sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Atlético tinha dois orçamentos com melhor preço de cadeiras


Aniele Nascimento/ Gazeta do Povo / Cadeiras são testadas na Arena da Baixada durante a visita do ministro Aldo Rebelo, do Esporte, em junho
A CAP S/A escolheu o preço mais caro entre os três orçamentos finalistas da tomada de preço do clube para o fornecimento de assentos esportivos na Arena. A Ufficio Mackey Indústria de Móveis Ltda. apresentou uma proposta R$ 1,1 milhão inferior à da Kango Brasil Ltda., escolhida para executar o serviço, empresa do filho do presidente do clube, Mario Celso Petraglia. Terceira empresa finalista no processo, a Sanko Meão Ltda. se propôs a realizar o mesmo fornecimento por um valor cerca de R$ 850 mil inferior ao vencedor.
O orçamento da Mackey contradiz informação passada pelo Atlético e pela CAP S/A, responsável pelo gerenciamento, administração, construção e empreendimento imobiliário do estádio rubro-negro para a Copa do Mundo de 2014.
No dia 12 de outubro, o diretor de suprimentos da CAP S/A, Cristiano Ribeiro, e o diretor de marketing do clube, Mauro Holzmann, afirmaram à Gazeta do Povo que apenas um dos preços finalistas era inferior ao da Kango. A mesma informação foi repetida em nota oficial publicada no site rubro-negro, quinta-feira passada.
Qualidade do material e facilidades na fabricação e reposição foram as razões apontadas para justificar a escolha da Kango.
A Gazeta do Povo teve acesso ao último orçamento da Mackey, enviado à CAP S/A no dia 23 de agosto. A empresa, com sede e fábrica em São Paulo, encaminhou uma proposta de R$ 10.974.018,93 – descontadas as isenções de impostos previstas para a Copa do Mundo, o valor cai para R$ 8.278.016,04.
Os valores são inferiores aos apresentados pela Kango. A empresa, que fornece cadeiras para a Arena da Baixada desde 2004, fechou contrato com a CAP S/A por R$ 12.350.613,30. Com os descontos de impostos, a soma cai para R$ 9.676.705,52 líquidos – a co-habilitação da Kango ao projeto Recopa garante um desconto adicional de R$ 300 mil. Metade do valor líquido já foi pago pelo Atlético, conforme previsto em contrato, para garantia de matéria-prima.
A última versão da proposta vencedora tem data de 31 de agosto de 2012. No mesmo dia, Petraglia encaminhou à Kango uma ordem de serviço autorizando o início do processo de fornecimento. Também é este o dia em que começa a contar o prazo de oito meses para cumprimento do contrato.
Diferentes em valores, os orçamentos também divergem no quantidade de assentos. O contrato assinado pela CAP S/A prevê que a Kango forneça ao clube 43.981 unidades. O orçamento da Mackey foi elaborado em cima de 42.186 cadeiras, número previsto na planilha anexa à carta-convite que a CAP S/A enviou a 14 empresas do setor, dando início à concorrência.
Aplicadas as mesmas quantidades de cadeiras contratadas junto à Kango (veja gráfico detalhado nesta página) aos preços da Mackey, ainda assim o valor final é menor. O orçamento com impostos fica em R$ 11.283.671,95 – custo sem impostos de R$ 8.501.331,57.
Procurada pela reportagem, a Mackey informou ter realizado a última visita ao Atlético no dia 21 de agosto, momento em que foi solicitado o orçamento da linha top de assentos da empresa. O pedido foi atendido dois dias depois. Somente no dia 18 de setembro a Mackey diz ter sido avisada que havia perdido a concorrência.
“Recebemos um e-mail dizendo que agradeciam o contato e a nossa proposta técnica-comercial, mas que o processo havia sido finalizado e não fomos os escolhidos. Disseram também que se reservam no direito de não informar a empresa vencedora e os critérios para decisão”, afirmou Daniele França, gerente nacional da Mackey.
Daniele diz ter enviado, no mesmo dia, um e-mail, ainda não respondido, perguntando os critérios adotados pela empresa e se a Kango havia sido escolhida.
Na carta-convite, a CAP S/A especificou que não caberia às perdedoras recurso ou pedido de esclarecimento de qualquer natureza.
OUTRO LADO
Ao contrário de nota oficial, clube justifica critério técnico para excluir melhor oferta
O Atlético apontou divergências entre a qualidade dos produtos e as exigências da Fifa e da CAP S/A para descartar a proposta da Mackey na concorrência para equipar a Arena. A justificativa foi apresentada pelo clube, via departamento de comunicação, em resposta enviada por e-mail à Gazeta do Povo, na tarde de sexta-feira.
“A Sanko Meão e a Kango Brasil apresentaram propostas de produto que atende as especificações do projeto arquitetônico do estádio, de acordo com as exigências da Fifa e CAP S/A. A Mackey, por sua própria opção, apresentou orçamento de produto que não atende as especificações. Por este motivo, foi descartada da equalização final das propostas”, disse o clube.
Esta justificativa contradiz explicações dadas pelo próprio clube nos dias anteriores. Nota publicada no site rubro-negro, quinta-feira passada, mencionava que três empresas se adequaram às exigências técnicas.
“Os critérios de avaliação técnica, previamente informados, repetiram estritamente as exigências da Fifa. Três empresas cumpriram os requisitos técnicos estabelecidos pela Fifa”, informava a nota, assinada pelos conselhos Administrativo, Deliberativo, Fiscal e de Ética.
No dia 12 de outubro, o diretor de marketing do Atlético, Mauro Holzmann, e coordenador de suprimentos da CAP S/A, Cristiano Ribeiro, deram explicação similar à Gazeta do Povo. “[Fizemos] Análise de produto, técnica, administrativa e comercial [das propostas]. Critérios que não foram o Atlético e a CAP S/A que definiram, mas que a Fifa impõe para a compra de assentos esportivos. Análise do produto para adequação do projeto arquitetônico. Três empresas conseguiram atender todos esses critérios”, explicou Ribeiro, que citou nominalmente a Mackey como empresa, ao lado da Kango e da Sanko, que atendeu os parâmetros.
O Atlético escolheu a Kango por ela oferecer a melhor combinação qualidade-preço. O clube temia ter problemas com importação do material da Sanko, cuja fábrica é na Europa. A Kango tem sede em Curitiba, o que também pesou. “Existe um compromisso com o governo estadual de comprar o maior números de itens possíveis para a obra em empresas paranaenses, gerando empregos e arrecadação no estado”, informou Holzmann, por e-mail.
Notícia sugerida por José Mosko.