segunda-feira, 11 de março de 2013

Sobre Coritiba e Londrina

Sugestão e comentário de Daniel Ferreira.


O resultado da partida envolvendo Londrina Esporte Clube 0 x 1 Coritiba Foot Ball Club teve muita repercussão em Londrina. Entre inúmeras manifestações na cidade nortista com o mesmo teor a imagem acima reflete uma opinião que se tornou em evidência na região, a de que o Londrina estaria novamente sendo perseguido e roubado.

A questão, foi já muito bem discutida, aliás, na crônica de Natasha Santos neste espaço semana passada, que demonstrou como seria passível de interpretação, e não tão objetivos, os lances tão reclamados pela torcida alvi-celeste, que gerou descontentamentos e até violência. Numa leitura freudiana, o posicionamento dos londrinenses seriam assim expressão de um recalque, de um sentimento de inferioridade e de uma negação dos interioranos a derrota sofrida.

Podemos, entretanto, fazer também uma outra leitura numa perspectiva junguiana:

Uma das ideias de Carl Jung é a existência do inconsciente coletivo e dos arquétipos. Campbell, que incorporou as ideias de Jung, sustenta que no inconsciente coletivo da humanidade existem certos padrões, preenchidos também por filosofias/discursos, para se pensar em realização individual e social. Para Campbell, seriam estes padrões que possibilitariam também no nível individual o processo de construção de um ego autônomo do indivíduo e a respectiva passagem deste à vida adulta, dando vazão já num plano social aos “mitos de herói”, mais ou menos comum entre diferentes povos no mundo, do Minotauro ao Batman, passando por Ayrton Senna, Jerry Mitchell e inclusive pelas religiões. Kátia Rúbio utilizou-se dessas ideias no livro: O imaginário esportivo: o atleta contemporâneo e o mito do herói

Nesse processo (monomito), o indivíduo se afastaria do mundo, e iniciaria uma jornada pelas regiões causais da psique, em que residem efetivamente suas dificuldades, tornando-as claras, erradicando-as em favor de si mesmo e penetrando no domínio da experiência e da assimilação, diretas e sem distorções, terminando por fim a completar a jornada de forma vitoriosa:

"Terminada a busca do herói, por meio da penetração da fonte, ou por intermédio da graça de alguma personificação masculina ou feminina, humana ou animal, o aventureiro deve ainda retornar com o seu troféu transmutador da vida. O círculo completo, a norma do monomito, requer que o herói inicie agora o trabalho de trazer os símbolos da sabedoria, o Velocino de Ouro, ou a princesa adormecida, de volta ao reino humano, onde a bênção alcançada pode servir à renovação da comunidade, da nação, do planeta ou dos dez mil mundos."

Nesta perspectiva, quando o londrinense reclama da arbistragem não significaria apenas vitimização, recalque e negação. A reclamação sobre acerto/erro do árbitro assume conotação simbólica, e poderia ser visto também como um “chamado” a toda comunidade londrinense a uma jornada. Afinal, tal como o clube nortista, Daniel Sam era perseguido na escola, Rocky Balboa não teve oportunidade no esporte e se via empurrado a uma vida criminosa até o convite para uma luta com Apollo Creed, e Kurt (o dragão branco Van Damme) viu o irmão ficar paralítico em uma luta contra Tom Po. Filmes com enredo discutível, pode até ser, mas entre tantos exemplos que poderiam ser citados por explorarem o monomito, evidenciando portanto outras perspectivas para a leitura da “choradeira” londrinense.