segunda-feira, 20 de setembro de 2010

CRÔNICA DA SEMANA: Gato escaldado...

por Natasha Santos
Mestranda História UFPR
Núcleo de Estudos Futebol e Sociedade

Difícil não lembrar a fatídica partida entre Fluminense e Coritiba, pelo Campeonato Brasileiro de 2009, que culminou em uma batalha entre policiais e torcedores. Mais difícil ainda seria esquecer a punição decretada para o time paranaense, que previa a perda de mando de campo por dez partidas mais o pagamento de multa e, como não poderia deixar de ser, reformar o estádio segundo determinadas normas de segurança.

Realmente, nada disso foi esquecido, sobretudo às vésperas da volta do Coritiba ao “Alto da Glória”. Os noticiários, em suas formas diversas, não pouparam fôlego em especular como se efetuaria a segurança do tão esperado jogo contra a Portuguesa, pela 22a rodada do Campeonato Brasileiro, que, em tese, romperia com as más recordações de outrora. Mas nos atentemos ao ponto curioso da questão...

A partida de retorno do clube alviverde, após quatro meses de suspensão, teve segurança reforçada, contando com a ação de cerca de 800 policiais militares, dos quais 230 ficaram dentro do estádio e os demais rondaram os pontos considerados de risco, como terminais de ônibus, por exemplo. Soma-se a isso, 250 seguranças que o clube prometeu contratar. Toda essa preocupação com o policiamento se deve à briga do dia 6 de dezembro, mencionada no início do texto, quando torcedores do Coritiba invadiram o campo. O curioso é que estamos falando de uma partida contra a Portuguesa: sem caráter clássico, tampouco decisivo, haja vista o momento da competição. Enfim, o único fator que torna essa partida especial é a volta da equipe ao seu estádio. Mas o melhor é a Polícia, que evita caracterizar o jogo como de risco e se conforta ao mencionar que não haveria muitos torcedores da Portuguesa e que, assim, seria mais fácil garantir a segurança dos torcedores do Coritiba.

Oras, se é para levar em consideração a briga do 06/12, convenhamos: quem ameaçaria a paz no estádio seriam os próprios alviverdes contra eles mesmos...
Por outro lado, se nos reportarmos à final do Campeonato Paranaense, em abril de 2010, poucos se recordarão que a partida foi nada menos do que um Atletiba, no Couto Pereira. Não bastasse o Atlético Paranaense ser o maior rival do Coritiba, ambos disputavam um título nas dependências do estádio que, embora liberado para a disputa do Paranaense, ainda estava interditado e contava com melhoras “paliativas” de segurança. Pois bem, na época, ninguém comentou, com o afinco das últimas semanas, a periculosidade de se realizar um clássico no então manchado Couto, sobretudo no que se refere ao policiamento. Refrescando a cansada memória: no total foram 400 policiais civis e militares supervisionando a partida; e a torcida rubro-negra saiu cerca de meia hora antes, a fim de evitar possíveis transtornos.

Como um clássico, aos fins do Campeonato, pode contar com metade do número de policiais mobilizados para esta partida entre Coritiba e Portuguesa? Curioso, curiosíssimo! Curitiba não pode fazer feio na Copa do Mundo – mesmo que seja para receber dois jogos pouco representativos, como em 1950 – mas mantenhamos o mínimo de coerência.

Definitivamente, o brasileiro tem memória curta – e o futebol não é exceção.

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