segunda-feira, 4 de março de 2013

Carro é apedrejado e torcedor se fere com bomba disparada pela PM

Indignados com a arbitragem, torcedores danificaram veículo que seria do presidente da FPF, Hélio Cury

Roberto Custódio/ Jornal de Londrina / Torcedor do Londrina ferido na saída do Estádio do Café
Torcedor do Londrina ferido na saída do Estádio do Café



Uma confusão marcou o fim da decisão do primeiro turno do Paranaense, em que Coritiba venceu o Londrina por 1 a 0 no Estádio do Café. Na saída do jogo, um carro foi apedrejado por torcedores doTubarão. Por causa da confusão dentro de campo - com a reclamação dos jogadores do Tubarão - e fora, a Federação Paranaense de Futebol (FPF) decidiu não entregar ao Coxa a taça de campeão do primeiro turno, o que deve ser feito no próximo jogo da equipe.
Segundo o relato de um torcedor, que não quis se identificar, os torcedores disseram ter visto a equipe de arbitragem em um Honda Civic que deixava o estádio. Também há relatos de que quem estaria no veículo seria o presidente da Federação Paranaense de Futebol (FPF)Hélio Cury - a reportagem tentou em entrar em contato com o dirigente para confirmar a informação, mas as ligações não foram atendidas.
"O pessoal viu e disse: 'olha, é o juiz'", disse um torcedor. Nesse momento, a cavalaria daPolícia Militar (PM) interviu com bombas de gás lacrimogênio e tiros de bala de borracha, dispersando a multidão.
Uma bomba de efeito moral atingiu o rosto deRenan Daniel dos Santos, de 22 anos, que foi levado para o hospital pela própria família. "É um total despreparo e falta de respeito com o torcedor. A gente não estava fazendo nada, só indo embora", conta um amigo que o acompanhava. Outras pessoas ficaram feridas por pedradas distribuídas pelos torcedores.
A confusão foi motivada pela derrota do Tubarão, que perdeu por 1 a 0 para o Coritiba, na partida que definiu o campeão do primeiro turno do Campeonato Paranaense. O time alviceleste reclamou a não marcação de pênaltis.
Coxa
Antes da partida, a PM havia registrado confusão na chegada dos torcedores do Coritiba aoEstádio do Café.
A Polícia Militar teve de intervir em uma confusão entre torcedores das duas equipes, quando torcedores do Londrina fizeram uma emboscada e apedrejaram o ônibus da torcida coxa na chegada ao estádio. Alguns tiros de borracha chegaram a ser disparados, quebrando alguns vidros do ônibus.
A confusão logo foi controlada pela PM e os torcedores alviverdes entraram no estádio escoltados pelos policiais.


Fonte: http://www.gazetadopovo.com.br/esportes/campeonato-paranaense/conteudo.phtml?tl=1&id=1350162&tit=Carro-e-apedrejado-e-torcedor-se-fere-com-bomba-disparada-pela-PM

Sugestão e comentários de Ernesto Sobocinski Marczal

A coincidente decisão do primeiro turno do Campeonato Paranaense, envolvendo as equipes do Londrina e do Coritiba no Estádio do Café, repercutiu nos veículos de imprensa não apenas pelos lances em campo, mas particularmente em decorrência das lamentáveis manifestações de violência, tanto simbólicas (com escassas exceções, pouco consideradas nos debates sobre o esporte) quanto físicas, dentro e fora dos gramados.
A justificativa do comportamento a partir da parcialidade da arbitragem, a polêmica das decisões ou ao simples despreparo desta, demostra a dificuldade em produzir qualquer tipo de avaliação satisfatória pretensamente racional para explicar ações motivadas pela passionalidade dos sujeitos envolvidos.
Contudo, um dos principais problemas desta percepção incide não só sobre a recorrência das desculpas fornecidas pelos protagonistas da confusão, sejam eles esportistas, dirigentes, torcedores ou responsáveis pela segurança pública, mas a normalidade com que a temática é tratada. Normalidade esta que lamenta, ao mesmo tempo em que naturaliza, tais incidentes e incorre nas mesmas analises para explicá-los, apontar culpados e fornecer possíveis soluções (reforço do policiamento, por exemplo).
Este não é o caso da presente reportagem, que sequer demonstra uma preocupação mais efetiva com esta questão. O foco em simplesmente “informar” os conflitos que antecederam e sucederam a partida, os quais podem ser precariamente defendidos por uma postura de objetividade e imparcialidade do relato jornalístico, parecem assumir um tom de complacência inconsciente com as manifestações de violência em torno das partidas de futebol, quase como se já estivéssemos acostumados com isso.
E, talvez, este seja um novo e inquietante problema, pois constatamos que tanto quanto as explicações, análises e discursos propagados a respeito da violência no futebol, a nossa própria postura diante de eventos como esse pode ter se tornado algo comum. Arrisco-me a dizer, tentando me desprender de qualquer hipocrisia, por mais ética que ela seja, que casos como esse raramente nos surpreendem. Indicio de que a violência no futebol esta perigosamente banalizada, muitas vezes arraigada, involuntariamente, em nossa própria percepção sobre os desdobramentos sociais esperados desse espetáculo esportivo.