segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Crônica da Semana

Futebol brasileiro: de patrimônio cultural a investimento capital

pelo Prof. Dr. Miguel A. de Freitas Jr.



Entre os indicadores necessários para que algo seja considerado patrimônio cultural, está a sua relevância para a manutenção da identidade, da cultura e a capacidade em representar os valores de um povo. Desta forma, nada mais justo do que considerar o futebol brasileiro, como um dos nossos mais significativos patrimônios culturais, seja pela sua trajetória histórica ou pelo seu devir.

A nossa reflexão de hoje não será sobre um grande jogador - talvez porque o futebol brasileiro anda meio carente e já chega de ficar falando só do Neymar, prefiro esperar para falar dele depois da Copa do Mundo, pois este será o evento em que ele terá que mostrar quem realmente é. Não abordarei também a seleção convocada pelo Felipão - até porque muitos de nós não se sentem representados pelos únicos 4 jogadores que atuam no futebol brasileiro e foram chamados para fazer parte do plantel, que irá enfrentar a seleção da Suíça; mas, diante de um mundo globalizado, em que ocorreu a fragilização das identidades locais, muitas vezes, nos sentimos mais representados pelos atletas que estão na Europa, do que por aqueles jogadores que ainda permanecem no Brasil por um único motivo - ainda não despertaram o interesse de nenhuma equipe internacional e, por isso, seguem aqui esperando uma oportunidade para ir embora. E aí me pergunto: é este o nosso atual patrimônio cultural? 

Pois bem, poderíamos falar de um patrimônio cultural imaterial a partir do nosso orgulho em sediar a próxima edição da Copa do Mundo, fato este que já foi motivo de júbilo para muitos países, mas que, nas últimas edições, tem sido fortemente questionado frente a relação entre investimentos x legados. Principalmente no nosso caso, em que os investimentos normalmente são públicos e superfaturados.

Além disso, verificamos que, a partir deste evento, busca-se a modernização e com ela acabaram destruindo parte do nosso patrimônio cultural e um dos nossos principais lugares da memória, o Estádio Mário Rodrigues Filho - o Maracanã. Há quem diga que os tempos são outros e que este posicionamento conservador não vai levar a lugar algum, pois o torcedor precisa de conforto (do que não discordo), mas não temos necessidade de acabar com a nossa história, de apagar a nossa memória, mesmo que ela tenha sido marcada por uma das principais tragédias do futebol brasileiro, quando perdemos para Uruguai em 1950 - o que foi um acontecimento importante para percebermos que não adiantava investir somente em infraestrutura: precisávamos preparar melhor o homem brasileiro e, mesmo diante de muitas incertezas, mudamos a nossa preparação e oito anos mais tarde nos tornamos campeões mundiais, sob o slogan " primeiro vem o homem e depois o jogador".

Agora, o que fazemos nós? Novamente, queremos mostrar para o mundo que somos modernos, civilizados e estamos no compasso da história, nem que para isso tenhamos que destruir nosso patrimônio material, entregar a administração para consórcios particulares, os quais obviamente buscam somente o retorno do investimento realizado. Resultado: o preço dos ingressos para jogos no Maracanã passaram a variar entre R$100,00 a R$250,00. Será que o futebol brasileiro ficará cada vez mais elitizado nas arquibancadas?

Dentro de campo tenho minhas dúvidas. Já fora dele... bom, fora dele eu convido você a ler o Dossiê Maracanã produzido pela ESPN http://www.espn.com.br/noticia/330860_dossie-maracana-superintendente-do-iphan-que-autorizou-bota-abaixo-do-maracana-e-funcionario-do-governo-do-estado e tirar a suas conclusões sobre o que estão fazendo com o nosso patrimônio cultural.