segunda-feira, 22 de julho de 2013

Crônica da Semana



É tempo de crise

por Gisele Dall'Agnol Musse, mestranda em Educação Física



O futebol nacional atravessa um período de mudanças. Não só nos estádios que, em virtude da Copa do Mundo ou não, estão sendo reformados ou construídos em algumas cidades do país, mas também na mentalidade dos dirigentes de alguns dos principais clubes, que cada vez mais vem se profissionalizando.

Esse profissionalismo, tão cobrado por amantes do futebol que sonham com que o futebol brasileiro, como um todo, seja tão competitivo quanto o europeu, só se torna possível quando se deixa o amadorismo de lado e se passa a enxergar o futebol como um grande negócio. Lógico, sem esquecer que ele se move e se alimenta de paixão, mas que deve ficar entre os torcedores nas arquibancadas ou entre as resenhas nos balcões dos botequins, caso interfira nas decisões da diretoria.

Quando pensamos nisso, não temos como não citarmos o caso do São Paulo Futebol Clube, que por vários anos foi referência no país, como exemplo de estatuto e de gestão esportiva. Foi declaradamente a referência do ex-presidente do Corinthians, Andres Sanches, para que o alvinegro saísse fortalecido de sua fase complicada em 2008, quando passou pela segunda divisão do campeonato brasileiro. Nesse mesmo ano, coincidência ou não, foi o último ano em que o tricolor do Morumbi foi campeão brasileiro.

A partir de então, o São Paulo viu parte dos demais clubes do país deixarem o amadorismo de lado, passando, então, a ter as mesmas preocupações do tricolor paulista. Mas, de lá pra cá, o São Paulo passou por modificações. Uma das questões discutidas está na atual gestão do presidente Juvenal Juvêncio, que conseguiu permanecer no cargo, digamos, de certa forma autoritária. Isso pode parecer meio sem sentido, mas para muitos analistas esportivos, a rotatividade no poder era uma das grandes virtudes do São Paulo, e também tinha relação direta com o sucesso do clube.

Existem alguns jargões no futebol que às vezes funcionam. “O futebol é cíclico” explica bem o momento que vive o São Paulo Futebol Clube. A agremiação paulistana atravessa um momento incomum em sua história. Desde 1936, ano de sua fundação, o clube não acumulava tantos jogos sem vencer: já são dez partidas consecutivas sem vitórias – sete no Morumbi –, incluindo um jogo amistoso. Na última partida, perdeu para o Cruzeiro por 3x0. Sem falar que, na última quarta-feira, perdeu o título da Recopa para o Corinthians, seu maior rival, apresentando um futebol nada espetacular.

A sequência de derrotas acarretou, como era de se esperar, na demissão do treinador Ney Franco, que não obteve nessa temporada uma sequência positiva como a do final do ano passado que resultou no título da Copa Sul-americana, muito em virtude de não conseguir armar o time depois da saído do meia Lucas, no final do ano passado. Sem o atleta, o treinador não conseguiu encaixar as peças que sobraram e ainda ganhou uma, que viria para ser a solução, mas se transformou em uma grande dor de cabeça: o meia Ganso, que vem a tempos jogando uma bola que nem de longe justifica a quantia de dinheiro investido em sua contratação.

Esse tipo de situação leva alguns especialistas a cogitarem que o clube, que foi modelo a ser seguido nos últimos anos, possa até ser rebaixado no campeonato brasileiro. Ainda é muito cedo para tal discurso, já que o clube tem grandes jogadores em seu elenco, motivo que torna essa possibilidade quase remota. Os clubes grandes que caíram para segunda divisão tinham, no ano do rebaixamento, elencos medianos, e esse não é o caso tricolor. A fase ruim que atravessa o São Paulo pode ser superada com tempo de treinamento, conversa e sossego. Contudo, isso é um luxo para a equipe que mal tem tempo para treinar, pois tem jogos no fim e no meio da semana, e ainda uma excursão pela Europa e Ásia. Sossego também não irá conseguir com a impressa, sempre em busca de notícias e possíveis factoides que abalam as relações dentro do clube, como foi o caso ocorrido nos últimos dias, envolvendo o goleiro Rogério Ceni – grande ídolo tricolor e talvez o maior da história –, e o diretor de futebol Adalberto Baptista. Ceni desabafou dizendo que o clube parou no tempo e que os últimos doze meses não deixaram legado nenhum para o clube.

Discursos que vão além de suas competências, frases sem pensar ditas em público no calor da emoção e ofensas entre integrantes do clube, deixam o clima tenso abalar o clube e a crise histórica se instala no tricolor paulista.

Porém, enquanto o Rogério Ceni e seus companheiros não se acham em campo, nos bastidores do clube a politicagem rola à solta. Juvenal Juvêncio, que tinha tudo para eleger seu sucessor, vê a oposição ganhar força com a crise são-paulina.