terça-feira, 14 de agosto de 2012

Em homenagem a 58, Pelé defende e Mazzola critica Seleção: 'Tudo errado'

Para ex-atacante e hoje comentarista na Itália, Brasil não teria chance se Mundial fosse hoje: 'É preciso injeção de caráter'



Mazzola quer mais ação dos jogadores da Seleção atual (Foto: Rafael Maranhão / Globoesporte.com)


Foi uma manhã para lembrar o passado vitorioso do futebol brasileiro, mas sem esquecer o presente e uma certa preocupação com o futuro. No gramado do Estádio Rasunda, nesta terça-feira, num reencontro dos ex-jogadores que disputaram a final da Copa do Mundo de 1958, Pelé e Mazzola falaram da Seleção atual. O Rei do Futebol foi mais comedido e evitou críticas. Mazzola, não.

- É preciso injeção de caráter. Firula não conta, o que conta é o gol. Pelé era assim. Ele tinha talento mas também garra. O treinador tem que escolher gente de talento e também quem dá o sangue. Está tudo errado. Com esse time, não teríamos chance se a Copa fosse hoje - afirmou Mazzola, que é comentarista de TV na Itália, para onde se transferiu após o Mundial de 1958.

Para Pelé, o esquema de jogo ainda não está bem definido, e isso ficou claro na final olímpica em que o quadro nacional foi derrotado pelo México por 2 a 1, sábado, em Wembley.

- Acho que a Seleção é muito jovem, temos tempo para armar a equipe. Nossos jogadores têm categoria, mas precisamos ter um tipo de jogo. O México tem mais tempo de jogo, veio bem armado, bem na defesa e surpreendeu - afirmou Pelé, que estava nos Jogos de Londres, mas não foi ao estádio acompanhar a decisão.

Tanto Pelé quanto Mazzola pouparam o treinador Mano Menezes de maiores críticas pelos resultados.

- Não conheço o Mano. Sei que ele está sofrendo muitas críticas mas não posso falar sobre ele. Não sei se é ele quem não dá liberdade aos jogadores, mas, de qualquer forma, um jogador também tem que saber encontrar soluções em campo. Era o que eu fazia quando jogava, não seguia sempre as determinações do treinador - afirmou Mazzola, que disputou as duas primeiras partidas do Brasil em 1958 (anotando um gol contra a Áustria) e depois deu lugar a Vavá.

O ex-atacante de 73 anos, que atuou pela seleção italiana nos anos 1960, reclamou do posicionamento de Neymar em campo. Para Mazzola, o craque do Santos deve seguir o exemplo de Lionel Messi.

- O Neymar não pode passar os 90 minutos jogando na ponta esquerda, com o adversário marcando ele, batendo nele sem o juiz apitar falta como foi contra o México. O Messi joga em todas as posições, ele se movimenta o tempo todo, não dá possibilidade aos adversários - completou.

Pelé, Mazzola, Zito e Pepe são os quatro ex-jogadores da seleção de 1958 presentes em Estocolmo como convidados para o amistoso entre Brasil e Suécia nesta quarta-feira, que marca a última partida entre seleções no Estádio Rasunda. A equipe escandinava vice-campeã daquela Copa foi representada por Bengt Gustavsson, Ake Johansson, Sigvard Parling, Agne Simonsson, Reino Börgesson, Bengt Berndtsson e Owe Ohlsson.


Sugestão e comentários de Jhonatan Uwerton Souza

O interessante de eventos comemorativos é que eles sempre são imprevisíveis. Assim, volta e meia uma partida amistosa ganha vulto, tomando ares de rivalidade, ou cerimoniais convertem-se em púlpito para declarações não programadas pela organização. É o caso de Mazzola e o seu "Está tudo errado", comentando a seleção olímpica por ocasião da reunião de antigos jogadores da Copa de 1958 na Suécia. Declaração logo contraposta por Pelé que saiu em defesa do selecionado advogando a jovialidade do grupo como fator a ser levado em consideração. Evidente que o que esta em jogo nas declarações não é o ouro olímpico, mas a própria preparação do selecionado para a Copa de 2014. Como um porta-voz autorizado, Pelé falou em nome de Dilma , convidando todos os presentes a viajarem para o Brasil para acompanhar o mundial. Ao ouvirmos Pelé falando em nome de Dilma, é quase impossível não recordar a famosa fotografia em que a presidente(a) - para agradar tanto os herdeiros do professor Pasquale quanto as feministas - estrategicamente posiciona o jogador entre ela e o já decadente Ricardo Teixeira. Programada ou não, a defesa que Pelé fez da equipe olímpica, coincidiu com a declaração da CBF de que Mano continua no cargo, pelo menos, até o final do ano. Além de Pelé e Marin, Andrés Sánchez e Lula também declararam apoio a Mano, o mandatário corintiano o fez via imprensa enquanto Lula teria declarado seu apoio por meio de um telefonema ao próprio Mano, como divulgou a Folha de São Paulo. Além das homenagens e seções para a foto com alguns jogadores do time de 1958, na partida, a seleção jogará com um uniforme retrô azul, trazendo de volta a mitologia em torno dessa camisa. E assim, nesses "lugares da memória", um passado tenta ser enquadrado, mas não o é por todo, algo escapa a essas arquiteturas da memória, o "Esta tudo errado" de Mazzola é um exemplo disso.