terça-feira, 5 de março de 2013

Crônica da Semana




“E hoje és o destemido Tubarão” 

por Natasha Santos, doutoranda em História - UFPR 


Desde o returno do Campeonato Paranaense de 2012, temos acompanhado a um quase ensurdecedor apelo londrinense contra os árbitros, que insistiriam em privilegiar o Coritiba, nos Campeonatos Paranaenses. Teria o Londrina razão absoluta contra os juízes ou teria a equipe criado um complexo de vira-latas, diante do time do próprio estado? Talvez Freud pudesse explicar.

Vejamos. No ano anterior, a agremiação conhecida por “Tubarão” vinha fazendo uma ótima campanha, até parar no Coritiba, no jogo de returno. Além de perder a disputa por um gol a zero, a equipe do interior teve um lance anulado, pois, na visão do crucificado bandeira, a bola teria feito uma parábola, saindo de campo e só então balançando as redes alviverdes. A polêmica foi tamanha que chamaram inclusive físicos para analisar a jogada e concluírem que, de fato, o bandeira (que tinha então uma tempestade sobre sua cabeça) havia errado. 

Este seria apenas mais um erro, banal, não fosse pela trajetória descendente do Londrina, que passou a ter um péssimo desempenho na competição, atribuindo não só o erro, mas também toda a má fase ao bandeira inglório. 

“Londrina, Londrina, Londrina”. 

Pois bem, passado um ano, a equipe voltara a encarar o “time grande” da capital. Eis o que aconteceu: três supostos pênaltis não marcados e o resultado, mais uma vez, foi de 1 a 0 para o rival. Cansados de tanto descaso por parte da arbitragem, torcedores e atletas vestidos de azul-celeste protestam em campo, estes jogando rádios e aqueles partindo para o embate físico, que resultou não só na expulsão de um jogador, como também em um anexo à súmula (http://www.federacaopr.com.br/sumulas/2012/sumulajog1167.pdf). 

Trágico. Sobretudo porque, segundos os replays – que, sob a perspectiva de uma teoria conspiratória, podem ser também manipulados –, nenhum dos lances se configurou como pênalti, partindo do princípio da “bola na mão” e não “mão na bola” – disse a televisão. 

Ora, sem entrar no mérito de defesa, há um óbvio que ulula sobre o Londrina: o recalque. Desde o erro fisicamente absurdo do anti-herói da torcida interiorana, o Tubarão parece ter se rendido a um complexo de inferioridade diante do Coxa. Não porque consideram a agremiação alviverde melhor, mas por se tratar de um time da capital. Assim, por mais inocente que seja a falta do juiz, sobretudo diante do Coritiba, criar-se-á um enredo a ser analisado e julgado ao longo de todo o campeonato – o que, para o torcedor, soa como a frustração ou mesmo a negação de ter sido derrotado. 

Não quero defender a idoneidade de juízes, menos ainda o Coritiba, mas talvez não custaria retomar o fato de o árbitro não ter uma completa objetividade entre a interpretação da jogada e a aplicação da regra, haja vista a já marcada ideia de que as decisões precisam ser tomadas de maneira rápida, bem como sob uma série de “intempéries”, digamos. 

Todavia, quem não se recorda das duas últimas Copas do Brasil, em que era o Coritiba que partia para o árbitro reclamando um jogo justo contra o Vasco... Nesta configuração, o Coxa era o time pequeno prejudicado. 

“O que importa é o ideal de vitória, pois para nós tu serás sempre campeão”.

E é sob todas as incertezas tipicamente futebolísticas, movimentadas pela cega paixão torcedora, que se criam os campeões sem-taça; os recalques mascarados; e a ladainha baseada na vitimização – na qual, diga-se de passagem, nós, paranaenses, somos especialistas.