sábado, 16 de junho de 2012

Algumas reflexões sobre a identidade paulista


por Prof. Dr. Miguel A. Freitas Jr (UEPG)

Hoje vou fazer um exercício diferente, pois, estou me cansando de ver o que estão fazendo com o nosso futebol. Nossas estrelas estão voltando, mas ao invés de abrilhantarem o espetáculo, tornam-se manchetes por escândalos, falta de profissionalismo, de ética, de responsabilidade e de respeito aos torcedores da equipe as quais eles beijaram o escudo quando chegaram. Por isso, resolvi não falar dos estádios da Copa do Mundo, das atitudes do Gaúcho, ou do chileno que há muito tem deixado a desejar diante dos investimentos realizados pela sua equipe.


Nesta semana passada estive na “Paulicéia Desvairada” e isto me fez refletir sobre a identidade do cidadão paulistano, não por acaso, mas devido a uma série de acontecimentos que fizeram um “out sider” rever os seus conceitos paranaense.

Segundo o dicionário Aurélio o termo IDENTIDADE serve para demonstrar os caracteres próprios e exclusivos de uma pessoa: nome, idade, estado, profissão, sexo, etc. Mas, é claro que isto não nos permite percebermos quem realmente são as pessoas e por isso acabamos falando em identidades.

Identidades porque o João é jogador de futebol, pai de família (ou famílias, pois no Brasil jogador de futebol gosta de ter mais de uma família), torce para ... , não gosta de ler... São inúmeras e infindáveis as características que podem ser atribuídas para o nosso amigo João. Características estas que podem ser visualizadas de diferentes formas.

Fruto do Estado Moderno a identidade veio com a missão de definir, classificar, segregar, separar e selecionar o agregado de tradições, leis e modos de vida locais, que permitiram ao indivíduo sentir-se pertencente a uma nação, a um estado, a uma cidade. Estas identidades são mais simples, pois se referem ao sentir-se pertencente a partir do local onde nascemos.

Reflexões teóricas a parte, a nossa experiência teve início em uma noite fria, véspera de feriado, no qual às 22:30 horas eu e mais dois orientados da graduação adentramos em um ônibus (executivo) confortável, rumo a cidade de São Paulo. O ônibus estava lotado de pessoas das mais diferentes formas (identidades) as quais não cabem retratar neste momento. Conversamos durante algum tempo sobre o conceito de gênero, que coloca em xeque o conceito de identidade sustentado pelas questões biológicas e pela ideologia cristã (católica).

Como já era tarde e diante do ritmo alucinante que a sociedade atual tem nos colocado, em pouco tempo todos haviam dormido. Por volta das 2 da manhã, o ônibus parou por 20 minutos,  descemos para realizar um lanche e pude perceber a diversidade do nosso país, pois a fala das pessoas que estavam na Lanchonete revelava a diversidade identitária presente desse espaço geográfico chamado Brasil. Eram tantas falas e sotaques diferentes que em alguns momentos era necessário prestar muita atenção para entender o que se falava ao redor.

Chegamos a São Paulo e fomos para a sala VIP da empresa. Quem diria que sairia do interior do Paraná e seria um VIP numa das principais cidades do País. O que será que as pessoas que estavam naquela localidade pensavam ao nosso respeito. Neste local, tudo estava muito organizado, limpo e cuidadosamente planejado para que o visitante pudesse se sentir em casa (havia televisão, ambiente com internet, água, suco, café com leite...). Fiquei pensando nos meus amigos cariocas que sempre me disseram que o Paulista não é um bom anfitrião.

Precisávamos sair dali e ir para a Rodoviária, pois o evento era na cidade de Jundiaí. Conversamos com encarregado que lamentou o fato de não procura-lo  antes, pois poderíamos ter pego uma carona com o ônibus que havia acabado de sair e passaria próximo do nosso destino, mas ele prontamente se propôs a chamar um taxi (confesso que me sentia cada vez mais VIP). O taxi chegou rapidamente,conversei algo com o motorista, do tipo – o trânsito da cidade fica melhor com o feriado. Ele prontamente como um bom paulistano defendeu: - no dia-a-dia o trânsito não é tão ruim, a gente acostuma e é só saber por onde andar que as coisas fluem.

Chegamos rapidamente ao nosso destino parcial, deixamos o taxi e pedimos informações sobre as melhores opções para seguirmos viagem, novamente fomos muito bem atendidos e fiquei me questionando: É muito interessante este lugar, pois são oito horas da manhã, de um feriado, um dia frio e chuvoso e estas pessoas miscigenadas mantém uma educação britânica e a alegria brasileira.

Adentramos em outro ônibus, este mais simples, o que não tinha problema, pois o nosso trajeto era curto e solicitamos ao motorista para nos deixar antes de chegarmos a rodoviária, pois estaríamos a poucos metros do nosso destino final. O desconhecimento da localidade, o sono, a distração e coisas do gênero não nos permitiu perceber que ele havia esquecido de nos deixar onde solicitamos. Quando perguntamos sobre o ocorrido, a sua reação foi interessantíssima. Aquele indivíduo de aproximadamente 50 anos de idade, negro, com o porte físico típico de motorista,  disse para ficarmos despreocupados; saltou rapidamente do ônibus e pediu para que nós o acompanhássemos e pediu ao fiscal da empresa que nos colocasse no próximo ônibus para nos deixar no local que ele deveria ter nos deixado e o seu colega de empresa fez isto sem maiores questionamentos.

Estas atitudes positivas me trouxeram alento, pois em um país que irá receber a Copa do Mundo e só vemos notícias ruins, eu pude perceber um pouco da identidade de um povo hospitaleiro, alegre, educado e preocupado com os Turistas. Fico na torcida para que os nossos visitantes se encontrem com estas pessoas, pois esta é minha identidade (re) construída sobre os paulistas.

Só outra situação me chamou a atenção, a linha do metrô que nós utilizamos era Corinthians – Itaquera e na volta pegamos Palmeiras – Barra Funda. Aí fiquei sabendo que o Palmeiras havia entrado na justiça, uma vez que o seu rival tinha o nome em uma das linhas, ele também reivindicou este direito. Mas este é outro assunto, pois tratar da identidade clubística é uma tarefa que necessita muita reflexão.