quarta-feira, 25 de julho de 2012

Moneyball no futebol



Se você acompanha futebol inglês, deve já ter visto que Brendan Rodgers foi contratado como técnico do Liverpool nesta semana. E, se você também acompanha um pouco de cinema, deve ter conhecido – mesmo que não tenha visto efetivamente – que Brad Pitt concorreu ao Oscar deste ano pela atuação como o diretor de um time de beisebol. Pois sabia que os dois casos estão bastante ligados?
No filme Moneyball (baseado em livro do mesmo nome, mas que no Brasil foi às telas como “O Homem que Mudou o Jogo), Billy Beane, diretor esportivo do Oakland Athletics, consegue montar equipes competitivas com jogadores rejeitados pelo mercado. Seu truque: usar estatísticas inovadoras para descobrir como alguns jogadores desvalorizados são, de fato, muito bons e podem formar uma base forte a baixo custo. Uma prática que ficou conhecida como “sabermétrica”.

Os resultados do Oakland e o lançamento do livro serviram de revolução no esporte americano. Vários times adotaram em algum grau esses conceitos. Uma das equipes que mais se afeiçoaram a essa filosofia foi o Boston Red Sox. As análises estatísticas avançadas ajudaram o time a conquistar o título em 2004, acabando com um jejum de 86 anos.

Bem, o dono dos Red Sox que incentivou essa prática é John Henry, empresário que comprou o Liverpool em 2010. Uma de suas ideias era desenvolver conceitos sabermétricos para o futebol e aplicá-los no Liverpool. O francês Damien Comolli foi contratado como diretor esportivo justamente por ser partidário dessa ideia.

Em setembro do ano passado, a revista ESPN norte-americana, publicou uma pequena reportagem sobre isso. As primeiras pesquisas apontavam que nem sempre o time que vencia era o que tinha mais posse de bola, o que finalizava mais, o que fazia menos faltas, o que desarmava mais. Mas quase sempre era o que tinha melhor aproveitamento de passes.

Isso poderia pautar as contratações do Liverpool para o futuro. Bem, Comolli deixou o clube (oficialmente por problemas pessoais, ainda que se suspeita que tenha sido um acordo para não anunciar friamente sua demissão), mas a ideia parece ter ficado viva em Anfield.

Rodgers levou o pequeno Swansea a uma campanha segura na Premier League 2011/12. Para isso, montou um time que trocava muitos passes, uma versão galesa do Barcelona. Entre as cinco principais ligas nacionais da Europa, o “Swanselona” foi o quarto time com mais posse de bola e seu volante, Leon Britton, foi o jogador com maior precisão de passes (93,5% de acerto, mais que Xavi).

Por isso, não parece surpreendente a contratação de Rodgers para substituir Kenny Dalglish no Liverpool. Não apenas pelo seu resultado no Swansea, mas pelo método aplicado para ele ter esse resultado.


Sugestão e comentário de Eduardo Fabiano Pereira.

A nova “lei do passe”?

Para quem não assistiu Moneyball ou não está habituado ao baseball, a idéia de montar equipes a partir de estatísticas individuais pode parecer estranha, mas, dentre os esportes coletivos, o baseball e o futebol americano talvez sejam os mais individualizados. O primeiro, nas figuras do lançador e rebatedor e o segundo, no chamado quarterback. Pensando dessa maneira, parece difícil aplicar o conceito no futebol onde o coletivo sempre ocupa um espaço grande nos debates sobre táticas e preparação. Ninguém duvida do valor de um Romário ou Ronaldinho para um clube, mas, normalmente, mesmo eles precisam jogar em equipes minimamente entrosadas e competitivas. Afinal, o rei da pequena área vai marcar gols como se a bola não chegar até a pequena área?
Aí  entra a estatística. Quem não erra passes, fica com a bola mais tempo e cria mais oportunidades, corre menos riscos durante uma partida e por conseqüência, vence um maior número de jogos. Essa máxima, levada ao extremo pelo Barcelona dos últimos anos demonstrou a possibilidade real de se importar os conceitos gerais expostos no filme aos demais esportes coletivos. Não há garantias, não se trata disso, mas, de aumentar as próprias chances de vencer. Maximizar as possibilidades. De qualquer forma, fica sempre a pergunta: um jogador que acerta 93,5% dos passes que efetua, consegue repetir o feito num time com o qual não está entrosado?
Ao que parece, mesmo que existam problemas na transposição da técnica estatística para o futebol, esta pode ser uma boa alternativa imediata para clubes de baixo orçamento. Talvez, uma alternativa melhor ainda para clubes de alto orçamento e planejamento de longo prazo, como o próprio Barcelona ou – e talvez o futuro o confirme –, o Liverpool.