segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Crônica da Semana


O SENTIMENTALISMO NO FUTEBOL E A INVASÃO CORINTIANA NO JAPÃO

Everton de Albuquerque Cavalcanti

Wallpaper do Corinthians


Como pesquisador que tenta extrair da fonte impressa os seus mais sórdidos interesses,  busco entender as relações estabelecidas entre a mídia e o subcampo futebolístico no que concerne o chamado tempo presente. Noto que a elaboração de discursos voltados ao apelo comercial emaranham-se com a necessidade em manter o esporte como produto da indústria cultural de entretenimento.

Tais estratégias utilizam-se constantemente da formação identitária voltada culturalmente para o que o senso comum denomina de paixão nacional. Neste sentido, construção jornalística atual permeia suas análises através de uma relação entre história e memória, buscando fragmentos do passado que venham reafirmar o que pretende ser dito sobre um determinado tema do presente.

Com o encerrar do Campeonato Brasileiro – e título merecido do Fluminense – os olhares da mídia voltam-se novamente para o Sport Club Corinthians Paulista, que desde às 23h53 de 4 de julho deste ano, aguarda ansiosamente pela Copa do Mundo de Clubes da Fifa a ser realizada no Japão em dezembro. Ansiedade compartilhada também pelos torcedores do clube, historicamente reconhecidos pelo senso comum por sua fidelidade incondicional.

Esta alcunha atrelada ao Corinthians e seus torcedores por vezes já tentou ser desvendada por pesquisadores interessados em entender esta relação sentimental no futebol. Porém, nossa discussão procura desvendar os interesses obscuros que a mídia nacional resguarda no tratamento da paixão corintiana em consonância com a cultura esportiva espetacularizada que vem sendo cultivada em nossa realidade.

A constante prática de comparações das “invasões corintianas” passadas com a expectativa por uma grande quantidade de “fiéis” no Japão é um dos pontos que merecem destaque pelos pesquisadores de fontes jornalísticas. Vejo vídeos, notícias, depoimentos e comentários relembrando da histórica e maciça presença de torcedores corintianos na semifinal do Campeonato Brasileiro de 1976 onde mais de 70 mil torcedores alvinegros compareceram ao maracanã para apoiar um time que vivia jejum de 22 anos sem títulos importantes.

Outras comparações com os mesmos recursos relembram o primeiro título mundial do clube paulista em 2000, no qual mais de 20 mil corintianos compareceram ao maracanã para acompanhar a conquista contra o Vasco da Gama. Há veículos de comunicação que lembram ainda a conquista do tetra campeonato brasileiro corintiano quando a mídia presenciou a “invasão” de mais de 25 mil torcedores alvinegros no Serra Dourada.

A expectativa para a disputa do mundial no Japão é de que mais de 20 mil “fiéis” embarquem para o Oriente e atento para que os colegas reflitam acerca da rotatividade econômica que este sentimentalismo corintiano causa no futebol de uma maneira geral. A constante exposição da imagem do torcedor corintiano através da paixão pelo clube, favorece todos os setores interessados nesta relação entre cultura midiática e campo esportivo. O Corinthians terá seus torcedores apoiando no Japão, além de lucrar com a venda de pacotes que chegam a custar até 100% do valor real se cotados individualmente por cada torcedor. A agência de viagens CVC – parceira do clube – também lucra com a comercialização de pacotes fechados que garantem ingressos para os torcedores nas partidas. Os meios de comunicação lucram com a constante construção de uma identidade corintiana consumida nas páginas de jornais e programas de televisão. A publicidade alavanca parcerias entre empresas privadas e o  clube, elevando os ganhos financeiros e a aderência das marcas pelo público.

Tais análises demonstram como a cultura esportiva de entretenimento consolida-se no contexto do espetáculo futebolístico contemporâneo, emaranhando relações que favoreçam o interesse da mídia e do campo esportivo.