domingo, 29 de julho de 2012

Crônica da semana


A metamorfose do futebol brasileiro

por Edson Hirata, Doutorando em História (UFPR)

Pegando uma carona no título e enredo da reconhecida obra de Marcelo Weishaupt Proni tento, resumidamente, atualizar as mais recentes transfigurações que o futebol brasileiro têm sofrido.
Para mim, o futebol brasileiro não é mais o mesmo de 15, 20 anos atrás. Não estou tratando dos aspectos táticos ou técnicos, que também estão sendo revistos, refiro-me especialmente as alterações na estrutura organizacional da modalidade e pontuo alguns indícios que me levaram a acreditar nessa mudança, em geral, extremamente positiva.

Começo analisando o Campeonato Brasileiro. Há tempos não vemos mais viradas de mesa para evitar que algum “grande” seja rebaixado. Tampouco as datas dos jogos têm sido transferidas. Hoje, calendário parece coisa séria.
O profissionalismo ainda não impera na gestão e marketing dos clubes de futebol. Mas, certamente melhorou muito. Reconheço, contudo, ainda há muito a evoluir nesse quesito.
As recentes contratações do uruguaio Fórlan pelo Internacional e do holandês Seedorf pelo Botafogo simbolizam um dos aspectos mais significativos que me induzem a reconhecer a evolução do futebol brasileiro. Agora sim estão valorizando o show e contratando os melhores artistas, distintamente do que Juca Kfouri certa feita analisou: “No Brasil em vez de exportarmos o show, exportamos os artistas”.
Esse processo de contratação de craques renomados tem dois pontos extremamente positivos: 1- melhora a qualidade técnica e o espetáculo e em certa medida, aumenta a possibilidade do clube conquistar títulos; 2- projeta-se a possibilidade da presença do craque auxiliar na busca por patrocinadores/parceiros e assim aumentar as receitas do clube. Vide caso Ronaldinho e Neymar.
Parece que o bom momento econômico que o Brasil atravessava até o início do ano, mas que agora, apesar de um certo declínio no crescimento ainda oferece um panorama muito melhor que a economia européia, foi um fator decisivo para a manutenção/importação de jogadores de talento superior. Os clubes europeus estão tendo dificuldade em contratar devido a dois fatos principais: a crise econômica na Europa aliada e o maior controle sobre as finanças dos clubes. Assim, o mercado brasileiro conseguiu uma certa expansão.
Ainda no aspecto econômico, há de se ressaltar o aumento exponencial das receitas dos clubes brasileiros. Esse fato se torna mais relevante quando os números indicam que esse crescimento está ligado à diferentes fatores em cada clube. No clube x o crescimento deveu-se a um bom contrato com a emissora de televisão, no clube y os responsáveis foram as vendas de ingresso ou o pagamento das mensalidades dos sócios, no clube z, as negociações com os patrocinadores é que alavancaram as receitas. Sem falar que boa parte dos clubes, tem um mix equilibrado entre essas distintas origens de receitas.
Contudo, apesar do aumento nas receitas, acredito que um fator extremamente negativo para o futebol brasileiro é a forma individual de negociação dos direitos de transmissão do Campeonato Nacional, pois, a tendência é que aumente o fosso entre os grandes e pequenos clubes, ou seja, os grandes clubes conseguem valores mais altos e os pequenos clubes tem que se contentar com valores menores. Com mais dinheiro, contrata-se jogadores com mais qualidade e torna-se um candidato a títulos. Os títulos trazem maior exposição na mídia e como conseqüência facilitam a busca de melhores patrocínios e alavancam as vendas de ingressos e produtos licenciados.
Eu acreditava na fórmula anterior, onde o contrato era fechado por um representante do grupo e o montante era rateado segundo alguns critérios pré-elaborados.  A diferença das receitas recebida pelos clubes grandes e médios era menor e isso ajudava a equilibrar as forças. Aliás, o equilíbrio de forças é essencial no campo esportivo, especialmente para aumentar o grau de tensão nas competições.
Existe muito a melhorar. Contudo, há de se admitir. Se o ritmo ainda é lento, pelo menos a direção parece correta.