domingo, 7 de abril de 2013

Goleiro convocado por Felipão escapou de dispensas no Timão

Matheus Vidotto Corinthians (Foto: Alexandre Lozetti)

Fim de tarde, céu nublado, e o adolescente Matheus Vidotto fazia o que a maioria dos garotos de sua idade fazem nos tempos modernos: navegava na internet. Até que viu a notícia sobre a convocação da seleção brasileira, e clicou para saber se algum companheiro do Corinthians havia sido chamado por Luiz Felipe Scolari. Lá estavam Alexandre Pato, Ralf, Paulinho e... Matheus Vidotto! Um susto tão grande que o goleiro pensou tratar-se de um engano. Mas o telefone começou a tocar, e ele se deu conta de que era verdade. Às poucas pessoas a quem atendeu antes de desligar o celular, ele não conseguiu explicar o que estava acontecendo.

- Não consigo dizer qual foi minha reação porque eu não entendi nada.

Em menos de uma hora, ele, sua mãe e os assessores do Corinthians receberam mais de 200 ligações. Ver seu nome na relação de Felipão, junto aos dos parceiros de clube, de Neymar, Ronaldinho, foi uma sensação inesquecível para quem tinha até trauma de listas. Até poucos anos atrás, Matheus era presença quase certa nas listas de dispensa das categorias de base do Timão. Ele nem sabe dizer quantas vezes foi liberado e achou que a carreira havia terminado antes mesmo de começar: “Incontáveis”.

Hoje com 19 anos e 1,90m de altura, o jovem demorou a crescer. Era franzino e fraco demais para a posição, mas teve o socorro dos preparadores de goleiros, que ressaltaram os aspectos técnicos e convenceram em todas as vezes os dirigentes a manterem Matheus no clube. Um prêmio para quem, aos 11 anos, mudou o horário da escola para poder treinar à tarde no Corinthians, passou por três cirurgias para corrigir uma espécie de arritmia cardíaca e sete anos depois conquistaria o título da Copa São Paulo de Juniores.

Título conturbado, por sinal. Na final contra o Fluminense, o goleiro machucou a coxa esquerda e saiu no segundo tempo. Mancando, demorou a chegar à festa no pódio, e quando conseguiu, sua medalha não estava mais lá. Ou melhor, estava, mas no bolso do então vice-presidente da CBF José Maria Marín. Matheus recebeu outra medalha no mesmo dia, e depois daquele episódio já se encontrou com o dirigente, agora presidente da entidade. Foi no último Sul-Americano Sub-20, quando Marín viajou para a Argentina em razão da pífia campanha da Seleção. O goleiro não conversou sobre o incidente.

- Preferi não brincar com o presidente da CBF (risos). Era o chefe de todo mundo, e isso nem mexeu muito comigo. Tanto que nem sei onde estava a medalha. Foi muito mais falha da organização do que algo mal intencionado.
Só de estar no campo e olhar o jogo mais de perto, vou aprender muita coisa. No convívio, no vestiário, dá pra aprender muito em dois dias"
Matheus

Matheus foi convocado por Felipão com auxílio de Gallo, técnico das seleções de base. Como se trata de um amistoso que não estava na programação, organizado para ajudar a família do adolescente Kevin Espada, morto em fevereiro, vítima de um sinalizador disparado de onde estava a torcida do Corinthians no empate contra o San José, em Oruro, o treinador optou por dar experiência de convívio a alguns jovens promissores. Matheus não tem esperança de jogar, mas quer aprender com Jefferson, de quem é fã. Tanto que, em 2002, foi comemorar o dia dos pais no Maracanã. Era a estreia de Romário no Fluminense, que venceu por 5 a 1 o Cruzeiro. No aeroporto, ele se encontrou com a delegação do clube mineiro, e tirou foto com o goleiro. Era Jefferson, agora seu parceiro.

- Desde que comecei a jogar futebol na escola ou no meu prédio, eu era goleiro. Era alto e ruim na linha. Tanto que só procurei o goleiro para tirar foto, e era o Jefferson - relembra.

Sem brincos ou tatuagens à mostra, e sem corte de cabelo exótico, Matheus tem jeito, cara e voz de adolescente. Solteiro, diz que terá cuidado para se lembrar de quem estava ao seu lado antes da fama repentina. O jeito sossegado de falar reflete o que é o jovem dentro e fora de campo. Mas nem sempre foi assim. Quando ele era criança, seus médicos recomendaram aos pais que o levassem para praticar esportes. Matheus era superativo. Ele mesmo se define com adjetivos menos simpáticos.

- Eu era muito agitado, muito chato. Quebrava tudo, não parava de gritar. Nesse sentido, fui o pior filho que uma mãe podia ter. Mas hoje sou sossegado. Até comentei com ela esses dias. Chego tão cansado em casa que fico “relax”.

A mãe foi a primeira a saber da convocação, e também não acreditou. Sua reação até irritou o jogador da Seleção. Já o pai, com o celular descarregado, só soube ao chegar em casa. No dia seguinte, o goleiro já havia assimilado a notícia e falava sobre ela com a mesma naturalidade que espera demonstrar nas pouco mais de 24 horas que ficará junto com a seleção brasileira.

Em razão da cidadania italiana, e também por questão de gosto, o jovem prefere ser chamado de Matheus Vidotto. Até o site do Corinthians o chama de Matheus Caldeira. Mas nem uma possível facilidade em se transferir no futuro muda seu sonho: ser titular do Timão. Ele sabe que o caminho é longo. Hoje é o quarto goleiro, atrás de Cássio, Danilo Fernandes e Julio Cesar. Ao explicar à reportagem seu desejo, Vidotto esbanjou bom humor, e disse que isso era mais “alcançável”.

- Eu ia falar que era plausível, mas aí iriam dizer que quero ser o Paulo André (risos) - brincou, em alusão ao vocabulário rebuscado do zagueiro.


Sugestão e comentário de Everton Cavalcanti.


Bom, na busca por uma notícia relevante para esta reflexão, me deparei com a convocação do 4º goleiro corintiano. Sim, antes dele, a preferência no clube é de Cássio, Danilo Fernandes e Júlio César! E olhando as listas do Felipão (pouco diferem-se das de Mano) fico pensando como o selecionado está banalizado. Tudo bem que trata-se de um amistoso não programado e contará somente com atletas que atuam no Brasil, no entanto, é necessário bom senso para que as dúvidas do caso Leomar não retornem. Pior do que isso, é saber que o critério de escolha dos atletas é um tanto quanto questionável, mesmo quando a convocação inclui os atletas advindos do futebol europeu. Talvez o exagero na crítica esconda a falta de qualidade de nossos atletas, mas não se enganem, eu sei o quanto estamos carentes de Romário, Ronaldo e Rivaldo, nos entregando a Lucas, Neymar e Hulk! Usando o chavão de um bom e velho corintiano (Chico Lang) "Assim caminham o futebol e a mediocridade".