segunda-feira, 18 de março de 2013

Crônica da Semana


O Papa pode não ser pop mas o futebol é...

André Alexandre Guimarães Couto

camisa San Lorenzo Papa Francisco homenagem (Foto: Reprodução / Twitter)


Nos últimos dias ouvimos bastante um assunto que martelava nossas mentes por meio dos veículos de comunicação: a sucessão do líder espiritual da Igreja Católica: o Papa.

Em um momento histórico de renúncia do alemão Bento XVI, a escolha do novo “Santo Padre”, como é chamado pelos católicos, tornou-se crucial por conta da necessidade extrema de renovação dos ideais da Igreja no início do século XXI e das perspectivas daqui para frente.

Após a escolha do novo papa, o argentino Jorge Mario Bergoglio, que será chamado a partir de agora de Francisco, o mundo midiático arvorou-se em esmiuçar todas as informações possíveis, inclusive sobre os seus gostos pessoais. Até então, nada de mais, principalmente se levarmos em conta de que se tratava de uma pessoa pública e o primeiro latino-americano neste importante cargo. Porém, o que nos chama a atenção é o fato da assessoria de comunicação do Vaticano colaborar nesta divulgação, não censurando as notícias acerca do interesse do Papa no futebol.

Explica-se: o perfil do novo sumo pontífice deve estar alinhado com a população, seus interesses e preocupações. Sendo o futebol, o esporte mais popular do planeta, a aproximação entre este e o Papa, deveria extrapolar a esfera privada de uma relação torcedor/time de escolha e sim adentrar na questão de que o Papa, mais do que um torcedor é um fã apaixonado deste esporte. O seu antecessor, inclusive, já havia tentado esta aproximação ao informar que “O esporte de equipe, como o futebol, é uma escola importante para educar no sentido do respeito ao outro, também para o adversário esportivo, do espírito de sacrifício pessoal pelo bem de todo o grupo e da valorização dos dons de cada elemento que forma a equipe”[i].

Boa tentativa, mas ainda um discurso muito conservador e voltado para os interesses apenas coletivos, uma fala para o esporte quase angelical. Vocês acham que as palavras “sacrifício pessoal” e “dons” foram usadas por acaso? Certamente, não. Não te convenci? Que tal então outra fala de Bento XVI acerca do futebol e dos esportes coletivos: "Se trata de superar a lógica do individualismo e do egoísmo que caracteriza com frequência as relações humanas, para dar espaço à lógica da fraternidade e do amor, a única que permite promover um autêntico bem comum em todos os níveis".[ii] Como se pode ver, uma visão bem ingênua e ideologizada do esporte.

Agora, porém, a estratégia, se é que podemos usar esta palavra, parece ser diferente: a paixão e a emoção por um time como o San Lorenzo, por exemplo, é uma forma de dizer que podemos sim compartilhar emoções terrenas sem nos afastar de Deus. Pegando carona nesta linha, o próprio clube, do qual o Papa é um ilustre sócio, já montou uma estratégia de marketing ao lançar uma nova camisa com a imagem, símbolos e frase em homenagem à Francisco.

 camisa San Lorenzo Papa Francisco homenagem (Foto: EFE)


Apesar do oportunismo, tal ação vai ao encontro do Vaticano, por posicionar um Papa em um mundo mais popular, avesso a protocolos formais (vide os cumprimentos informais em sua posse) e com uma visão de pregar o catolicismo sem o descolamento de campanhas contra a pobreza, por exemplo.

Outros papas como o polonês João Paulo II, torcedor na juventude pelo MKS Cracóvia, também eram aficionados por futebol e até jogaram como prática desportiva (neste caso, Karol Wojtyla era goleiro do seu time de coração).


Em muitos casos, a popularização desta relação entre papado e futebol surgia de forma inesperada como a empatia surgida pelos tricolores do Rio de Janeiro com a visita de João Paulo II em 1980 e que supostamente “teria ajudado” o Fluminense a vencer o Vasco na final do Estadual daquele ano, após ser invocada a música “a benção do Papa” pela torcida. Tal relação durou tanto que em 2010, o clube tornou João Paulo II o seu padroeiro, 5 anos depois de sua morte. Obviamente, mais uma estratégia clubística de marketing.

Enfim, estudos sobre as aproximações do esporte com a Igreja são necessários, principalmente porque se tratam de sentimentos e paixões alimentadas ora pela crença e fé, ora pelo fanatismo e irracionalidade. Porém, a oportunidade de superar uma visão mais tradicional de sociedade e enxergar o esporte como um fenômeno mais humano e menos divino, com todos os problemas que isto acarreta, faz-se necessário. Por este ponto de vista, Francisco tem a oportunidade de dar um passo adiante. Por enquanto, assim como o seu time, o San Lorenzo, que está apenas com duas vitórias, uma derrota e três empates no Torneio Clausura, o momento é apenas de indefinição e expectativa. Esperemos, então. Sentados na arquibancada, de preferência.

P.S.: Enquanto terminava esta crônica o San Lorenzo derrotou o Colón por 1 x 0, conseguindo a sua 2ª vitória, mesmo com um jogador expulso aos 32 minutos do primeiro tempo e jogando em Santa Fé, casa do adversário. Neste jogo, a camisa que homenageia o Papa foi usada pela primeira vez. Bom sinal?