quinta-feira, 4 de julho de 2013

Após protestos, Fifa faz plano para mostrar Brasil pacífico no exterior

Protesto contra a Copa-2014 próximo ao Castelão, antes do jogo Itália e Espanha
Para evitar o esvaziamento da Copa-2014 de turistas estrangeiros, a Fifa prepara um plano para minimizar a imagem de que o Brasil é violento, gerada por conta dos protestos nas ruas durante a Copa das Confederações. Ainda não fechado, o planejamento incluirá o uso de televisões que têm direitos de transmissão da competição, monitoramento e conversas constantes com veículos de fora do país.

O temor da entidade é que se repita no Brasil o que ocorreu na África do Sul. Na Copa-2010, o noticiário sobre a violência local, e também a crise econômica mundial, reduziu o número de turistas que foi à nação africana - o total ficou bem abaixo da expectativa inicial do governo local.

"Vamos trabalhar com as emissoras retransmissoras da Copa. Eles já vão vir para o Brasil e vão mostrar o que está acontecendo", explicou o secretário-geral da Fifa, Jérôme Valcke ao UOL Esporte. Também há uma abordagem em relação aos veículos de mídia não parceiros da entidade.

Desde o início das manifestações, a organização máxima do futebol tem monitorado como os veículos estrangeiros estão noticiando a crise política no país. No início, havia extrema preocupação, pois a avaliação era de que o Brasil era retratado como um país em guerra civil, por conta das imagens de ataques e depredações feitos nas manifestações.

No decorrer da Copa das Confederações, cartolas da Fifa ficaram mais otimistas porque entendem que a mídia estrangeira começou a balancear mais as informações, mostrando que havia protestos pacíficos e que as confusões eram localizadas. Assim que acabar a competição, haverá conversas de funcionários da entidade com jornalistas para tentar mostrar um cenário mais favorável. A estratégia completa para convencer os estrangeiros será tratada no debriefing (repasse de conhecimento e avaliação) sobre o campeonato, que ocorrerá na próxima semana.

Esse plano será feito de forma totalmente independente do governo federal. A reportagem apurou que até agora não há nenhum planejamento novo da União para tentar minimizar os efeitos dos protestos na imagem do país. Será mantido o que tem sido feito até agora, principalmente pelo Ministério do Turismo e da Embratur, que, por exemplo, levaram jornalistas estrangeiros para visitas a locais do país durante a Copa das Confederações.

A lembrança entre os cartolas da Fifa é que não deu certo tentar convencer os turistas de que a África do Sul era segura. "A taxa de criminalidade era alta antes [na África]. Mas caiu bastante durante a competição. Temos que lembrar também que havia uma crise mundial", ressaltou Valcke.

O Brasil sempre foi visto pelos dirigentes do futebol como um país bem mais atraente. Tanto que a venda de pacotes de hospitalidade, iniciada no ano passado, teve um sucesso acima do esperado. A expectativa do governo federal é de que venham ao Brasil cerca de 600 mil turistas estrangeiros.

A intenção do Ministério do Turismo é de que o Mundial dê um grande empurrão no turismo no país. Atualmente, são recebidos entre 5,5 e 6 milhões de estrangeiros por ano. "É pouco para um país do tamanho do Brasil e com o que tem de atraente", analisou Valcke. A África do Sul não conseguiu alavancar seu turismo com o evento.

O mais importante para a entidade é que o plano de convencer os turistas de fora do país precisa ter efeito antes do final de 2013, pois será em dezembro que se iniciará o maior volume de vendas de ingressos para a Copa - no total, devem ser cerca de 3 milhões. A primeira cota começará a ser comercializada em agosto deste ano. A partir daí, a Fifa já poderá saber o real impacto dos protestos no sucesso do Mundial.


Sugestão e comentários de Ernesto S. Marczal.


Após ler a seguinte notícia poderia tecer novos comentários sobre as manifestações que tomaram o país nas ultimas semanas (o que, se feito com qualidade, seria muito bem vindo para enriquecer o debate), mas as ultimas crônicas de Natasha Santos, Jhonatan Souza e Everton Cavalcanti apresentam reflexões muito mais densas e interessantes.



O que a matéria acima nos trás de novo é precisamente a postura da entidade promotora (e detentora) da Copa do Mundo com relação às manifestações. A apreensão com a reverberação dos protestos na mídia internacional, sobretudo com os possíveis prejuízos á imagem do Brasil, não destaca uma preocupação sociopolítica da entidade, como poderia soar a um primeiro olhar mais ingênuo e desatento. São as dimensões comerciais e econômicas que permeiam a organização do evento que suscitam sua inquietação, deixando até mesmo promoção da prática desportiva em segundo plano. O que está a perigo não é a capacidade do país sede em realizar a competição, mas seu potencial em conseguir angariar torcedores /consumidores ao evento, fundamentais para o êxito (comercial) do mundial. Nesse sentido, é a lógica do mercado que rege atenção com o cenário político. 

De maneira análoga, a ação traçada com relação aos órgãos de imprensa internacionais, sinaliza que a FIFA nem o futebol podem ser compreendidos de forma descolada de relações sócias mais amplas, ou tomados como objetos alheios, politicamente neutros ou descompromissados. Ao contrário, o exame cuidadoso e a interpretação de suas interconexões são cruciais à formulação de uma análise frutífera, cuja compreensão decorrente seja capaz de romper com o já estabelecido pelo senso comum. Afinal, a recorrente tentativa de despolitização do esporte não pode ser desconsiderada em sua essência como uma estratégia eminentemente politica.