quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Árbitro não relata briga de torcida na súmula do Atletiba



Mesmo assim, imagem da confusão, que gerou 11 prisões, podem ser encaminhadas ao STJD

O árbitro Sandro Meira Ricci não relatou na súmula do Atletiba deste domingo a briga generalizada entre torcedores do Atlético, o que atrasou o reinício do clássico no segundo tempo em 11 minutos. O juiz relatou apenas um isqueiro que foi lançado no gramado e a queda do alambrado na comemoração do gol de Paulo Baier, ao fim do primeiro tempo.
Mesmo sem constar na súmula, as imagens da briga das facções Fanáticos e Ultras pode ser encaminhada para avaliação da procuradoria do Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD), podendo ser aberto processo em que o Furacão corre risco de perder mando de jogos. O STJD já abriu processo no caso da pedra atirada no gramado da Vila, na derrota do Atlético para o Vitória, no final de semana anterior - ainda não há data para o julgamento.

O torcedor, que é o presidente da Fanáticos, Fábio Marques, de 33 anos, teria sido primeiramente encaminhado com os outros torcedores à Delegacia Móvel de Atendimento ao Futebol e Eventos (Demafe), no próprio estádio. Após ser liberado, o mesmo homem, segundo relata a PM, foi detido novamente nas imediações da sede da torcida, próxima à Arena da Baixada, após a torcida ter sido escoltada na saída da Vila Capanema. Ele foi detido com uma pistola calibre 40 e encaminhado com mais dois outros homens ao no 8º Distrito Policial.A briga entre membros das facções Fanáticos eUltras no Atletiba rendeu a prisão de 11 torcedores e a emissão de quatro termos circunstanciados. Com um dos detidos aconteceu uma situação inusitada: foi preso duas vezes no mesmo dia.
A confusão no estádio aconteceu quando um grupo da Fanáticos deixou a reta do relógio em direção ao local onde estava a torcida do Coxa. No meio do caminho, eles foram interceptados pelos integrantes da Ultras, quando começou a briga generalizada. Com o confronto, policiais dispararam balas de borracha, o que gerou mais correria nas arquibancadas.
Isqueiro e alambrado
Antes da briga da torcida, o atacante Bill e o goleiro Vaná, do Coritiba, discutiram com um segurança do Atlético para pegar um isqueiro que havia sido lançado no gramado. Enquanto Vaná segurava o segurança, Bill arrancava o isqueiro dele. O objeto foi entregue à arbitragem e entrou na súmula.
Já a queda do alambrado - também relatado na súmula - no fim do primeiro tempo, quando a torcida atleticana comemorou o segundo gol de Baier. Como muitos torcedores subiram na grade, a estrutura não suportou e cedeu.
Segundo o major Manoel dos Santos Neto, responsável pela segurança do clássico, os policiais tiveram de amarrar o alambrado com cordas. A PM chegou a ser ajudada pela própria torcida para fechar o vão.
No campo, um cordão de segurança dos policiais manteve o controle para que a torcida não invadisse o gramado. “Tivemos de tomar uma medida para minimizar o problema e o jogo prosseguir”, disse o major.
Outro lado
Na manhã desta segunda-feira (7), o presidente da Fanáticos, Fábio Marques, negou que tenha sido detido duas vezes pela Polícia Militar. Conforme relatou à Gazeta do Povo, ele não chegou a se envolver na briga ocorrida dentro do estádio e, por isso, não foi encaminhado à Demafe. "Quando teve a confusão, fui para retirar uma integrante da Fanáticos que estava na briga. Não fui nem detido", diz.
Quanto à arma encontrada no carro onde estava, Marques afirma que o objeto não pertencia a ele. Segundo o presidente, a arma - de tipo restrito a uso da Polícia Militar - estava de posse de um componente da torcida. "A gente nem sabia que ele estava armado", declarou.
Para prestar esclarecimentos, Marques foi detido e encaminhado ao 8º Distrito Policial, de onde foi liberado porque outro jovem assumiu o porte de arma
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Hipocrisia e barbárie
É lamentável o ocorrido neste domingo (06/10/2013), no jogo realizado entre Atlético Paranaense e Coritiba, no Estádio Durival Britto. O conflito não foi entre as torcidas dos clubes adversários, mas entre as organizadas Fanáticos e Ultra, do próprio CAP. A descrição feita pela reportagem do jornal Gazeta do Povo parece referir-se a uma quadrilha organizada de traficantes e criminosos, não a torcedores de futebol. Se é verdade que não dá para condenar a todos os torcedores por essa barbárie, está claro também que há da parte destes certa conivência e silêncio – por medo ou inércia – ou, pior, por que crêem que aqueles fazem o serviço sujo que acreditam deva ser feito.
Como também contam com a conivência das diretorias dos clubes, que não poucas vezes fazem vistas grossas e apaniguam a violência. Não é incomum membros das organizadas atuarem diretamente na administração dos clubes, mesmo que de maneira informal, ora como segurança, ora servindo a interesses pouco claros de grupelhos ou de egos individuais que predominam entre dirigentes. A experiência do Coritiba, com o caso na invasão que resultou na perda de mando e em grave prejuízo esportivo e financeiro ao clube, em 2009/10, revelou como eram íntimas as relações da diretoria do clube com as organizadas. Até o momento que a “Império” saiu do suposto controle, ou do acordo de cavalheiros (sic) que parecia existir ela e a diretoria alviverde.
Os conflitos violentos e muitas vezes armados servem para revelar o despreparo profissional dos dirigentes do futebol brasileiro, que parecem se sustentar no poder por meio da terceirização da violência.
Por fim, fica claro que a capacidade das nossas polícias em reprimir e prender manifestações de professores e estudantes não é proporcional ao tratamento dado ao crime organizado, do tráfico na periferia às classes medias nos estádios de futebol.
A resposta para isso tem de vir de torcedores que se indignem – como qualquer cidadão – com essa violência e das instituições públicas, em especial a justiça comum e a esportiva, caso contrário essa hipocrisia democrática que vivemos só terá um fim: mais e mais barbárie.

Sugestão e comentário de Luiz Carlos Ribeiro