sábado, 16 de outubro de 2010

Livro Negro do Futebol Brasileiro

Esta semana eu estava lendo algumas crônicas sobre o futebol brasileiro, quando uma frase me chamou a atenção: "Vou escrever o Livro Negro do Futebol Brasileiro", poderia parecer algo comum se esta frase tivesse sido proferida pelo Mario Rodrigues, mas ao invés disso a menção era para Ary Barroso. Fui conferir e era verdade mesmo, o saudoso compositor e torcedor rubro negro escreve as seguintes palavras.


Entrei para as fileiras rubro-negras em 1926, levado pelas mãos de José de Almeida Netto, o famoso zagueiro "Telefone". Integrei-me, desde então, à vida social, política e desportiva do clube. Depois de 33 anos de dedicação incondicional ao Flamengo, orgulho-me de seu passado, dos homens que construíram seus alicerces de grandeza, dos atletas que elevaram seu cartel de triunfos e de tantos e tantos abnegados que, ornados da virtude imarcescível da modéstia, sustentavam o prestígio do clube e o projetaram, como um gigante, no coração e no amor das multidões.

Conheço esses homens e esses atletas desde a sede da Praia do Flamengo, desde o campo do Paissandu, passando pela Gávea, cuja pedra fundamental assisti ao ser lançada, pelo "Rio Branco", até os dias de hoje. Sempre senti o clube coeso, unido, como um bloco de granito, seguindo a sua rota inexorável. Havia dissenssões políticas passageiras, mas não se esgrimia o ódio pessoal. Era um conforto freqüentar-se a sede do grêmio nos seus dias de festas ou de reuniões administrativas. Cada um, dentro de suas possibilidades, dava um pouco de si ao clube, sem transformar a sua dedicação em lábaro sectário de propaganda individual. O que se fazia pelo clube, o que se ofertava ao clube, diluía-se na sua vida, incorporava-se ao seu corpo e quem fazia ou dava retomava ao afã de servir, dentro do sistema fratemo de igualdade aos demais, de humildade natural, dentro da ordem natural de bem servir por dever de servir.

Hoje tudo está completamente modificado. O egoísmo cindiu o clube em grupos. A vaidade abriu penhascos entre os homens. A ignorância afastou do clube as suas tradicionais vigas de sustentação. Não há amor, há vingança. Não há fraternidade; há ódios. (isto parece tão atual, que se não fosse o fato dele ter falecido em 1964, diria que ele estava falando do momento atual, será que a história se repete ou Ary Barroso era um profeta?)

Início do Livro Negro do Futebol Brasileiro
Texto de Miguel A. Freitas Jr.

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