segunda-feira, 22 de abril de 2013

Crônica da Semana

Déjà vu

por Riqueldi Lise, mestrando em Educação Física/UFPR 

                                  Jarbas Oliveira/Folhapress

No dia 26 de março passado, o prefeito da cidade do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, em uma coletiva de imprensa anunciou a interdição do Estádio Olímpico João Havelange, também conhecido como Engenhão, por tempo indeterminado. Segundo o prefeito carioca, a cobertura do estádio apresentou falhas estruturais que colocavam em risco a vida dos torcedores. Contudo, a interdição não se deu apenas por conta dos problemas na cobertura. 

Em 2011, o estádio sofreu quatro apagões, resultado de falhas na concepção e execução do sistema elétrico. Os sistemas de emergência são incompatíveis e entram em conflito quando há queda de energia, impedindo assim que os geradores funcionem. Muitos torcedores que costumam frequentar o Engenhão alegam, ainda, que a água proveniente das torneiras do estádio apresenta coloração marrom, resultado da oxidação das tubulações hidráulicas de ferro que, por sinal, são mais caras e menos eficientes que as tubulações em PVC. A distribuição da água dos reservatórios para os banheiros não é eficiente e, em jogos com maior volume de público, os banheiros costumam ficar sem água. 

Pois bem, vale aqui lembrar que o Estádio Olímpico João Havelange foi construído para ser um dos principais palcos dos jogos Pan-Americanos de 2007, realizados no Rio de Janeiro; ou seja, a construção não tem mais do que seis anos de idade e já apresenta graves problemas estruturais. A obra sofreu atrasos na sua realização, a empreiteira ganhadora da licitação abandonou a execução do projeto, o qual ficou a cargo de duas outras empreiteiras, que foram obrigadas a terminar a obra a “toque de caixa”. Hoje ninguém se responsabiliza pela obra. 

Outra situação que chama a atenção na construção do Engenhão consta no seu orçamento, que inicialmente previa um gasto de cerca de R$ 60 milhões e que ao término da obra demandou valores de cerca de R$ 400 milhões. A propósito, quanto ao Pan-Americano de 2007, o orçamento final foi dez vezes maior que o previsto inicialmente. 

Parece que não aprendemos absolutamente nada com essa triste lição que o Pan-Americano de 2007 nos deu. Por exemplo, a Arena Pantanal em Cuiabá, já teve duas empreiteiras que abandonaram o projeto, e agora a obra é tocada por uma única construtora que promete agilizar o término da construção em ritmo alucinante. O orçamento inicial desta obra era de R$ 342 milhões e hoje já supera a casa dos R$ 520 milhões – até agora um aumento de 47%, e vem mais por aí. Aqui em Curitiba, o orçamento inicial para as obras para a Copa do Mundo de 2014 era de R$ 770 milhões, em janeiro de 2011; em maio de 2013 o valor já ultrapassa a casa dos R$ 860 milhões, sendo que alguns projetos foram excluídos da agenda para a Copa 2014. 

A história parece ser a mesma de sempre, o descaso com o investimento do dinheiro público, interesses pessoais acima do bem comum, a corrupção generalizada da política brasileira e, principalmente, a letargia da população em relação a esses desmandos da coisa pública. Possivelmente, alguns anos após a realização da Copa do Mundo de 2014 no Brasil, teremos uma espécie de “déjà-vu”, da lição de casa que não aprendemos com o exemplo do Engenhão. E o Romário continua insistindo que a tal Copa será o maior roubo da história do Brasil. Para terminar, já existe um projeto de reforma do Engenhão para que o estádio abrigue algumas modalidades nas Olimpíadas de 2016 – o custo previsto gira em torno de R$ 100 milhões. A farra parece estar longe de acabar.