quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Crônica da Semana

por Ernesto Marczal



“Gol do Imperador!” ou “Um exemplo da construção da memória esportiva na imprensa”

Na última rodada do campeonato Brasileiro a vitória do Corinthians sobre o Atlético Mineiro foi um dos principais destaques. Mais do que a virada,  pelo placar de 2 x 1, que possibilitou a manutenção da liderança a duas rodadas do término do campeonato, os holofotes recaíram sobre um específico do jogo: o centroavante Adriano. Há mais de um ano sem marcar gols, o “Imperador” desencantou, no linguajar próprio da cobertura esportiva, justamente em um momento decisivo para o time de massas paulista (pelo qual  não havia conseguido ainda nenhum gol sequer).

As noticias e comentários posteriores ao jogo praticamente ignoraram outros atletas. Liedson, artilheiro do Corinthians na temporada, titular absoluto na posição e autor do gol de empate, foi praticamente “esquecido” pela crônica especializada. O homem do jogo era Adriano. Ao menos sob o olhar multifacetado, mas simultaneamente seletor, dos veículos de mídia.

Embora a diversidade dos meios de comunicação seja notória, é igualmente surpreendente suas coincidências discursivas.

É um exemplo, in loco, da construção narrativa da memória esportiva. Mesmo sem jogar a maior parte da temporada e marcar (até este instante) apenas um gol no campeonato, Adriano pode ser consagrado como um dos “heróis” do (possível) título alvinegro.

Paralelamente, tais construções discursivas reafirmam a necessidade permanente do futebol em passional e intimamente com seus aficionados. Mesmo fora de sua melhor forma física (algo recorrente nos últimos anos) e longe de seu auge esportivo, narrativas sobre momentos como este contribuem para manutenção do status
de um jogador “diferenciado”, “decisivo” entre outros adjetivos atribuídos pela crônica esportiva.

Refletindo sobre a atual circunstancia do esporte nacional, a necessidade da crônica em destacar personagens como Adriano, há muito desconexos de um desempenho esportivo que justifique a atenção
diferenciada concedida a um “craque”, só me remete a falta de renovação que experimentamos atualmente no esporte nacional. Mesmo com a nova leva (re)criar ídolos como forma de relacionar-se de jogadores e “promessas”, ainda há espaço significativo na imprensa para atletas que há muito tempo não justificam, desportivamente, uma atenção distinta.

Como ainda não terminamos o campeonato, e como corrobora este mesmo momento, talvez os comentários e narrativas articulados sobre as próximas rodadas do campeonato “apaguem” da memória este momento.

Algo que só evidencia como estas construções discursivas correm o risco permanente de serem (assim como este texto) nada mais do que narrativas efêmeras. Ou não.

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