terça-feira, 27 de novembro de 2012

Crônica da Semana


Racismo, violência e antissemitismo no futebol europeu
por Riqueldi Straub Lise, mestrando em Educação Física.


No dia 20 de setembro deste ano, as equipes do Tottenham (Inglaterra) e Lazio (Itália) entraram em campo no estádio White Hart Lane em Londres, pela disputa da Liga Europa 2013. O jogo terminou empatado em zero a zero, mas o que marcou esta partida foram as manifestações racistas protagonizadas pela torcida Ultra da Lazio. Segundo a imprensa inglesa, cada vez que os atletas Jermain Defoe, Aaron Lennon e Andros Townsend tocavam na bola torcedores da Lazio imitavam som de macacos. 

Já no dia 18 de outubro, um mês após o ocorrido a UEFA anuncia a punição, multa 40 mil euros à equipe da Lazio. Este tipo de punição tem sido recorrente, pois em abril de 2011, o clube foi multado pela Federação Italiana de Futebol por caso de racismo em partida contra a Internazionale, no Campeonato Italiano. Já em março de 2010, o mesmo ocorreu contra o Milan, quando Clarence Seedorf foi o alvo da discriminação.
Na última quinta feira, dia 22 de novembro, por ocasião do “jogo de volta” entre as equipes do Tottenham e da Lazio, estabeleceu-se uma confusão em um bar na cidade de Roma. A primeira versão da ocorrência dava conta de que cerca de cem integrantes da torcida Ultra da Lazio, armados com facas e bastões de beisebol invadiram o bar onde torcedores do Tottenham se reuniam. Um torcedor inglês que foi esfaqueado no confronto encontra-se em estado grave num hospital da capital italiana. O que poderia se tratar de mais um caso de violência estimulado pelo abuso do álcool e pela punição imposta pela UEFA à equipe da Lazio, acaba se revelando algo muito mais sério.
Aproximadamente 15 envolvidos foram detidos pela polícia italiana no momento da agressão contra os ingleses, a para surpresa, alguns agressores pertencem à torcida da Roma, considerada a principal rival da Lazio, o que sugere uma motivação diferente. O que teria levado torcedores rivais (Roma e Lazio) a se unirem contra a torcida de equipe sem muita expressão no cenário europeu? A resposta a essa pergunta ocupou as principais páginas dos periódicos europeus, e não somente os que costumam tratar de esporte.
Testemunhas do ataque relataram que, pouco antes da invasão ao bar no qual os ingleses se encontravam, gritos de “Judeus, judeus” foram ouvidos. O Tottenham é considerado por tradição o clube “judaico” de Londres. A polícia local apurou os fatos e concluiu que o ataque não tinha sido promovido por uma ou outra facção de torcidas organizadas (Roma e Lazio), mesmo tendo em vista que ambas estavam envolvidas, mas sim de organizações de extrema direita com tendências antissemitas.
Segundo alguns periódicos, por conta da crise no continente europeu, tem-se notado um aumento da militância da extrema direita. Na Itália, por exemplo, manifestações semanais são promovidas pelo grupo de jovens neofascistas Blocco Studentesco, que em geral terminam em confrontos com a polícia. Em outros países também é possível perceber que o movimento neofascista tem se manifestado de forma mais contundente. O embaixador de Israel na Itália, Naor Gilon, disse a jornalistas que o ataque contra torcedores do Tottenham vinha de "uma nova tendência de antissemitismo na Europa". O Congresso Judaico Mundial pediu na sexta-feira que a Lazio seja suspensa do futebol europeu, caso o clube não tome medidas contra os torcedores linha-dura antissemitas. Notícias na imprensa informaram que os torcedores da Lazio cantaram "Juden Tottenham, Juden Tottenham" na partida de quinta-feira.
A partir deste quadro, torna-se muito importante que a UEFA em conjunto com demais autoridades do continente europeu tomem medidas que rechacem este tipo de comportamento dentro ou fora das arquibancadas. Porém, o que tem-se notado, são brandas punições, multas irrisórias, e certa condescendência tanto da FIFA como da UEFA em punir com severidade este tipo de comportamento.  Em pleno século XXI não é mais admissível que pessoas sofram preconceito por sua raça, religião ou descendência.