segunda-feira, 18 de outubro de 2010

NEYMAR: A PÉROLA NEGRA DO FUTEBOL BRASILEIRO

por: Ana Paula Cabral Bonin
Integrante do Centro de Pesquisas em Esporte, Lazer e Sociedade- Cepels

“Estão transformando esse menino em um monstro” essa foi a frase do técnico do Atlético Goianiense René Simões, ao presenciar as cenas inesperadas de comportamento elevado de um menino de 18 anos contrariado por não bater um pênalti.

Classe humilde, evangélico e bem humorado: essas eram as características do menino prodígio que estreou no Santos Futebol Clube em 2009 e que desde o início demonstrou uma habilidade com a bola típica de poucos jovens talentos do futebol nacional. Mas a fama o fez esquecer sua origem e seu passado; belas mulheres, carro luxuoso e conta bancária recheada o transformaram na “Pérola Negra” do futebol brasileiro atual. Brigas com os companheiros de equipe, insinuações de poder à colegas de profissão e envolvimento com garotas de programa também compõem o currículo do novo astro do futebol que por imaturidade, falta de controle ou excesso de soberba, desviou a atenção midiática para seu comportamento deplorável ao invés de deixar-se vigiar devido a sua recusa para jogar no Chelsea após uma oferta de R$ 9 milhões.

O que minimamente exige-se de um jogador é a apresentação de um futebol capaz de encantar seus torcedores, porém, a jóia santista conquistou admiração repentina de muitos que procuram nos dias atuais um futebol arte tipicamente brasileiro – visto que a maioria dos jogadores aderiu ao futebol-força tipicamente europeu. O garoto conseguiu em pouco tempo algo que muitos jogadores conseguem ao longo de anos de carreira: carinho nacional e fama internacional.

Os “meninos da Vila”- mais especificamente, Neymar, Ganso e Robinho- obtiveram rendimento digno de aplausos e admiração; mas o retorno de Robinho ao Manchester City – clube que o havia emprestado ao Santos- provocou em Neymar o sentimento de superioridade absoluta típica de jogadores que esquecem que o futebol é um jogo coletivo.

Romário, Edmundo, Ronaldo Fenômeno, Adriano e Bruno são alguns casos típicos de jogadores que tiveram suas carreiras marcadas por percalços extra-campo que influenciaram significativamente em sua permanência no futebol. A mesma mídia que constrói um ídolo é capaz de exercer efeito adverso e destruí-lo. Neymar sabe bem o que é isso: uma hora fã de Robinho, outra hora companheiro de equipe do ídolo; uma hora admirado por todos, outra hora criticado pelos mesmos; uma hora príncipe do futebol, outra hora carrasco nacional; enfim....jogadores experientes e preparados psicologicamente enfrentam a mídia e suas alfinetadas de forma firme ou sarcástica; os menos experientes se fazem de vítimas e acham que o mundo corre ao seu alcance, que dinheiro compra tudo e que meia dúzia de dribles são capazes de sustentar uma vida emotivamente insustentável....doce ilusão perolada.

2 comentários:

  1. Cara Ana:

    Parabéns pela crônica. O que ocorre(u) com Neymar, torna-se uma rotina nas escolinhas de futebol no Brasil. O craque do time vira rei, recebe privilégios, perde a noção de jogo de equipe e não tem suporte/apoio psicológico, nem da instituição formadora, nem, às vezes, da própria família.

    Não que eu ache que o mundo dos esportes seja o espaço da ética e do respeito ao próximo, mas acredito que estes jovens deveriam receber mais atenção por parte dos clubes. Se dentro de campo, os limites esportivos são ultrapassados pelo empenho e categoria dos jodagores, fora dele, é importante compreender que eles devem ser mantidos e apreendidos.

    Um abraço,

    André Alexandre Guimarães Couto

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  2. Concordo plenamente com o André Couto. A Ana levantou um ponto importante: a imprensa que fez uma campanha intensa para que Neymar ficasse mais tempo no Brasil é a mesma que logo após a confirmação da sua permanência no Santos começou a explorar os seus desvios de conduta (alguns exclusivos da vida privada).

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