milhões de reais, sofreu um duro golpe nas finanças. O ex-jogador e agora deputado federal, Romário, ganhou na justiça o direito de receber do clube da Cruz de Malta o valor de 58 milhões de reais por serviços prestados enquanto o atleta atuava pela agremiação. A solução dada pela justiça foi a penhora de 5% dos direitos econômicos de quatro jogadores - Dedé, Eder Luis, Nilton e Felipe Bastos -, além dos mesmos percentuais em cotas de televisão e patrocínios. E, para agravar ainda mais a situação vascaína, a juíza da 1ª Vara da Infância e da Juventude determinou a interdição dos alojamentos das categorias de base, localizados no estádio São Januário, alegando a inadequação do local para acomodar os atletas. Segundo a juíza, se as más condições dos alojamentos não forem sanadas num período de cinco dias úteis, há a possibilidade de suspensão dessas categorias.

Contudo, fiquei um tanto surpreso com a solução dada pela presidente do Clube de Regatas Flamengo, Patrícia Amorim, com sentido de resolver os problemas financeiros do clube, que hoje acumula dívidas de aproximadamente 355 milhões de reais. A proposta da presidente é antecipar o recebimento das cotas de TV e do patrocínio do fornecedor de materiais esportivos. A ideia é receber agora as cotas de televisionamento dos campeonatos brasileiros de 2013 até 2018, desta forma o clube teria em caixa imediatamente 800 milhões de reais. Da mesma maneira, o clube pretende receber de uma só vez 350 milhões de reais provenientes de um contrato com duração de 10 anos com a fornecedora de material esportivo, Adidas. Resumindo, o Flamengo teria em caixa valores de aproximadamente 1,15 bilhões de reais. Mas uma pergunta é pertinente: estaria a atual presidente preocupada com as futuras gestões do clube? Pois, tais recursos cessariam durante um longo período. Sem dúvidas, a gestão de Patrícia Amorim seria uma das mais bem sucedidas frente ao comando do rubro negro, mas que legado ela pretende deixar para os futuros mandatários? Ressaltando que em um passado recente, ela já contratou Ronaldinho Gaúcho numa negociação milionária, que não rendeu bons frutos, e agora anuncia a contratação de Adriano “Imperador”, que também promete não aliviar na pedida.

Entendo, sim, que o futebol é paixão, mas para os torcedores! Quanto aos dirigentes, razão seria o mais indicado. A partir dos exemplos acima citados – os quais não são exclusividade apenas dos clubes cariocas, repito –, podemos perceber de que maneira o futebol tem sido conduzido no Brasil. Os resultados e as perspectivas não são nada boas. Sorte, imprudência, inconsequência e paixão são os princípios que parecem nortear a lógica utilizada pelos mandatários do futebol brasileiro.