terça-feira, 9 de novembro de 2010

Vale tudo

Escândalos de compra de votos, como sofrido pela Fifa, transparecem a existência de forças antagônicas no sistema em que vivemos
A novela Vale Tudo, da Rede Globo, marcou época na vida do povo brasileiro.
Foi ao ar em 1988, período que antecedeu as primeiras eleições diretas para Presidente da República, depois de longos anos de chumbo na Ditadura Militar.
O país ainda aprendia a lidar com esta liberdade recente. Não só o povo, como também os políticos, que não mais iam ser escolhidos por um colegiado de seus pares, mas enfrentariam a sentença das urnas.
Muitos temas de importante relevância social foram abordados nas micro-histórias dos personagens: corrupção; crime de colarinho-branco, ambição das pessoas para ascender na vida em detrimento da vida dos outros, sexualidade e homossexualismo, “jeitinho” brasileiro, desemprego, hiperinflação.

Com o perdão do trocadilho, vale a pena ver de novo a novela, agora no Canal Viva, desde o começo de outubro em reprise. Para mim, tem sido excelente como aula de história de quem somos os brasileiros.
Passados 22 anos, o filme Tropa de Elite 2 expõe, criticamente, as entranhas do sistema e do jogo de poder que figura por trás da criminalidade endêmica – muito bem organizada, diga-se – no Rio de Janeiro, mas que, em certas nuances, replica-se pelo Brasil.

O protagonista, Capitão Nascimento, foi promovido à cúpula administrativa da Secretaria de Segurança Pública. Acreditava que seria mais fácil combater o crime. O problema é que ele percebeu que ele estava exatamente no coração do sistema criminoso, onde todas as relações eram perigosas e todos atuavam num script de corrupção magistralmente desenhado.
A certa altura, o personagem ressalta que a coisa mais valiosa que os corruptos do “sistema” podem desejar das pessoas de uma “comunidade” é o voto.

Mais recentemente, a Fifa sofreu com denúncias de que países-candidatos a sede das Copas de 2018 e 2022 estariam negociando compra e venda de votos, em que figuravam no processo o presidente da Confederação Asiática e o Presidente da Federação Nigeriana de Futebol.

Vivemos num sistema social onde impera a democracia. Entretanto, não se pode esquecer que o sistema também pressupõe a existência de forças antagônicas, complementares e nem sempre equilibradas, cujo fiel da balança pode ser o voto – não só votar como ser votado.
Isso serve para chamar à consciência todos nós a importância das eleições. Não de forma isolada devemos participar, mas entendendo a complexa rede social em que vivemos.

Se servia às vésperas das eleições de 1989, deve servir para 2010. Eleições em que os candidatos usaram de todas as artimanhas para desqualificar o processo, presumindo que o povo é um bando de idiotas desinteressados e desimportantes.

No Brasil, no clube de futebol da esquina, no condomínio ou na sede da Fifa.
E a genial letra da música “Brasil”, cantada por Gal Costa, ecoa ao longo destes anos todos e nos faz perguntar se há algo de novo no Brasil, sede da Copa do Mundo 2014 e dos Jogos Olímpicos 2016:


Fonte:http://www.universidadedofutebol.com.br/2010/10/3,11300,VALE+TUDO.aspx
Texto sugerido por Edson Hirata

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