segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Crônica da Semana

Precisamos mesmo de Diego Costa?

André Alexandre Guimarães Couto


Fonte: http://globoesporte.globo.com/futebol/selecao-brasileira/noticia/2013/03/diego-costa-vira-inspiracao-no-pobre-e-desconhecido-barcelona-capela.html

Ninguém aguenta mais ouvir falar sobre a “escolha de Sofia” de Diego Costa em relação a qual seleção de futebol irá se integrar. Cá entre nós, não é uma decisão tão fácil, pois envolve algumas questões importantes. Vamos a elas:
1)           Do ponto de vista do jogador, parece muito mais fácil a escolha pela Fúria, devido a sua integração de muitos anos no futebol espanhol e o grande apoio que tem recebido pelo treinador Vicente Del Bosque e dos demais jogadores deste selecionado. Apesar de ter nascido brasileiro, Diego Costa, hoje tem uma vida social e cultural baseada na Espanha, mesmo com toda a crise econômica ocorrida recentemente neste país. Dizer não agora poderia abalar toda a sua vida em seu habitat, inclusive em sua relação com a imprensa espanhola.
2)           Por outro lado, o jogador não conta com um lobby parecido na seleção brasileira, pois são poucos os jogadores canarinhos que se posicionam favoravelmente neste sentido, muito provavelmente por conta da alta concorrência pelas convocações.
3)           O único grande apoio brasileiro vem de Felipão, que já havia convocado o jogador em março para 2 amistosos. A sede no Brasil é um grande argumento deste treinador para que Diego escolha o melhor caminho para se tornar campeão mundial.
Bem, mas e a posição da FIFA? Apesar de ainda não sabermos qual será a decisão da mesma, cabe lembrar que este caso não é um ato isolado, tendo ganhado altas proporções na mídia por se tratar de uma disputa entre Brasil e Espanha, duas poderosas seleções e candidatas ao título em 2014. Cabe lembrar que algumas seleções recentes de Futsal da Espanha, inclusive, contavam com muitos (aliás a maioria) brasileiros naturalizados.
Em um momento de intensa campanha contra o racismo e o xenofobismo no continente europeu, a FIFA que lançou medidas paliativas recentemente (como paralisar os jogos e ativar o sistema de som dos estádios reprimindo tais atos), tem procurado fazer vistas grossas para estes casos, pois acredita que a participação de alguns jogadores naturalizados em outras seleções colaboraria para uma diminuição dos atos racistas em alguns lugares deste planeta. Será mesmo? Alguém imagina um jogador nascido no continente africano jogar na Rússia, por exemplo?
A ideia de identidade também é chamada ao debate, pois se o nascimento pode definir uma determinada identidade espacial, a construção histórica de identidade nacional se dá por outros caminhos, como a conformação e propagação de uma cultura em comum. De acordo com o historiador Stuart Hall, “a identidade plenamente unificada, completa, segura e coerente é uma fantasia”.[1] Se não temos mais um sujeito monolítico e moderno, as conformações pós-modernas propiciaram um sistema de (re)significação e representação das práticas culturais cada vez mais difícil para criarmos rótulos. Ainda de acordo com Hall, por conta disto, “(...) somos confrontados por uma multiplicidade desconcertante e cambiante de identidades possíveis, com cada uma das quais poderíamos nos identificar – ao menos temporariamente”.[2]
Desta forma, o apelo ao nascimento biológico de Diego Costa não pode servir de mote para que a escolha seja óbvia, muito menos para servir de propósito para chamá-lo de traidor, em caso de sua negativa.
Por ora, seguimos em compasso de espera pela decisão de Diego Costa, que segundo o jornal espanhol AS, deve sair hoje. Mas, realmente, precisamos mesmo da presença dele em nossa Seleção? Mesmo sem termos um time imbatível, teríamos outros jogadores melhores ou pelo menos no mesmo nível?
Fred, Alexandre Pato e Leandro Damião hoje não seriam grandes opções, pois se o primeiro foi um dos destaques na Copa das Confederações, sua condição muscular sempre será uma dúvida, enquanto o segundo, bem, não preciso dizer muito, não é mesmo? O terceiro voltou a fazer gols. Porém, ainda é pouco para ganhar uma vaga na Copa.
Bom, mas temos Jô, que sempre comparece nos gols com a camisa amarela. E daí? Empolga alguém? E o Hulk? Bom jogador, mas contestado por muitos, já deixou de ser atacante referência no esquema tático de Scolari há muito tempo.
É. Comecei a escrever esta crônica acreditando que a CBF só investiria em Diego Costa não para fortalecer o Brasil, mas apenas para não aumentar as armas da Espanha, que já tem um time forte e poderá ser uma grande rival em 2014. Porém, ao analisar as nossas opções de ataque, ficamos realmente na dúvida para escalar o companheiro de Neymar.
E você? Escolheria qual seleção? Eu, sinceramente, não tenho uma resposta...




[1] HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. Rio de Janeiro: DP&A, 1991. P. 13.
[2] Ibidem.