terça-feira, 12 de março de 2013

Duas empresas deixam construção do estádio de Cuiabá, e obra corre risco de não ficar pronta

Uma das empresas da Arena Pantanal abandonou a obra acusando o consórcio responsável de calote
Uma das empresas da Arena Pantanal abandonou a obra acusando o consórcio responsável de calote

As obras da Arena Pantanal, em Cuiabá, correm risco de não ficarem prontas a tempo da Copa do Mundo de 2014 após duas construtoras que tocavam o projeto abandonarem a empreitada, na semana passada. Agora, a empreiteira responsável que sobrou terá que triplicar sozinha o ritmo em que segue atualmente a construção para conseguir entregar o estádio dentro do prazo, em outubro deste ano.

Beirando a falência, a construtora Santa Bárbara Engenharia SA, líder do consórcio Santa Bárbara-Mendes Júnior, responsável pelo projeto, está deixando os trabalhos para serem tocados apenas pela construtora Mendes Júnior e suas subempreiteiras contratadas. Uma delas, a responsável pela montagem das estruturas metálicas do estádio, deixou a obra após ter ficado oito meses sem receber por seus trabalhos.
A saída da construtora líder do consórcio ainda não foi anunciada. Tanto as empreiteiras envolvidas quanto o governo do Estado de Mato Grosso (que banca a obra) não negam nem confirmam o abandono, dizem apenas que a saída da Santa Bárbara não muda a situação do contrato entre o poder público e o consórcio. A informação, porém, foi confirmada ao UOL Esporte por membros da Rede de Controle (grupo formado por promotores, procuradores e membros de tribunais de contas que acompanha as obras da Copa), funcionários da obra e empreiteiros que preferiram manter anonimato.
A conclusão da Arena Pantanal, a um custo de R$ 519 milhões e prevista para outubro desde ano, não será tarefa fácil. Desde que começou, em maio de 2010, até o final de fevereiro deste ano, a obra atingiu 62% de conclusão. Ou seja, o avanço em 34 meses se deu ao ritmo de 1,82% ao mês, em média. Assim, para a empreitada ser levada a cabo dentro do prazo, o ritmo dos trabalhos terá que ser triplicado, e a construção deverá andar a 5,48% ao mês em média.
A Arena Pantanal começou a ser construída em maio de 2010 - a primeira entre todas as 12 que serão usadas na Copa do Mundo. A previsão inicial era que ela estivesse concluída em dezembro de 2012. Não ocorreu. Em julho de 2012, o estádio tinha 46% de suas obras concluídas. Naquele mês, o governo de Mato Grosso assinou um aditivo ao contrato e estendeu o prazo de entrega até outubro deste ano.
O custo inicial previsto pelo governo de Mato Grosso era de R$ 342 milhões. Atualmente, está em R$ 519 milhões (aumento de 51%). A assessoria de comunicação do consórcio construtor, porém, informou ao UOL Esporte que, em breve, um terceiro turno de trabalho terá que ser criado para que a obra possa ser entregue a tempo, o que significa uma nova repactuação contratual, com mais um aumento de custo.
Hoje, de acordo com o consórcio, cerca de 800 operários se revezam em dois turnos no canteiro de construção do estádio. Apesar disso, o UOL Esporte presenciou o momento do encerramento de um turno de trabalho no final da tarde do último sábado (9) e não havia mais que 50 operários deixando a construção. Além disso, operários disseram à reportagem que os funcionários da Santa Bárbara não trabalham mais no local.
Beirando a falência
Com problemas na Justiça e uma dívida de R$ 543 milhões, conforme relevou o UOL Esporte, a Santa Bárbara está em processo de recuperação judicial e beira a falência. Além disso, parte do dinheiro que entra no caixa da empreiteira, depositado pelo governo estadual de Mato Grosso para ser utilizado na Arena Pantanal, segue outro caminho: o pagamento de dívidas da Santa Bárbara com outros credores.
Pesa sobre a Santa Bárbara uma série de bloqueios de valores autorizados judicialmente: a uma empresa chamada BK Transportes e Serviços, a empreiteira deve R$ 272 mil. Já à Topázio Inspeções tem R$ 908 mil a receber, enquanto outros R$ 5,24 milhões devem ser pagos à Mills Estruturas de Serviços e Engenharia.
Dessa forma, recursos da Secopa-MT (Secretaria Extraordinária para a Copa de Mato Grosso) transferidos ao Consórcio Santa Bárbara Mendes Júnior para pagar o estádio são sequestrados pela Justiça desde o ano passado, conforme também revelou o UOL Esporte, em agosto do ano passado. De acordo com empresários do setor de construção civil em Cuiabá, a saída da construtora da empreitada é uma manobra para que o dinheiro do governo de Mato Grosso volte a ficar na obra e não vá para cobrir dívidas anteriores da Santa Bárbara.
Aiuri Rebello/UOL
As placas informativas da obra Arena Pantanal trazem protestos da população e ainda informam a Santa Bárbara como uma das empreiteiras participantes
O Consórcio Santa Bárbara-Mendes Júnior não se pronuncia sobre a situação. A reportagem do UOL Esporte não foi autorizada a entrar no canteiro de obras da Arena Pantanal, mas o atraso é visível mesmo do lado de fora. Em alguns locais do entorno do estádio, o terreno ainda não foi sequer aplainado. A superestrutura das arquibancadas é a única parte pronta. A estrutura metálica que envolverá todo o estádio não está na metade e, na semana passada, causou a paralisação das obras e virou caso de polícia.
Sugestão e comentários de Eduardo fabiano Pereira
Particularmente, não sou dos que acredita em cortes de estádios para a Copa 2014. Algo me diz que sejam quais forem os contratempos, os governos estaduais e municipais acabarão por assumir mais custos e/ou responsabilidades a fim de cumprir os prazos prometidos. De qualquer forma, não deixa de ser preocupante que se deixe problemas como os desta reportagem ganharem este corpo. Seria de se esperar que obras desta importância tivessem um acompanhamento mais efetivo por parte de todas a sociedade mas, principalmente, dos próprios governos que deveriam ser os mais interessados em preservar o dinheiro público.