segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Crônica da semana


Abertura da Copa 2014: 
a lógica é não ter lógica

Por:

Bruno José Gabriel
Prof. Dr. Miguel Archanjo Freitas Júnior


É determinado pelo senso comum e por estudiosos que pesquisam as temáticas futebolísticas que o futebol é indubitavelmente coisa nossa, estando enraizado socialmente na nossa cultura. É orgulho de um povo, que se vê representado pelos futebolistas, atribuindo a este desporto a sua própria identidade, algo que foi aflorado com as conquistas do selecionado nacional durante os anos que são chamados de dourados. Durante muitos anos o brasileiro viveu um dilema, criando frases de efeitos que ainda são bastante atuais, tais como: “sou brasileiro e não desisto nunca”, pois mesmo com a falta de resultados positivos os torcedores brasileiros jamais deixaram de acreditar no seu selecionado. 

Diante da riqueza desta historiografia o “Núcleo de Estudos – Futebol e Sociedade” decidiu realizar um observatório da preparação para próxima Copa do Mundo – 2014 no Brasil, e assim poder arquivar/analisar os discursos sobre os acontecimentos preparatórios deste evento. Para alcançar o proposto, utilizou-se a internet como fonte de pesquisa, devido à praticidade, ampla capacidade de armazenamento de dados e diferentes fontes biográficas que esse ambiente virtual disponibiliza, o que nos possibilita identificar as diferentes formas com que um mesmo fato é apresentado. 

Através das fontes catalogadas, foi possível criar categorias, por meio das quais pudemos observar um acontecimento que se interpretado com um olhar mais cuidadoso, podemos verificar algo recorrente do passado que poderia voltar à tona na atualidade, refiro-me a rivalidade regional existente entre “paulistas e cariocas”.
           
No passado essa rivalidade foi aflorada no âmbito esportivo em diferentes momentos históricos, dos quais destacamos dois: - em 1930 quando o selecionado nacional preparava-se para a Copa do Uruguai e os dirigentes cariocas recusaram-se a incluir cartolas paulistas na delegação. Como represália a APEA boicotou o escrete, e somente o paulista Araken Patusca seguiu para o Uruguai com a delegação, devido ao fato de ter se desentendido com seu clube, o Santos. Esse acontecimento teve uma repercussão bastante grande, pois craques que tinham grande capital simbólico no campo esportivo como Friedenreich, Fausto e Feitiço ficaram de fora do selecionado nacional. Em um segundo momento, observamos novamente essa rivalidade regionalista na preparação do selecionado brasileiro para a Copa de 1958 – Suécia, por ocasião do PPMC, que definia um modelo de homem para quem fosse integra-se a delegação nacional. Baseados nesses pressupostos dois jogadores paulistas ficaram de fora da convocação, e essa decisão repercutiu no amistoso entre Brasil x Corinthians, onde os paulistas foram torcer contra o selecionado nacional, que popularmente representava a “Capital Federal”, ou seja, notoriamente tivemos a identidade regional sobrepondo à nacional.

Atualmente essa rivalidade foi aflorada novamente, pois como já salientado, o país passa por um processo de modernização, preparando-se para sediar a Copa de 2014, e algumas decisões estão sendo tomadas, dentre elas a cidade/estádio que irá sediar a abertura da competição. São Paulo parecia absoluto para a abertura, ao seu favor contava o fato de ser a maior economia nacional e a sua representação simbólica perante o mundo. Entretanto nos últimos meses foi divulgado pelos veículos de comunicação que Joseph Blatter – presidente da FIFA, devido a conflitos políticos teria preferência pela abertura no Rio de Janeiro. Esta decisão poderia novamente estimular uma disputa regionalista, pois o Rio de Janeiro seria responsável pela abertura e encerramento do maior evento de seleções do mundo, algo que certamente não seria bem visto pelos paulistas.

            Não se pretendeu abordar a origem de uma rivalidade regional, pois como dizem os estudiosos “quando se buscam mitos de origem pisa-se em terreno incerto, versões se contradizem ou convivem alegremente”, e sim retratar que antes do evento de escolha da cidade/estádio, a lógica seria a abertura do mundial em São Paulo algo que parecia irretocável, entretanto parece que a lógica no Brasil é não ter lógica, pois estão tentando jogar “água no chopp” dos paulistas, sem vislumbrarem as conseqüências de tal decisão. Para encerrar deixo os dizeres dos Buenos da vida “o futebol é uma caixinha de surpresas” e quem sabe surpresas estejam à vista, pelo menos essa é a esperança dos brasilienses e dos mineiros que aproveitando a situação estão correndo por fora para sediar a abertura da Copa 2014.

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