segunda-feira, 29 de julho de 2013

Crônica da Semana

Simpósio de História do Esporte na ANPUH Nacional 2013: algumas breves lembranças

por André Alexandre Guimarães Couto, doutorando em História



Olá, caros (as) leitores (as):

Na crônica de hoje, que será mais um resumo informativo, gostaria de tratar do Simpósio de História do Esporte, coordenado pelos Professores Miguel Freitas Jr. (UEPG) e Rafael Fortes (UNIRIO) na UFRN. Alguns números são significativos: 10 anos de participação na ANPUH Nacional, 11 estados representados e 1 país estrangeiro (Argentina), 32 trabalhos inscritos, 28 apresentados, 3 dias de intensa discussão, sala completamente cheia na maior parte das sessões, que foram no número de 8.

Alguns temas procuraram dialogar com os usos e abusos da imprensa esportiva como o trabalho “O esporte nas primeiras edições do jornal ‘A Tarde’” de Felipe E. Marta, “Quando o herói se torna humano: a visão do caderno de esportes da Folha de São Paulo sobre o jogador Ronaldo na Copa do Mundo de 1998” de Miguel Freitas Jr; “Por dentro da Semana: imprensa e cultura esportiva a partir de uma revista ilustrada na Salvador dos anos 1920” de Henrique Santos e “De qual futebol está falando? O contraste de um símbolo nacional na Folha de São Paulo” de Bruno Gabriel.

A literatura também esteve presente como, por exemplo, no trabalho “O futebol, seus astros e Ruy Castro: notas sobre as produções biográficas de Nelson Rodrigues e Garrincha” de Natasha Santos e Gisele Dall’agnol Musse (apresentado por esta última). Se pensarmos que as crônicas estão ali no limite entre a imprensa e a literatura, os trabalhos de André Couto (“Crônica para quem? Relações (inter)subjetivas e uso/abuso dos sentimentos na imprensa esportiva (1950-1958)”) e de Vicente Neto (“Aspectos do processo de especialização da crônica esportiva em Fortaleza”) possibilitaram compreender um pouco mais sobre este tipo de fonte.

Falando de fontes, as charges, e neste caso, essencialmente políticas, estavam presentes com Ernesto Marczal e seu trabalho “Aproximações entre futebol, política e estética; os cartuns do Pasquim e a Copa do Mundo de 1978”.

O cinema também esteve bem representado pelo trabalho de Luiz Carlos Sant’ana: “Adeus à viralatice: o filme Isto é Pelé (1974), o futebol e a ditadura”, com notas importantes sobre o discurso fílmico.

Dos esportes retratados no Simpósio 67, o futebol foi o mais trabalhado, seja discutido em um contexto no debate sobre a identidade nacional como no trabalho de Rafael Fortes e Victor Andrade de Melo: “A seleção de futebol e a identidade cabo-verdiana”; seja no de Elcio Cornelsen em “Sentimento e Política no futebol alemão – construções da ‘Nação’ em 1990 e 2006” ou mesmo no de Luiz Carlos Ribeiro com “Futebol e ditadura na América Latina: a experiência do C.O.B.A.”, sendo este último uma reflexão sobre o movimento francês a favor dos direitos humanos.

Estudos comparativos foram apresentados, demonstrando todo o valor da História Comparada. Neste caso, os exemplos valiosos de Coriolano Junior com “As relações entre os governos e a constituição do esporte: uma análise comparada entre Bahia e Rio de Janeiro” e o de Rodrigo Moura com “A imigração italiana para São Paulo e para Belo Horizonte: as transformações nas cidades e a ascensão do Futebol (1894-1921)” nos fez perceber que precisamos cada vez mais nos apropriarmos de elementos comparativos para entender a disciplina História.

Outro tema importante em destaque foi a análise a partir dos estudos regionais. Em destaque tivemos a apresentação de Victor Assunção com “O processo de profissionalização da imprensa esportiva em Natal e as demandas pela construção de um novo estádio de futebol (década de 1960)”, expondo o desenvolvimento do campo esportivo neste estado, nosso anfitrião no evento. Nesta linha de compreender a história local, mas sem nunca perder a visão nacional, o trabalho de Jhonatan Souza “Uma voz contra a seleção: aspectos regionais de um conflito pela hegemonia do futebol nacional”; o de Cleber Dias, “Notas históricas sobre o esporte em Goiás” e o de Itamar Gaudêncio, “Sujeitos, discursos e categorias: Uma história social das práticas esportivas suburbanas em Belém nos anos de 1930” nos leva a conhecer a história do esporte nos estados do Paraná, Goiás e Pará, e, principalmente, no nosso Brasil.

Poderíamos enquadrar o trabalho de André Schetino como história regional? Talvez sim, talvez não. Mas o seu texto “Apontamentos sobre a cultura esportiva no Rio de Janeiro nas décadas de 1940-1950” apresenta sob a luz de uma imprensa de entretenimento, uma visão em torno da relação regional/nacional.

Os estudos sobre gênero (ou seria sobre as mulheres? Boa discussão que não cabe aqui neste momento) trouxeram muitos pontos para reflexão. Nesta linha, Euclides Couto com “Os diferentes modos de torcer: a presença feminina nos estádios belo-horizontinos (1908-1927)” e Eduardo Lima com “Além das quatro linhas: o futebol como espaço de sociabilidade feminina” nos ensinaram bastante.

Porém, nem só de futebol (e de carne de sol com macaxeira), o Simpósio foi alimentado: outros esportes puderam ser contextualizados e historicizados como a briga de galos (seria mesmo um esporte?) com Misael Corrêa com “Esportes da cidade e do campo: o caso das brigas de galo”; a luta livre de Daniella Passos com “Os artistas do ringue: memórias do Telecatch curitibano”, que transita entre o estudo dos esportes, do lazer e do entretenimento televisivo e, também, a ginástica trabalhada por Leomar Tesche em “O séc. XIX. Os Brummer e a introdução da turnen/ginástica no Brasil”, uma proposta na linha da prosopografia histórica.

A discussão em torno da prática da educação física, que certamente transcendeu este tema, também foi bem representada com Pablo Scharagrodsky (“El fútbol en las escuelas y colégios argentinos a princípios del siglo XX”) e Vitor Monteiro (“Em busca do método: Educação Física, corpo e identidade nacional entre civis e militares (1930-1945)”).

Porém, caros (as) amigos (as) leitores (as), toda esta minha tentativa de classificar todos estes belos trabalhos em separações temáticas, deve ser, provavelmente, um interessante erro. Cada um deles dialoga com várias áreas de interesse como futebol e política, imprensa e identidade nacional, esporte e identidade regional, educação física e futebol e tantas outras bem-vindas misturas diversas de nossos objetos de análise.

Como classificar, por exemplo, o trabalho de Álvaro do Cabo sobre “O estabelecimento da FIFA e a realização da primeira Copa do Mundo de futebol no Uruguai – Uma visão oficial a partir de Jules Rimet”? Futebol? Política? Identidade Nacional? Copa do Mundo? Pois é. Todos estes ingredientes estão presentes neste e em vários outros trabalhos apresentados no Simpósio 67. E o de Renato Figueiredo, sobre “Uma história da testosterona sintética: de Brown-Sequard a Rebeca Gusmão”? Educação Física? Saúde? História da tecnologia dos esportes? Mesmo bom problema do trabalho supracitado.

Enfim, depois de tantos temas, discussões, reflexões, indicações bibliográficas e metodológicas, ficou uma certeza: o campo da História dos esportes no Brasil está cada vez mais consolidado, motivo, inclusive de uma reunião com os participantes para gerar frutos como a criação de uma rede de e-mails e um futuro evento sobre o tema, tendo o Rio de Janeiro como possível sede do primeiro em 2016.

A consolidação dos simpósios de História do Esporte nos estados do Rio de Janeiro, Paraná e Bahia, com possibilidade de recuperar o de Minas Gerais no próximo ano, nos encontros regionais da ANPUH, levaram os pesquisadores presentes a pensar na ampliação de nossas respectivas participações locais.

Não poderia terminar este texto sem deixar de lembrar das discussões pós-Simpósio: o clima de camaradagem e sociabilidade entre os integrantes foi um destaque em todos os dias, a torcida pelo Galo (pela maioria, diga-se de passagem) na final da Libertadores foi um momento alto, só faltando mesmo o bom e velho futebol, seja na praia, na quadra ou mesmo no campo. Porém, caso tivesse uma “pelada” do Simpósio 67 o resultado só poderia ser um: o empate.

Por quê? Ora, porque em Natal, nesta belíssima cidade, certamente todos sairiam vitoriosos.