sábado, 5 de maio de 2012

Direitos Televisivos: Métodos de partilha das receitas TV nas principais ligas Europeias

Texto sugerido e com comentários de Edson Hirata
O texto abaixo demonstra como a Europa tem negociado os direitos de transmissão. Se fizermos um paralelo com o Brasil, percebemos que os possíveis problemas apontados se repetem. 
Até 2011, os direitos de transmissão eram negociados coletivamente pelo Clube dos 13 e distribuídos de forma pré- combinada entre os clubes. Em 2012, as negociações foram individuais. 
Neste novo modelo, grandes clubes se prevalecem sobre os médios e tende a aumentar o fosso entre os mesmos. Isso já acontecia com o maior número de jogos televisionados pelos mais populares. Por quê?  Porque clubes com mais jogos transmitidos, tem maior visibilidade e podem dar maior retorno publicitário a seus patrocinadores, assim, tem maior poder de negociação. 
Sabendo que o esporte depende da imprevisibilidade dos resultados, os dirigentes devem colocar as barbas de molho para não perderem o seu "produto".



Uma das principais decisões que afetam neste momento o futebol em Portugal prende-se com o modelo de negociação dos direitos de transmissão televisivos dos clubes.
Atualmente, existem duas formas fundamentais de negociação: o modelo coletivo (normalmente negociado e explorado por uma entidade reguladora, geralmente a Liga de Futebol Profissional do país em questão, e as operadoras televisivas) e o modelo individual em que cada clube é responsável pela negociação dos seus próprios direitos (modelo que prevalece em Portugal). O modelo coletivo além de ser utilizado em alguns dos principais campeonatos europeus (Inglaterra, Alemanha, França e Itália) é também adotado em competições como a UEFA Champions League e a UEFA Europa League.
A diferença fundamental entre estes dois modelos é relativamente simples: enquanto que o modelo individual baseia-se na capacidade negocial de cada clube e, consequentemente, permite aos mais poderosos gerarem ganhos muito superiores aos restantes, o modelo coletivo aumenta a equidade entre os clubes e limita a vantagem dos que apresentam um maior poder negocial. Por outro lado, o modelo coletivo permite aos clubes e à entidade reguladora do país, apresentarem uma posição mais forte e de monopólio junto das operadoras televisivas negociando o seu produto como um só.
Neste sentido, as críticas apontadas ao modelo individual devem-se ao aumento do desequilíbrio entre clubes não proporcionando aos de menor dimensão a possibilidade de lutarem por objetivos mais ambiciosos e estarem mais propensos a competir com os clubes mais fortes.
O modelo coletivo funciona como um modelo de redistribuição de receitas aumentando a qualidade e competitividade da modalidade em si. Por outro lado, o grande obstáculo deste modelo prende-se com a aversão por parte dos clubes mais poderosos à adoção do mesmo uma vez que receiam não conseguirem manter/aumentar as suas receitas televisivas. Consideram-no também injusto dado a sua superior base de adeptos e valor da marca. Deste modo, neste modelo, os mecanismos de redistribuição devem ser cuidadosamente estudados e definidos de modo a manter o apoio dos maiores clubes e o equilíbrio dentro da liga de futebol. É também importante referir que, segundo o Deloitte Football Money League 2011 (relativo à época 2009/2010), 12 dos 20 clubes que geraram as maiores receitas televisivas seguiam o modelo coletivo. Contudo, os 5 primeiros seguiam o modelo individual.

INGLATERRA

A época passada, 2010/2011, foi o primeiro ano do novo contrato de exploração dos direitos televisivos da Premier League negociados coletivamente (1.165 milhões de Euros por época) permitindo um encaixe por parte dos clubes superior ao da época anterior. Relativamente à forma de distribuição das receitas, o modelo adotado é o seguinte: 50% são divididas em partes iguais por todos os clubes, 25% com base no desempenho das equipas (o primeiro classificado recebe 20 vezes o valor do último), e 25% são distribuídas consoante as audiências televisivas e o número de jogos transmitidos na TV (existe um limite mínimo de dez jogos). As receitas internacionais são também repartidas equitativamente por todos os clubes. Em 2010/2011, observou-se um rácio de 1,54 entre as receitas televisivas do primeiro e últimos classificados.

ALEMANHA

O contrato atual na liga alemã proporciona aos clubes um total de 520 milhões de Euros por época e termina em 2012/2013. Na Alemanha, as receitas televisivas são distribuídas coletivamente e negociadas pela Liga Alemã mas os clubes que participam nas competições da UEFA podem negociar esta componente individualmente ao contrário do que sucede em Inglaterra. Deste modo, dado que a Alemanha não consegue atingir na globalidade valores tão elevados como outros países, os clubes estabelecidos mundialmente como o Bayern de Munique, reclamam uma fatia maior do bolo do que aquela que recebem atualmente. Alegam também que por este motivo não conseguem representar bem o seu país internacionalmente por não conseguirem reter/atrair os melhores jogadores. Em 2010/2011, observou-se um rácio de 2 entre as receitas televisivas do primeiro e últimos classificados.

FRANÇA

O contrato atual engloba um montante de 517 milhões de Euros por época e termina em 2011/2012. Relativamente à forma de distribuição das receitas, o método adotado é semelhante ao de Inglaterra embora as percentagens sejam diferentes: 50% repartidas igualmente, 30% com base no desempenho (25% face ao desempenho na última época e 5% com base na média das classificações nas últimas cinco épocas) e 20% com base nas audiências. Em 2010/2011, observou-se um rácio de 3,51 entre as receitas televisivas do primeiro e últimos classificados.

ITÁLIA

Recentemente, foi adotado o modelo de negociação coletiva em Itália para as épocas 2010/2011 e 2011/2012 num valor total a rondar os 900 milhões de Euros por época, representando um significativo aumento das receitas globais. Este facto permitiu a alguns clubes aumentarem as suas receitas televisivas (ex: AC MIlan, Napoli). O caso do Napoli é evidente na medida em que as suas receitas televisivas aumentaram 47% na última época. No entanto, outros clubes sofreram um decréscimo das suas receitas devido à adoção deste novo modelo (ex: Internazionale e Juventus). Esta situação assume ainda uma maior importância dado que, neste país, as receitas televisivas representam, na maioria dos casos, a principal fonte de receita.
Relativamente ao modo de distribuição das receitas, a forma adotada é a seguinte: 40% do total é repartido em partes iguais pelos 20 clubes da Serie A, 30% é repartido em função do desempenho (10% pela historial de resultados, 15% com base nas últimas 5 épocas e 5% face à última época), e 30% em função das audiências televisivas (25% face ao número de adeptos e 5% com base no número de habitantes da cidade do clube). Em 2010/2011, observou-se um rácio de 10 entre as receitas televisivas do primeiro e últimos classificados.

ESPANHA

Em Espanha, tal como em Portugal, os clubes continuam a seguir o modelo de negociação individual. Neste sentido, o Real Madrid e o Barcelona atraem a maior parte das receitas televisivas tendo apresentado 144 milhões de Euros e 133 milhões de Euros, respetivamente, em 2010/2011 (retirando as receitas provenientes da UEFA). Os seus contratos foram celebrados com a Mediapro até 2013/2014 e 2014/2015, respetivamente. Em termos globais, o Real Madrid e o Barcelona arrecadam anualmente cerca de 47% das receitas televisivas totais dos clubes da primeira liga espanhola, revelando uma enorme disparidade. Simultaneamente, clubes como o Atlético de Madrid e o Valencia apenas arrecadam 30% das receitas individuais do Real Madrid. Em 2010/2011, observou-se um rácio de 12,5 entre as receitas televisivas do primeiro e últimos classificados.

fonte: http://www.futebolfinance.com/metodos-de-partilha-das-receitas-tv-nas-principais-ligas-europeias